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terça-feira, novembro 28, 2006

MÁRCIO ALMEIDA, O ASSASSIGNO DAS PALAVRAS


















Márcio Almeida nasceu em Oliveira (MG), em 1947, e foi muito influenciado por Sebastião Nunes, de quem é compadre e parceiro em vários projetos. Formado em Letras pela UFMG, é professor universitário, publicitário, jornalista e escritor, com vários prêmios na bagagem, entre eles o 1º Prêmio de Poesia Emílio Moura (1977) e o 2º lugar no Concurso de Contos do Paraná (1972).

Ele iniciou sua carreira poética nos anos 60, com o ex-grupo de vanguarda Vix (o poeta Hugo Pontes era um dos membros), por onde publicou o “1º Caderno Mostra”, “Ocopoema”, “ReVIXta” e a revista “Frente”, com diversos autores.

Nos anos 70, publicou “Lavrário” (1971), “Antologia Poética” (1977, em parceria com Pascoal Motta, Geraldo Reis, Antonio Barreto e Ronald Clavel), “As Canções Adiadas dos Nossos Soluços Medrosos” (1979), “Previsão de Haveres na Terra do Puka” (1978) e “O Não Nosso de Cada Dia”.

Nos anos 80, deixou a poesia escrita de lado para dedicar-se à poesia visual, tendo publicado “Não Haverá Míssil de 7.º Dia” (1983), “Orwelhas Negras” (1985, que teve uma edição especial pela Editora Boulder, dos Estados Unidos, em 1986), “Falúdica” (1987) e “Vler” (1988).

A partir de 1986, começou a apresentar-se em performances poéticas com o Grupo Tropa Mineira pelo circuito de bares de Belo Horizonte e em cidades do interior mineiro.

Membro da Comissão Mineira do Folclore, Márcio Almeida foi responsável pela inclusão na Enciclopédia Barsa, em 2002, de um verbete sobre o personagem “Cai n’água”, considerado a maior tradição do carnaval de Oliveira, sua terra natal.

Segundo matéria publicada na Revista da Comissão Mineira de Folclore n.º 21, o poeta fez um registro histórico do Cai-n’água desde sua origem na Antigüidade Clássica. “Àquela época, a máscara era usada nos festins dionisíacos, e chegou, com a história, ao Brasil, através de dois importantes eventos barrocos – o Triunfo Eucarístico, em 1733, realizado em Ouro Preto, e o Áureo Trono Episcopal, em Mariana, em 1748”, explicou Márcio Almeida.

“O Cai-n’água tem origem religiosa: sua indumentária lembra o encapuzado das procissões da Semana Santa em Sevilha, na Espanha, que perdura desde a Idade Média naquele país. O escritor Graciliano Ramos faz referência ao Papangu em sua obra e tudo indica que é o nosso Cai-n’água. Pois ele, agora, é cidadão do mundo em pleno anonimato de sua entidade”, brincou.


ASSASSIGNO

Nas fileiras das estantes
s-obram palavras e traças:
não reverse o veio dantes
e por melhor que o faça.

A linguagem só se inventa
E joga com dado lance:
Não poete de requenta,
Por mais ilusão alcance.

Não amArele rolls-joyce,
Não faça mallarmelada,
Não eufemíssil à coice,
E não cante por cantada.

Não reboque barrocávila,
Não confisque mais de cláudio
Nunca re(x)clame dah! Vida,
Não se corrompa por gáudio.

Não panfleteie ideologia,
Não holografe em atari,
Não loversonhe as marias,
Não palavre: signatari.

Não venha com requevedos,
Não lenhe em tom de gregório,
Não ordenhe ofício do aedo,
Nem o público-notório.

Não saque a 45
Não inverse poema-processo
Não use mel, goma ou, em vinco,
Divã-guarde retrocesso.

Não provencie a goliardo
Não reenlouqueça os ar(t)naudt,
Não faça da fala fardo,
Não insume com o cocô.

