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sexta-feira, janeiro 17, 2020

A praga do politicamente correto e as tradições que somem



Por Cláudio Levada

Vendo a noite bonita de São João, o equivalente cristão às festas pagãs do solstício de verão (no hemisfério norte), que celebravam o sol e a fertilidade, noto que faltam no céu não só os balões que se tornaram delitos – com argumentos corretos, por sinal –, mas também os fogos de artifício, cada vez mais estigmatizados pela crueldade com os animais e pelo sossego da vizinhança.

Sem querer polemizar, e já polemizando, o que mais se vê é o monopólio cultural do politicamente correto. Os fogos não podem, a comida das festas juninas não é saudável, as fogueiras poluem, piada sobre caipira não pode porque discrimina o homem simples do campo etc, etc. O politicamente correto virou uma praga.

Viver está cada vez mais sem graça. Piadas sobre homossexuais para uma parcela da sociedade são crimes; sobre portugueses e sua burrice, idem (burrice que nunca existiu, claro, mas que sempre gerou situações de humor). Falar de loiras é diminuir a mulher, de cabelo duro é racismo, de torcer pela polícia contra o marginal é contra os direitos humanos (se falar que “ainda bem” que um assaltante morreu em um confronto, então, haverá um verdadeiro linchamento moral em prol das vítimas da sociedade capitalista).

E por aí vamos, sempre em proteção às chamadas minorias, que são tantas que esse caráter de minoria tem desaparecido gradativamente: quem não tenha mais do que 60 anos, seja heterossexual, ache que bandido é bandido por opção e deve ser reprimido, não seja da esquerda caviar etc. tem preferido ficar quieto, no seu canto, porque na voz das legiões será ou fascista, ou um nefasto neo liberal opressor, machista, sexista ou sei lá mais que tipo de ser desprezível.

Confesso-me cada vez mais perplexo. Evito piadas, opiniões heterossexuais, brincadeiras com loiras ou com qualquer etnia, soltar estalinho perto de cachorros ou gatos, falar de política, religião ou da saia da vizinha etc etc. Vou me limitar ao futebol, mas sem zoar quem perde, que poderá pedir indenização por danos morais contra mim pela horrível humilhação a que foi exposto; e sem soltar fogos quando for campeão ou ganhar do maior rival, para não ser processado por alguma sociedade protetora dos animais. E se tomar quentão não dirija!!

(*) Cláudio Antonio Soares Levada é Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre/USP e Doutor/PUCSP em Direito Civil. Professor e Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Unianchieta. Professor da Pós-Graduação da PUCSP em Direito Civil. Diretor Jurídico da Associação Paulista dos Magistrados.

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