Até o Papa Francisco a
perdeu, no dia 1º de janeiro deste ano.
Deu um chega-pra-lá numa “fiel”
pentelha. E nós?
Por Mouzar Benedito
Nestes tempos em que qualquer discordância é motivo para querer matar alguém ouso fazer uma reclamação que vai na contramão do pensamento racional e lógico: uma parcela grande dos brasileiros está tendo paciência demais.
Um governo que vai destruindo a Previdência, o sistema educacional, o sistema de saúde, o meio ambiente, os Direitos Humanos e tudo que veio sendo construído há muito tempo, com toda muito trabalho e muita paciência, deveria ter feito a gente perder a tal de “santa paciência” e sair às ruas, como os chilenos fizeram, mas não. Continuamos com uma paciência bovina, vendo tudo desmoronar.
Alguns podem lembrar – como coisa positiva – a tal de “paciência de Jó”.
Segundo a Bíblia, Deus resolveu testar a fé de um sujeito, o Jó, e foi detonando a vida dele, para ver se ele ia se revoltar. Mas ele permanecia fiel. Foi progressivamente perdendo tudo o que tinha: seu rebanho de ovelhas, seus camelos… E manteve sua fé. Depois, seus filhos, sua mulher… E continuou fiel ao Deus que lhe castigava só por uma espécie de vaidade.
Como prêmio, recebeu rebanhos em dobro, pôde casar-se de novo e ter outros filhos. A paciência dele, então, foi premiada! Viva! Acho o cúmulo da escrotidão essa história toda. Ora, e os filhos e a mulher que morreram, sem motivo algum? Que se danem, né? Amor à mulher e aos filhos não valem nada? Ou valem uma indenização em dinheiro, em rebanho, riquezas enfim? O dinheiro compensa tudo!
Bom… Fiquei curioso sobre provérbios e o que disseram filósofos, escritores, artistas e todo tipo de gente sobre a paciência. Sabia que ia encontrar frases louvativas, de pessoas “tementes a Deus”, que recomendam o exemplo de Jó, e também gente que diria que “a paciência é revolucionária”, mas esperava encontrar muitas gozações e contestações sobre a paciência, e me decepcionei. Até que existem, mas são muito poucas.
Enfim, aí vão as frases que coletei. Escolhi umas com as quais concordo, mas também outras que vão contra o que queria encontrar:
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Stanislaw Lec: “Você tem que ter muita paciência para aprender a ter paciência”.
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Ditado português: “Paciência tem limite”.
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Edmund Burke: “Há um limite onde a paciência deixa de ser uma virtude”.
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Madame de Staël: “O segredo da ordem social reside na paciência dos outros”.
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Simone de Beauvoir: “Mesmo com toda libertação feminina, essa ‘paciência’ que nos caracteriza nunca deve acabar. É uma riqueza de infinitos alcances que aumenta os poderes de paz do universo”.
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Vitor Caruso: “A paciência é uma forma de hipocrisia para uso próprio”.
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Lewis Carroll: “Somos tão pacientes conosco mesmo, que nunca nos irritamos com a nossa própria estupidez”.
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Adélia Prado: “Eu mesmo não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa, só pensando, pensando e sentindo”.
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Carlos Drummond de Andrade: “Não é fácil ter paciência diante dos que a têm em excesso”.
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Drummond, de novo: “O povo não costuma perder a paciência porque ela é seu único bem”.
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Gandhi: “Perder a paciência é perder a batalha”.
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Ditado popular: “Quem não tem paciência não cozinha pedra”.
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Provérbio chinês: “Espere com paciência, ataque com rapidez”.
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Ambrose Bierce: “Paciência: uma forma menor de desespero, mascarada de virtude”.
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Marquês de Maricá: “A paciência, em muitos casos, não é senão medo, preguiça ou impotência”.
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Luc de Clapiers Vauvernargues: “A paciência é a arte de esperar”.
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Martha Medeiros: “Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação”
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Anne Frank: “O papel tem mais paciência do que as pessoas”.
