Pesquisar este blog

sexta-feira, janeiro 24, 2020

Haja paciência!



Até o Papa Francisco a perdeu, no dia 1º de janeiro deste ano. 
Deu um chega-pra-lá numa “fiel” pentelha. E nós?

Por Mouzar Benedito

Nestes tempos em que qualquer discordância é motivo para querer matar alguém ouso fazer uma reclamação que vai na contramão do pensamento racional e lógico: uma parcela grande dos brasileiros está tendo paciência demais.

Um governo que vai destruindo a Previdência, o sistema educacional, o sistema de saúde, o meio ambiente, os Direitos Humanos e tudo que veio sendo construído há muito tempo, com toda muito trabalho e muita paciência, deveria ter feito a gente perder a tal de “santa paciência” e sair às ruas, como os chilenos fizeram, mas não. Continuamos com uma paciência bovina, vendo tudo desmoronar.

Alguns podem lembrar – como coisa positiva – a tal de “paciência de Jó”.

Segundo a Bíblia, Deus resolveu testar a fé de um sujeito, o Jó, e foi detonando a vida dele, para ver se ele ia se revoltar. Mas ele permanecia fiel. Foi progressivamente perdendo tudo o que tinha: seu rebanho de ovelhas, seus camelos… E manteve sua fé. Depois, seus filhos, sua mulher… E continuou fiel ao Deus que lhe castigava só por uma espécie de vaidade.

Como prêmio, recebeu rebanhos em dobro, pôde casar-se de novo e ter outros filhos. A paciência dele, então, foi premiada! Viva! Acho o cúmulo da escrotidão essa história toda. Ora, e os filhos e a mulher que morreram, sem motivo algum? Que se danem, né? Amor à mulher e aos filhos não valem nada? Ou valem uma indenização em dinheiro, em rebanho, riquezas enfim? O dinheiro compensa tudo!

Bom… Fiquei curioso sobre provérbios e o que disseram filósofos, escritores, artistas e todo tipo de gente sobre a paciência. Sabia que ia encontrar frases louvativas, de pessoas “tementes a Deus”, que recomendam o exemplo de Jó, e também gente que diria que “a paciência é revolucionária”, mas esperava encontrar muitas gozações e contestações sobre a paciência, e me decepcionei. Até que existem, mas são muito poucas.

Enfim, aí vão as frases que coletei. Escolhi umas com as quais concordo, mas também outras que vão contra o que queria encontrar:

* * *

Stanislaw Lec: “Você tem que ter muita paciência para aprender a ter paciência”.

* * *

Ditado português: “Paciência tem limite”.

* * *

Edmund Burke: “Há um limite onde a paciência deixa de ser uma virtude”.

* * *

Madame de Staël: “O segredo da ordem social reside na paciência dos outros”.

* * *

Simone de Beauvoir: “Mesmo com toda libertação feminina, essa ‘paciência’ que nos caracteriza nunca deve acabar. É uma riqueza de infinitos alcances que aumenta os poderes de paz do universo”.

* * *

Vitor Caruso: “A paciência é uma forma de hipocrisia para uso próprio”.

* * *

Lewis Carroll: “Somos tão pacientes conosco mesmo, que nunca nos irritamos com a nossa própria estupidez”.

* * *

Adélia Prado: “Eu mesmo não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa, só pensando, pensando e sentindo”.

* * *

Carlos Drummond de Andrade: “Não é fácil ter paciência diante dos que a têm em excesso”.

* * *

Drummond, de novo: “O povo não costuma perder a paciência porque ela é seu único bem”.

* * *

Gandhi: “Perder a paciência é perder a batalha”.

* * *

Ditado popular: “Quem não tem paciência não cozinha pedra”.

* * *

Provérbio chinês: “Espere com paciência, ataque com rapidez”.

* * *

Ambrose Bierce: “Paciência: uma forma menor de desespero, mascarada de virtude”.

* * *

Marquês de Maricá: “A paciência, em muitos casos, não é senão medo, preguiça ou impotência”.

* * *

Luc de Clapiers Vauvernargues: “A paciência é a arte de esperar”.

* * *

Martha Medeiros: “Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação”

* * *

Anne Frank: “O papel tem mais paciência do que as pessoas”.

* * *

Ditado popular (para responder a quem fica falando que a gente tem que ter paciência): “Paciência é o nome de uma vaca velha”.

