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quarta-feira, junho 01, 2011

Aula 64 do Curso Intensivo de Rock: O tal de Psychobilly


Cena um: show para os internos do Napa State Mental Hospital, um manicômio perto de San Francisco, no verão de 78.

O show foi gravado pela Target Video.

Os loucos (?) sobem no palco, cantam e dançam com Lux, que inicia o show assim: “Algumas pessoas me falaram que vocês eram loucos, mas pra mim vocês parecem normais”.

O bumbo da bateria, em que o logotipo The Cramps balança a cada golpe do baterista, está rasgado.

Os internos dançam ao som de um rockabilly selvagem.

No palco, o vocalista parece Mick Jagger tendo convulsões.

Ele arrisca duetos com um ou outro espectador exaltado que invade o palco, depois abandona a banda e o microfone para ir dançar no meio da galera.

A guitarrista Poison Ivy observa a fuzarca com um sorriso safado.

Cena dois: clipe da música “Bikini Girls With Machine Guns”.

Uma pin-up loira num biquíni de lantejoulas vermelhas, com uma metralhadora nas mãos.

Ela dispara, seu corpo chacoalha.

A parte de baixo do biquíni vai escorregando até os pés.

Deu para começar a entender o fenômeno The Cramps?

Ser um Cramp não é fácil.

Ser um Cramp significa gostar de lixo, amar coisas que a maioria das pessoas acha repulsiva e ridícula.

É necessário amar os filmes classe Z, desses de orçamento reduzido e efeitos especiais de quinta categoria.

É necessário adorar o rock´n´roll cru e básico do rockabilly.

É preciso gostar de coisas que não fazem sentido e de letras que não dizem nada de útil para a humanidade.

Pessoas com todas estas qualidades são raras.


Um dia, em 1972, duas pessoas destas se encontraram. O resultado foram os Cramps.

Tudo começou em Akron, Ohio, numa das zonas industriais consideradas as mais poluídas dos EUA.

O jovem Erik Lee Purkhiser, filho de uma típica família de classe média, passava seu tempo lendo as HQs de terror “Tales From The Crypt”, ouvindo o programa de rádio de Mad Daddy e assistindo na TV ao show de horrores de Ghoulardi.

Com medo de ser convocado para a guerra do Vietnã, Erik resolveu se mandar de Akron.

Pegou seu carro e foi para Sacramento, na Califórnia. Lá foi hippie e andou metido em zen-budismo.

Um dia deu carona na estrada para uma menina, Kristy Marlana Wallace. Foi amor à primeira vista.

Ao contrário de Eduardo e Mônica, Erik e Kristy gostavam das mesmas coisas: filmes de terror, quadrinhos sanguinolentos e muito rockabilly.

Erik voltou para Ohio, levando na carona sua nova namorada.

“Como escolhi o nome artístico Lux Interior? Vi escrito num classificado de carro usado. Era uma abreviação para interior luxuoso. Isso foi em 1973, por aí”, revela Erick.

Um ano e meio depois, já auto-batizados de Lux Interior e Poison Ivy Rorschach, nome retirado de um sonho (Rorschach é também o nome do famoso teste do borrão de tinta), eles se mudaram para Nova York, com a idéia de formar uma banda.

Na cidade, conheceram as bandas do underground: Ramones, Dead Boys, Heartbreakers, Television, Suicide e Blondie.

Lux arrumou emprego numa loja de discos. Lá encontrou o estranhíssimo Brian Gregory, um tiete assumido dos Stooges.

Louco de pedra, fanático por misticismo e vodu, Bryan recomendou como baterista sua irmã, Pam “Balam” Gregory, que apesar de maluquete de carteirinha só agüentou a doideira por alguns meses.

Ela foi substituída por Miriam Linna, uma jornalista, dividida entre os estudos de artes plásticas, ufologia e ocultismo.

A banda estava precisando de um baixista, já que Ivy estava aprendendo a tocar guitarra. Gregory insistiu em também tocar guitarra.

Assim, os Cramps ficaram com dois guitarristas e sem baixista.

Permaneceram sem baixista até 86.


Com essa formação, os Cramps fizeram sua estréia em novembro de 76, no Dia de Finados, abrindo um show do Suicide no lendário CBGB, um moquifo que virou o quartel-general das bandas undergrounds de Nova York.

As músicas dos Cramps falavam sobre filmes trash, gibis e esquisitices em geral.

Lux Interior, o vocalista, podia ser visto em roupas de couro, salto alto, a franja do topete caindo sobre os olhos psicóticos. Não, não era uma drag queen.

Sua esposa, a guitarrista Poison Ivy, apresentava-se com figurino sadomasô: bota, cinta-liga e bustiê de lantejoulas.