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Ditado popular (para responder a quem fica falando que a gente tem que ter paciência): “Paciência é o nome de uma vaca velha”.
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Provérbio persa: “A paciência é uma árvore cujas raízes são amargas, mas os frutos são saborosos”.
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Barão de Itararé: “Cúmulo da paciência: fazer um galo na cabeça e ficar acordado até de madrugada, esperando que cante”.
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Fabrício Carpentier: “O problema é que a paciência parece falta de interesse”.
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Cora Coralina: “Há muros que só a paciência derruba. E há pontes que só o carinho constrói”.
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Francisco Manuel de Melo: “Não há estado tão triste no mundo que não haja outro mais triste com que aquele possa consolar-se”.
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Machado de Assis: “Suporta-se com paciência a cólica do próximo”.
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Ditado popular: “Pela paciência se vai à alegria e pela impaciência à dor”.
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Tati Bernardi: “E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo para aumentar minha loucura”.
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Caio Fernando Abreu: “Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Perda de tempo, paciência e sentimento”.
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Clarice Lispector: “Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída”.
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Ditado popular: “A paciência é unguento para todas as chagas”.
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Charles Chaplin: “Aprendi que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas aprendi também que posso ir muito além dos limites que eu próprio coloquei”.
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Isaac Newton: “Se fiz descobertas valorosa, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento”.
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Beethoven: “Tenho paciência e penso: todo mal traz consigo algum bem”.
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Provérbio árabe: “Senta-te à tua porta e verás passar o cadáver do teu inimigo”.
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Giacomo Leopardi: “A paciência é a mais heroica das virtudes, justamente por não ter nenhuma aparência heroica”.
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Benito Perez Galdoz (escritor espanhol): “O dinheiro é ganho por todos aqueles que, com paciência e boa observação, vão atrás daqueles que o perdem”.
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Ditado popular: “Quem não tem paciência, não cozinha pedra”.
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Confúcio: “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”.
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Maomé: “Deus criou a mulher de uma costela de um osso torto. Se procurares endireita-la, quebrará. Tenham pois paciência com as mulheres”.
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Provérbio português: “Ao marido, prudência; à mulher, paciência”.
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Leon Tolstói; “O tempo e a paciência são dois eternos beligerantes”.
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Ralph W. Emerson: “Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência”.
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Ditado popular: “Com paciência e perseverança, tudo se alcança”.
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Fernando Sabino: “… E viver, afinal, é questão de paciência”
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Camões: “Não se pode ter paciência com quem quer que lhe façam o que não faz”.
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José Sarney (quando lhe disseram que Itamar Franco tinha o “pavio curto”): “Nada melhor do que a presidência para esticar o pavio.
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Margaret Thatcher: “Sou extraordinariamente paciente – desde que as coisas sejam feitas do meu jeito”.
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Ditado popular: “Com paciência o céu se ganha”.
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Horácio: “A paciência torna mais leve o que a tristeza não cura”.
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Joseph Joubert: “A paciência é a única solução para males que não têm solução”,
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Ditado popular: “Paciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.
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Renato Kehl: “A impaciência é sinal de fraqueza; a paciência de força, de inteligência”.
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Immanuel Kant: “A paciência é a fortaleza do débil, e a impaciência a debilidade do forte”.
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Camilo Castelo Branco: “A paciência é a riqueza dos infelizes”.
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Guimarães Rosa: “Não por orgulho meu mas antes por me faltar o raso de paciência, acho que sempre desgostei de criaturas que com pouco se contentam”.
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Guimarães Rosa, de novo: “Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente”.
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Ditado popular: “A paciência é a mãe da boa vontade”.
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Millôr Fernandes: “Se certas pessoas tivessem um pouquinho de paciência, pensassem um pouquinho mais, acabavam pensando antes de falar”.
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Ataulfo Alves (no samba “Vai, mas vai mesmo”):
“Vai, vai mesmo.
Eu não quero você mais.
Tenha a santa paciência,
Ponha a mão na consciência,
Deixe-me viver em paz”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
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