* * *

Provérbio persa: “A paciência é uma árvore cujas raízes são amargas, mas os frutos são saborosos”.

* * *

Barão de Itararé: “Cúmulo da paciência: fazer um galo na cabeça e ficar acordado até de madrugada, esperando que cante”.

* * *

Fabrício Carpentier: “O problema é que a paciência parece falta de interesse”.

* * *

Cora Coralina: “Há muros que só a paciência derruba. E há pontes que só o carinho constrói”.

* * *

Francisco Manuel de Melo: “Não há estado tão triste no mundo que não haja outro mais triste com que aquele possa consolar-se”.

* * *

Machado de Assis: “Suporta-se com paciência a cólica do próximo”.

* * *

Ditado popular: “Pela paciência se vai à alegria e pela impaciência à dor”.

* * *

Tati Bernardi: “E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo para aumentar minha loucura”.

* * *

Caio Fernando Abreu: “Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Perda de tempo, paciência e sentimento”.

* * *

Clarice Lispector: “Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída”.

* * *

Ditado popular: “A paciência é unguento para todas as chagas”.

* * *

Charles Chaplin: “Aprendi que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas aprendi também que posso ir muito além dos limites que eu próprio coloquei”.

* * *

Isaac Newton: “Se fiz descobertas valorosa, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento”.

* * *

Beethoven: “Tenho paciência e penso: todo mal traz consigo algum bem”.

* * *

Provérbio árabe: “Senta-te à tua porta e verás passar o cadáver do teu inimigo”.

* * *

Giacomo Leopardi: “A paciência é a mais heroica das virtudes, justamente por não ter nenhuma aparência heroica”.

* * *

Benito Perez Galdoz (escritor espanhol): “O dinheiro é ganho por todos aqueles que, com paciência e boa observação, vão atrás daqueles que o perdem”.

* * *

Ditado popular: “Quem não tem paciência, não cozinha pedra”.

* * *

Confúcio: “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”.

* * *

Maomé: “Deus criou a mulher de uma costela de um osso torto. Se procurares endireita-la, quebrará. Tenham pois paciência com as mulheres”.

* * *

Provérbio português: “Ao marido, prudência; à mulher, paciência”.

* * *

Leon Tolstói; “O tempo e a paciência são dois eternos beligerantes”.

* * *

Ralph W. Emerson: “Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência”.

* * *

Ditado popular: “Com paciência e perseverança, tudo se alcança”.

* * *

Fernando Sabino: “… E viver, afinal, é questão de paciência”

* * *

Camões: “Não se pode ter paciência com quem quer que lhe façam o que não faz”.

* * *

José Sarney (quando lhe disseram que Itamar Franco tinha o “pavio curto”): “Nada melhor do que a presidência para esticar o pavio.

* * *

Margaret Thatcher: “Sou extraordinariamente paciente – desde que as coisas sejam feitas do meu jeito”.

* * *

Ditado popular: “Com paciência o céu se ganha”.

* * *

Horácio: “A paciência torna mais leve o que a tristeza não cura”.

* * *

Joseph Joubert: “A paciência é a única solução para males que não têm solução”,

* * *

Ditado popular: “Paciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

* * *

Renato Kehl: “A impaciência é sinal de fraqueza; a paciência de força, de inteligência”.

* * *

Immanuel Kant: “A paciência é a fortaleza do débil, e a impaciência a debilidade do forte”.

* * *

 Camilo Castelo Branco: “A paciência é a riqueza dos infelizes”.

* * *

Guimarães Rosa: “Não por orgulho meu mas antes por me faltar o raso de paciência, acho que sempre desgostei de criaturas que com pouco se contentam”.

* * *

Guimarães Rosa, de novo: “Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente”.

* * *

Ditado popular: “A paciência é a mãe da boa vontade”.

* * *

Millôr Fernandes: “Se certas pessoas tivessem um pouquinho de paciência, pensassem um pouquinho mais, acabavam pensando antes de falar”.

* * *

Ataulfo Alves (no samba “Vai, mas vai mesmo”):

“Vai, vai mesmo.

Eu não quero você mais.

Tenha a santa paciência,

Ponha a mão na consciência,

Deixe-me viver em paz”.

***

Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.

Nenhum comentário: