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quinta-feira, novembro 23, 2006

OSWALD DE ANDRADE, O PAPA DOS POETAS MARGINAIS
















Oswald, Maria Antonieta Alkimin, Oswald Filho e Marília

Oswald de Andrade foi uma das vozes renovadoras da poesia brasileira do séc. 20. O poeta que fundou uma linguagem transgressora, buscando libertar o verso das amarras da falsa erudição, e, ainda por cima, uma falsa erudição importada da Europa. E foi na Europa, numa janela qualquer de Paris, que ele descobriu o Brasil e suas peculiaridades, seus fantasmas, suas metáforas, suas cores, sua língua. O mais moderno e polêmico dos modernistas fundiu poesia e prosa, riu de si e de seus patrícios, criando para a literatura tupiniquim uma nova via onde a brasilidade emergiu como o elemento fundamental.

José Oswald de Souza Andrade nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890 e morreu em 22 de outubro de 1954, também em São Paulo. Formou-se em direito em 1919. Publicou seus primeiros trabalhos no semanário paulista de crítica e humor intitulado "O Pirralho", que ele mesmo havia fundado em 1911. O semanário o tornou conhecido como um escritor combativo e polemista. Em 1920, fundou o jornal "Papel e Tinta".

Oswald foi, junto de Mário de Andrade, um dos principais responsáveis pela Semana de Arte Moderna de 22, ano em que publicou "Os Condenados" (de a "Trilogia do Exílio"). Sobre sua vida de homem de letras, o próprio Oswald afirmou certa vez: "Literariamente, minha carreira foi tumultuosa. Pode-se dizer que se iniciou com a Semana de Arte Moderna em 1922. Publiquei, então, 'Os Condenados' e 'Memórias de João Miramar'. Descobri o poeta Mário de Andrade, do que muito me honro. Iniciei o movimento Pau-Brasil, que trouxe à nossa poesia e à nossa pintura sua latitude exata. Daí passei ao movimento antropofágico, que ofereceu ao Brasil dois presentes régios, 'Macunaíma', de Mário de Andrade e 'Cobra Norato', de Raul Bopp. O divisor de águas de 1930 me jogou do lado esquerdo, onde me tenho conservado com inteira consciência e inteira razão".

O movimento Pau Brasil se deu em 1924 e o Movimento Antropofágico em 1928. Ambos tiveram a divulgação do programa estético feito por Oswald. Filiou-se ao PCB, em 1930, após a revolução, e rompeu com o mesmo em 1945. Continuou, porém, sendo de esquerda. Em 1931, quando dirigia o jornal "O Homem do Povo", foi várias vezes detido. Em 1939, representou o Brasil no Congresso dos Pen Clubes realizado na Suécia. Foi o orador do Centro Acadêmico XI de Agosto.

Prestou concurso para a cadeira de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP com a tese "A Arcádia e a Inconfidência". Obteve o título de livre-docente, em 1945. Oswald foi panfletário, polemista, crítico, ensaísta, romancista, contista e poeta e foi também, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais desconcertantes da literatura brasileira. Sua arte, segundo Roger Bastide, "não é uma arte de análise, mas uma arte de síntese, de construção poética".

Por ocasião da Descoberta do Brasil

escapulário

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia

Bucólica (de São Martinho)

Agora vamos correr o pomar antigo
Bicos aéreos de patos selvagens
Tetas verdes entre folhas
E uma passarinhada nos vaia
Num tamarindo
Que decola para o anil
Árvores sentadas
Quitandas vivas de laranjas maduras
Vespas

RP1

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi


ditirambo

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

Postes de Light

música de manivela

Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida
Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma

Discos a todos os preços

pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Lóide Brasileiro

canto do regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorgeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como o de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

As Quatro Gares

adolescência

Aquele amor
nem me fale

Cântico dos Cânticos
Para Flauta e Violão

relógio

As coisas vão
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As
horas
Vão e vêm
Não em vão

Memórias Sentimentais de João Miramar

Verbo Crackar*

Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós
protestais por preferência
Eles escafedem a massa

Sê pirata
Sede trouxas


Abrindo o pala
Pessoal sarado.

Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.

(* verbo inventado, baseado no crack da Bolsa de Nova York em 1929)


Serafim Ponte Grande

Fim de Serafim

Fatigado
Das minhas viagens pela terra
De camelo e táxi
Te procuro
Caminho de casa
Nas estrelas
Costas atmosféricas do Brasil
Costas sensuais
Para vos fornicar
Como um pai bigodudo de Portugal
Nos azuis do clina
Ao solem nostrum
Entre raios, tiros e jaboticabas.

Para conhecer um pouco mais sobre Oswald, acesse http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/novembro2004/capa272.html

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