Em 1978, Miriam Linna resolveu pedir o boné. Ela se juntou ao guitarrista Lauren Agnelli, na dupla Nervus Rex, e depois ao vocalista Billy Miller, na banda The A-Bones.

Paralelamente, Linna fundou a revista Kicks, especializada em cultura trash, e o selo Norton Records, orientado exclusivamente para bandas de rockabilly dos anos 50.

Enquanto isso, os Cramps recrutaram o baterista Nick Knox, um colecionador de histórias paranormais que iam desde aparições da Virgem Maria até fotografias de fantasmas.

Estava formada a gangue.


No final de 78, lançam seu primeiro single, com as covers de “Surfin’ Bird”, dos Trashmen, e “The Way I Walk”, de Jack Scott.

Seu primeiro álbum, “Gravest Hits”, lançado em 1979, causou furor no circuito underground, apesar de não freqüentar as paradas das rádios comerciais (a pornografia das letras era bastante pesada pra época e a sujeira das guitarras-noise afastava completamente os não-iniciados).

Na Inglaterra, Stephen Morrissey (mais tarde, vocalista dos Smiths) fundou o primeiro fã-clube do grupo.

Nos EUA, atraíram a atenção de Alex Chilton, líder do lendário grupo pop Big Star, que produziu o segundo disco, “Songs The Lord Taught Us”, por um cachê de fome.

Chilton exigiu que a maioria das faixas fosse gravada ao vivo no estúdio.

Lux tratou as gravações como um show: se jogava no chão, destruía cadeiras e pulava sobre os amplificadores.

O álbum, lançado em 1980, abre com a clássica “TV Set”, com sua batida marcial e um riff maravilhosamente imundo.

“Sunglasses After Dark” tem aquela microfonia linda e um solinho new wave que só os Cramps teriam a cara-de-pau de fazer.

“What’s Behind The Mask” tem uma letra hilariante (“Por que você não tira essa máscara? / É problema de pele / Ou você tem um olho a mais?”).

“Garbageman” é outra obra prima. “Zombie Dance” goza da platéia modernosa de Nova York, que ficava parada vendo a banda se matar no palco.

“The Mad Daddy” é uma homenagem a Pete “Mad Daddy” Myers, um DJ de Ohio que Lux idolatrava.

“Mystery Plane” resumia a filosofia da banda na frase “eu não consigo me identificar com este mundo, então não tento nem pelo caralho”.

Incluindo covers dos Sonics, grupo de garagem dos anos 60 (“Strychnine”), do pioneiro do rockabilly Johnny Burnette (“Tear It Up”) e “Fever” (a mesma gravada por Madonna), de Little Willie John, o segundo disco da banda não consegue envelhecer.

Após a gravação do disco, Bryan Gregory deixou os Cramps sem maiores explicações para se tornar dono de uma sex-shop e dedicar-se ao piradíssimo ramo de tatuagens tribais num ateliê freqüentado por motoqueiros barra pesada.

Bryan Gregory era o único membro do Cramps realmente ligado em magia negra.

Ele costumava usar um colar feito de ossos, em que pendurava pequenos recipientes com terra, recolhida dos cemitérios das cidades onde a banda visitava.

Sua saída dá início a um rodízio quase interminável de guitarristas.

Julien Griensnacht, Kid Congo Powers, Ike Knox (primo de Nick) e Clint Mort não funcionaram.


Com as várias novas formações, os Cramps gravaram os demenciais “Psychedelic Jungle” (81) e “Smell Of Female” (83), muito elogiados pelos fãs.

Em 1984, Lux e Poison foram passar as férias numa fazenda em Plainfield, no Wisconsin.

Vinte e sete anos antes, mais precisamente em 17 de novembro de 1957, no mesmo local, Ed Gein foi descoberto pela polícia. Ele havia matado várias pessoas, entre elas a mãe do xerife da cidade, e arrancado suas peles para forrar os móveis de sua casa.

A história de Gein inspirou filmes como “Psicose” (1960), de Hitchcokc, e “O Massacre da Serra Elétrica” (1973), de Tope Hooper, além de músicas como “Deadskin Mask”, do Slayer.

A casa onde Gein “trabalhou” em suas vítimas foi queimada pelos moradores de Plainfield, mas Lux e Poison conseguiram levar como recordação um pedaço da parede da casa, pesando 25 quilos, que guardam até hoje. (Internado em um sanatório, Gein morreu em 26 de julho de 84).

Em 1986, os Cramps lançam o hilariante “Date With Elvis” (86), em que a banda usou pela primeira vez um baixo em uma gravação, com Poison Ivy fazendo às vezes de guitarrista e baixista.

O problema acabaria com a entrada de Candy Del Mar, que assumiu o baixo dos Cramps e estabilizou a formação da banda.