Não vá, não fique na onda,
Não caia naquela ou de porre,
Não refaça plagioconda,
Não suje o marfim da torre.

Não publique o poetego,
Não bajule a panelinha,
Não se desdenhe de cego,
Não fale nas entrelinhas.

Não Tradúzia o neo dos campos
Não antifugue bachstianunes
Não entre – linguagem é grampo,
Não julgue a poesia impune.

Não oswaldolatre perjuras,
Não vá de bandeira-dois,
Não relate as escrituras,
Não esqueça do nome aos bois.

Não leréie pounderação,
Não geléie de cummings-kaze
Não restréie rimar em Ão,
Não coquetéie a nova fase.

Não se distraia, lendo vico,
Não se traia, sendo ovídio ou
Subtraie obra do pinico,
Não vaie nunca versuicídio.

Não bissexte pelo reto,
Não se iluda sem ver gílio,
Não discursobre o concreto,
Não purguevara ou idílio.

Não almaminhe vaz camões,
Não redobregue huidobro,
Não prosopopeie os sermões,
Não estruturalize o adobo.

Não transuje o blanco-paz,
Não urbanize joão cabral,
Seja per-verso: abra o gás.
E cheire as flores do mal.

Não drummondeie substantivo,
Não se cordeire em escola,
Não academize ledivo,
Não stanislauda o que assola.

Não sugarana de rosa,
Não chanteie a éluard,
Não diz que a rosa é a rosa,
Não liberte que será tarde.

Não dê uma de alcagoethe
Resousândrade o discurso,
Não best-seller ou verbete,
Não desmaiakovski os russos.

Não envie desc-arte postal,
Não deixe de re-leminski,
Não derrame ode em sarau,
Decubo-versal, kandisky.

Não pseudografe pessoa,
Não freudelire breton,
Não escreva, a sério ou à toa,
Não unte a língua de baton.

Não faça kilkerrelease,
Não passe por elliotário,
Não (se) banalize em silk.
Não suplemente literário.

Não passe replei, desista,
Não há vítima ou lição:
Versejar, ora!, não insista,
O melhor poema é o não.

Cai-N’água

Eu sou essa máscara, esse chitão,
e meu rosto, amigo (a), é a cara do povo.
É uma mistura de desespero com inflação,
mãos desempregadas e fome, nada de novo.

Sou o mistério que nunca se explica
por tal dúvida cá dentro e lá fora;
o que fala o indevido, o tapa de pelica,
uma candinha rouca, o que faz hora.

Sou alguma timidez assanhada,
Bruxo de crianças e mágico,
pois o meu avesso é fossa e nada,
pois o meu espelho é josta e trágico.

Meu rosto de povo é muito asceta,
e esse capuz é velho folião,
ele tem o rumo das diretas,
ele quer liberdade, terra e pão.

Sou aquele tanto que cai-n’água
de suor, da chuva e da cachaça,
porque é assim que purga a mágoa
o povo da folia e da desgraça.

Eu sou essa máscara, esse chitão,
folk de Oliveira, crítica dos lodos,
cai-n’água, pato, rua do Cordão,
e, por ser anônimo, me declaro todos.

Canção do exílio

Minha terra tem palmérios
Onde cantam sábios ahs!
Aves que raimundocorreiam
Não borgeiam como em ucbar

Neohfitos & necrófilos

Para os conversores de harpas
Para os imortais espectros
Baudelaire nas pancárpias
E deliraRtauds nos plectros

Feijoada

Jogue pérolas aos porcos
Corte bacon em fatias
Desarolhe orelhas de livros
Descarne o paio taveirós
Use só feijoão cabral
Couvenir sem agrotóxico
Ping ly mao no arroz à gregan
Encha com muita lingüiça
Afogue naqueles óleos verdes
Farinha de pau & cordas
Azeite de dandy e vinagretchen
Botalho de pimendonça
3 almanaques de cebolinha
Sal/sA 1 laranja mecânica
E entre em cana à vontade

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