Márcio Almeida nasceu em Oliveira (MG), em 1947, e foi muito influenciado por Sebastião Nunes, de quem é compadre e parceiro em vários projetos. Formado em Letras pela UFMG, é professor universitário, publicitário, jornalista e escritor, com vários prêmios na bagagem, entre eles o 1º Prêmio de Poesia Emílio Moura (1977) e o 2º lugar no Concurso de Contos do Paraná (1972).
Ele iniciou sua carreira poética nos anos 60, com o ex-grupo de vanguarda Vix (o poeta Hugo Pontes era um dos membros), por onde publicou o “1º Caderno Mostra”, “Ocopoema”, “ReVIXta” e a revista “Frente”, com diversos autores.
Nos anos 70, publicou “Lavrário” (1971), “Antologia Poética” (1977, em parceria com Pascoal Motta, Geraldo Reis, Antonio Barreto e Ronald Clavel), “As Canções Adiadas dos Nossos Soluços Medrosos” (1979), “Previsão de Haveres na Terra do Puka” (1978) e “O Não Nosso de Cada Dia”.
Nos anos 80, deixou a poesia escrita de lado para dedicar-se à poesia visual, tendo publicado “Não Haverá Míssil de 7.º Dia” (1983), “Orwelhas Negras” (1985, que teve uma edição especial pela Editora Boulder, dos Estados Unidos, em 1986), “Falúdica” (1987) e “Vler” (1988).
A partir de 1986, começou a apresentar-se em performances poéticas com o Grupo Tropa Mineira pelo circuito de bares de Belo Horizonte e em cidades do interior mineiro.
Membro da Comissão Mineira do Folclore, Márcio Almeida foi responsável pela inclusão na Enciclopédia Barsa, em 2002, de um verbete sobre o personagem “Cai n’água”, considerado a maior tradição do carnaval de Oliveira, sua terra natal.
Segundo matéria publicada na Revista da Comissão Mineira de Folclore n.º 21, o poeta fez um registro histórico do Cai-n’água desde sua origem na Antigüidade Clássica. “Àquela época, a máscara era usada nos festins dionisíacos, e chegou, com a história, ao Brasil, através de dois importantes eventos barrocos – o Triunfo Eucarístico, em 1733, realizado
“O Cai-n’água tem origem religiosa: sua indumentária lembra o encapuzado das procissões da Semana Santa em Sevilha, na Espanha, que perdura desde a Idade Média naquele país. O escritor Graciliano Ramos faz referência ao Papangu em sua obra e tudo indica que é o nosso Cai-n’água. Pois ele, agora, é cidadão do mundo em pleno anonimato de sua entidade”, brincou.
ASSASSIGNO
s-obram palavras e traças:
não reverse o veio dantes
e por melhor que o faça.
E joga com dado lance:
Não poete de requenta,
Por mais ilusão alcance.
Não faça mallarmelada,
Não eufemíssil à coice,
E não cante por cantada.
Não confisque mais de cláudio
Nunca re(x)clame dah! Vida,
Não se corrompa por gáudio.
Não holografe em atari,
Não loversonhe as marias,
Não palavre: signatari.
Não lenhe em tom de gregório,
Não ordenhe ofício do aedo,
Nem o público-notório.
Não inverse poema-processo
Não use mel, goma ou, em vinco,
Divã-guarde retrocesso.
Não reenlouqueça os ar(t)naudt,
Não faça da fala fardo,
Não insume com o cocô.
Não caia naquela ou de porre,
Não refaça plagioconda,
Não suje o marfim da torre.
Não bajule a panelinha,
Não se desdenhe de cego,
Não fale nas entrelinhas.
Não antifugue bachstianunes
Não entre – linguagem é grampo,
Não julgue a poesia impune.
Não vá de bandeira-dois,
Não relate as escrituras,
Não esqueça do nome aos bois.
Não geléie de cummings-kaze
Não restréie rimar em Ão,
Não coquetéie a nova fase.
Não se traia, sendo ovídio ou
Subtraie obra do pinico,
Não vaie nunca versuicídio.
Não se iluda sem ver gílio,
Não discursobre o concreto,
Não purguevara ou idílio.
Não redobregue huidobro,
Não prosopopeie os sermões,
Não estruturalize o adobo.
Não urbanize joão cabral,
Seja per-verso: abra o gás.
E cheire as flores do mal.
Não se cordeire em escola,
Não academize ledivo,
Não stanislauda o que assola.
Não chanteie a éluard,
Não diz que a rosa é a rosa,
Não liberte que será tarde.
Resousândrade o discurso,
Não best-seller ou verbete,
Não desmaiakovski os russos.
Não deixe de re-leminski,
Não derrame ode em sarau,
Decubo-versal, kandisky.
Não freudelire breton,
Não escreva, a sério ou à toa,
Não unte a língua de baton.
Não passe por elliotário,
Não (se) banalize em silk.
Não suplemente literário.
Não há vítima ou lição:
Versejar, ora!, não insista,
O melhor poema é o não.
Cai-N’água
Eu sou essa máscara, esse chitão,
e meu rosto, amigo (a), é a cara do povo.
É uma mistura de desespero com inflação,
mãos desempregadas e fome, nada de novo.
Sou o mistério que nunca se explica
por tal dúvida cá dentro e lá fora;
o que fala o indevido, o tapa de pelica,
uma candinha rouca, o que faz hora.
Sou alguma timidez assanhada,
Bruxo de crianças e mágico,
pois o meu avesso é fossa e nada,
pois o meu espelho é josta e trágico.
Meu rosto de povo é muito asceta,
e esse capuz é velho folião,
ele tem o rumo das diretas,
ele quer liberdade, terra e pão.
Sou aquele tanto que cai-n’água
de suor, da chuva e da cachaça,
porque é assim que purga a mágoa
o povo da folia e da desgraça.
Eu sou essa máscara, esse chitão,
folk de Oliveira, crítica dos lodos,
cai-n’água, pato, rua do Cordão,
e, por ser anônimo, me declaro todos.
Canção do exílio
Onde cantam sábios ahs!
Aves que raimundocorreiam
Não borgeiam como em ucbar
Neohfitos & necrófilos
Para os imortais espectros
Baudelaire nas pancárpias
E deliraRtauds nos plectros
Feijoada
Corte bacon em fatias
Desarolhe orelhas de livros
Descarne o paio taveirós
Use só feijoão cabral
Couvenir sem agrotóxico
Ping ly mao no arroz à gregan
Encha com muita lingüiça
Afogue naqueles óleos verdes
Farinha de pau & cordas
Azeite de dandy e vinagretchen
Botalho de pimendonça
3 almanaques de cebolinha
Sal/sA 1 laranja mecânica
E entre em cana à vontade
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