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terça-feira, novembro 28, 2006

ARTUR GOMES E A POESIA EM CARNE VIVA




















Artur Gomes nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de agosto de 1948. Poeta, ator e artista gráfico, acumula uma bagagem de 25 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas.

Seu livro Couro Cru & Carne Viva foi premiado no Concurso Internacional de Poesia da Universidade de Laval-Quebec, Canadá, em 1987. Poemas do seu Suor & Cio são partes dos objetos de estudo para tese de Doutorado em Antropologia do Historiador Jorge Santiago, em Paris.

Criador da Mostra Visual de Poesia Brasileira, em 1983. Em 1993, com a realização pelo SESC-SP da MVPB – Mário de Andrade 100 Anos, em São Caetano do Sul e Santo André, foi premiado, junto com a Revista Livrespaço de Poesia, pela APCA, na categoria realização cultural do ano.

Criador do Projeto Retalhos Imortais do SerAfim Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, realizado em Campos dos Goytacazes (junho 95), Ouro Preto (julho 95), São Paulo (outubro 95) e São Caetano do Sul (novembro 95).

Durante os meses de julho de 1995 e 97, foi uma das atrações do Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto, mostrando sua arte gráfica, poética e teatral. Foi um dos poetas selecionados para o projeto Poesia 96, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Viajou com o seu Ateliê de Performances por diversas cidades do país com um espetáculo de Dança.Teatro.Poesia, ao lado da bailarina Nirvana Marinho (Curso de Dança da Unicamp). Foi um dos organizadores da Mostra Euro Latino Americana - Poema Visual, realizada em 96 e 97 na cidade de Bento Gonçalves (RS).

De 27/4 a 1/5 de 1996 coordenou workshop sobre Utopia Versus Realidade Possível, na UNIFRAN, durante o IX Encontro de Estudantes de Arquitetura. Criou o Projeto Uma Viagem Pelas Galáxias de Gutemberg, que resultou na criação da Escolinha de Teatro Alpharrabio em Santo André (SP).

Coordenou o I Seminário - Arte Educação, realizado de 16 a 20/9/96, na Casa de Cultura do Ipiranga (SP). Criou e dirigiu o espetáculo O Dia Em Que a Federal Soltou a Voz e Surgiu um Coro de 67 Vertebrados, montado pela Oficina de Música e Teatro do CEFET-Campos (RJ).

Em 1998, criou e dirigiu os espetáculos Brecht Versus Suassuna e Mendigos Jantam Brecht, ambos montados com alunos da Oficina de Artes Cênicas do CEFET-Campos, com textos de Ariano Suassuna e Bertolt Brecht.

Em 2000, lançou Brazilírica Pereira, A Traição das Metáforas, sua primeira obra de ficção e, em 2002, o CD Fulinaíma - sax, blues e poesia, com Dalton Freire, Luís Ribeiro, Naiman e Reubes Pess, parceiros com quem apresenta espetáculos em espaços culturais de várias cidades brasileiras.

É responsável por alguns dos blogs poéticos mais bem transados da blogosfera:

http://arturgomes.zip.net/

http://carnavalha.zip.net/

http://jurassecretas.zip.net/



antLírica

eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
nem ando na contra capa
do teu disquinho
digital
não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema



Galope

com espada
em riste
galopamos
pradarias
e lutamos
ferozmente
por dois segundos
e meio
tua fúria era louca
que agarrei-me
em tuas crinas
pra não cair na lama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
que quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer.




Lady Gumes African's Baby

meto meus dedos cínicos
no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa
vir a ser surpresa
porque amor não tem essa
de cumer na mesa

é caçador e caça
mastigando na floresta
todo tesão que resta
desta pátria indefesa

ponho meus dedos cínicos
sobre tuas costas
vou lambendo bostas
destas botas NeoBurguesas

porque meu amor não tem essa
de vir a ser surpresa
é língua suja grossa
visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
dessa língua portuguesa.



sousAndrática

leve
ave pena
leve
arara amazônica
breve sobrevoa
rara lâmpada
límpida

azul de zinco
impávida oceânica
cérebro vivo
ofusca
a serra
wall street

cega
bela city desumana

anti passarada
morte
que me roa
ave pena
leve
sousândrade



SampleAndo

o poema pode ser um beijo em tua boca
carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de néon em vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz

na paulista consolação da na água branca barra funda
metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo como a estação da luz

nos vídeosfilmes de TV eu quero um clip
em tuas coxas japa
uma cilada nos teus seios quentes
como uma flecha em tuas costas índia
ninja, gueixa eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na lapa




PunçãoPoÉtica

INs Piração
onde se cata
lixo intacto
remoVendo escombros
de letras por letras corroendo
o vírus letal da veia
clara da gema
como prova
lamparina não clareia
a palavra NÃO poema
Ovo
Ova



Foto

caranguejos explodem

mangues em pólvora
Ovo
de Colombo quebrado

areia branca inferno livre
Rimbaud áfrica virgem
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
jerusalém pagã visitada
atafona.pontal.grussaí
:
as crianças são testemunhas
jesus cristo não passou por aqui



Gomes&Gumes

todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes
se um corta com palavras a outra com corte mesmo
se um é produto da fala a outra do ódio a esmo

todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas asas brilhante de vagalumes
se em um a linguagem é sacana
na outra o corte é estrume
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes

se em um peixe é palavra na outra o brilho é cardume
é fio estrela na lavra mal cheiro vício costume
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes

se em um a coisa é sagrada ofício provindo das vísceras
na outra a fé é lacrada hóstia servida nas missas
se em um é cebola cortada aroma palavra carniça
na outra o ferro, é tempero fé cega - fome amolada
– poema é só desespero



Tecidos sobre a pele

Terra
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida

entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha,

amada
de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca
no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio

o que me dói
é ter-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade

ó terra
incestuosa de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante

minha terra
é de senzalas tantas
entrerra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta - avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo - o vão
- estreito em cada porta




Usina


mói a cana
o caldo
e o bagaço
Usina
mói o braço
a carne
o osso
Usina
mói o sangue
a fruta
e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço

e do alto da casa grande
os donos do engenho
controlam:

- o saldo e o lucro.


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