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domingo, janeiro 05, 2020

Lúcio Preto e o desafio da pedra de gelo



Dezembro de 1989. A cachorrada reunida no Top Bar está dividida em torno de um desafio lançado pelo abusado Lúcio Preto: de que ele é capaz de ficar sentado nu em uma pedra de gelo durante meia hora.

O empresário Frank Cavalcante comanda a turma de 15 pessoas que acham que ele não aguenta.

O boêmio Nei Parada Dura comanda a turma (eu, ele e Lúcio Preto) que acha que ele aguenta.

Começam as apostas, em dinheiro, do tipo “the winner takes it all” (“o vencedor leva tudo”).

Não lembra da canção do ABBA, não?! Ah, tudo bem...

Rubens Bentes e Jones Cunha vão até a Frigelo, ali na final da Rua Carvalho Leal, compram uma pedra de gelo de respeito e retornam ao bar, para tirar a prova dos nove.

A pedra de gelo mede um metro por 50cm.

Calculo que aguenta três pessoas sobre ela, sapateando músicas escandinavas.

Lúcio Preto faz uma única exigência: quer ficar sentado de costas para a Rua Borba, em virtude de existir uma parada de ônibus na frente do boteco.

A exigência é aceita. A pedra é colocada quase no meio-fio da Rua Borba, mas ainda dentro dos limites do bar.

Por volta das 16h de um sábado, Lúcio Preto fica completamente pelado, senta na pedra de gelo, cobre as partes pudendas com a cueca e o resto dos cachorros começa a contar o tempo.

Os transeuntes que passavam em direção à feira livre da Cachoeirinha ficavam intrigados com aquela presepada.

Quando o primeiro ônibus para em frente ao bar, os passageiros fazem um tremendo alvoroço para apreciar aquela inusitada situação.

Lúcio Preto nem aí.

Com 10 minutos, as apostas começam a dobrar.

Meia hora depois do início da prova, o quarto-zagueiro se levanta.

Na pedra de gelo, lindamente esculpida, suas duas nádegas.

Nei Parada Dura começa a receber a grana das apostas.

O dinheiro apurado é suficiente para levar Lúcio Preto para uma consulta na Drogaria Menescal, porque ele não estava mais sentindo a própria bunda.

O farmacêutico Francisco Menescal ficou louco:

– Caralho! Faltou muito pouco para essa tua bunda não começar a entrar em processo de gangrena terminal! Que merda foi que vocês andaram aprontando?...

Nei Parada Dura explica o acontecido.

O farmacêutico receita antibióticos de última geração.

Lúcio Preto passou quase dois meses sem poder beber e sem poder se sentar sobre a própria bunda.

Mas manteve a dignidade de cumprir seus desafios, apesar de tudo.

Sem contar que, com a grana das apostas, ele comprou um fusquinha azul do empresário Louro Sarará, amigo do Frank Cavalcante.

Assim nascem as lendas.

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