A obsessão por pornografia, sado-masoquismo, fetichismo, voyeurismo e outras sacanagens, com letras vazadas numa linguagem bem chula, típica de estivador de beira de cais, impediu durante quatro anos que o disco dos Cramps sobre o “encontro com Elvis” circulasse naquele que é considerado “o país da liberdade de expressão”.

Também, pudera. Com títulos tão instrutivos e elucidativos quanto “What’s Inside A Girl?”, “The Hot Pearl Snatch”, “Cornfed Dames”, “(Hot Pool Of) Womanneed” e “Can Your Pussy Do The Dog?”, o disco acabou eclipsando até os rappers “bocas-sujas” do nascente gangsta rap.

Os Cramps são uma das poucas bandas da história do rock que podem se orgulhar de realmente ter criado um estilo.

Ao fundir os riffs rockabilly e surf de uma banda como os Ventures com a psicodelia e o peso de um Stooges, a banda criou o “psychobilly”, ou “rockabilly voodoo”.

Sua música suja, agressiva e bem-humorada é hoje uma unanimidade, capaz de agradar de góticos a rockabillies, passando por punks e headbangers.

Pelas letras, dá para se ter uma idéia da filosofia “diversão a qualquer custo” dos Cramps.

Eles esnobam a arte dita séria (“Eu não sei nada de arte/ Mas sei do que eu gosto”, em “I Ain’t Nuthin’ But A Gorehound”, 83), abominam messianismo do rock (“Eu gosto do rock’n’roll maldito/ Aquele que não salva almas”, em “God Damn Rock’N’Roll”, 90) e fazem questão de distinguir das pessoas ditas normais (“As pessoas não gostam de mim/ O porquê eu não sei”, em “People Ain’t No Good”, de 86).

O show dos caras, quem viu garante, é matador.


Poison Ivy, do lado direito do público, mascando chiclete e soltando aquela microfonia que faz o Jesus And Mary Chain parecer a Banda de Pífaros de Caruaru.

À esquerda, Candy Del Mar detonando o baixo trovejante.

Ao fundo, Nick Knox, com cara de quem está permanentemente de saco cheio, segura a batida rockabilly.

No centro, o mestre-de-cerimônias, Lux, só de tanguinha e sapatos de salto alto, fazendo gargarejo com uma garrafa de vinho barato e cuspindo de volta no público, se arrastando feito uma lacraia pelo palco, com metade do microfone enfiado na boca.

De arrepiar.

Os Cramps passaram quatro anos sem tocar na Inglaterra e quatro anos sem lançar um disco.

O silêncio foi quebrado quando a banda assinou um contrato com a EMI. Local escolhido: o túmulo de Bela Lugosi, em Los Angeles.

Com o lançamento do LP “Stay Sick” (1990), a banda se preparava para atrair mais atenção do que nunca.

Prova disso era a inesperada entrada do compacto “Bikini Girls With Machine Guns” nas paradas inglesas.

Quando o grupo desembarcou na ilha para fazer uma apresentação na Brixton Academy, a imprensa inglesa deitou e rolou.

“Nada é mais americano que os Cramps. Nada é mais rock´n´roll que os Cramps. Rock´n´roll demoníaco, intoxicante e, quem diria, engraçado. O humor é uma constante em suas músicas. Seus assuntos favoritos: monstros, discos voadores, voodoo, filmes de terror e sexo”, anotou o NME.

“Em busca de inspiração, os Cramps desenterram o lixo da cultura norte-americana e o colocam no altar do rock’n’roll. Eles dizem adeus à respeitabilidade e incitam à rebelião. Eles inventaram o termo psychobilly. Eles são únicos. Eles são o lado sórdido do sonho americano”, reverberou o Melody Maker.

A aparição da banda no palco é escandalosa.

O baterista Mick Knox, sempre o mais discreto, permanece escondido atrás de seus óculos escuros o show inteiro.

Candy Del Mar, a bem-dotada baixista da banda, assume um ar impassível e masca seu chiclete sem parar.

Poison Ivy, de minissaia e bustiê dourados, faz cara de malvada e consegue rebolar e arrasar na guitarra ao mesmo tempo.

Mas quem estraçalha mesmo é Lux Interior: vestido com calça e jaqueta de látex preto e botas de salto altíssimo, ele é o rei do kitsch.

A base do show é o novo LP. “Pergunta à minha mãe como se faz um monstro”, grita Lux em “The Creature From The Black Leather Lagoon”, parecendo alguém da Família Adams.

Na sequencia, ele se esgoela em “All Women Are Bad”, que tem Adão, Eva, Sansão e Dalila como protagonistas principais.

Lux é tudo o que um entertainer deve ser: carismático, ultrajante, maníaco e uma voz poderosa. Um Iggy Pop perdido no túnel do tempo. Um Nick Cave com senso de humor. Só nesta noite ele quebrou uns quatro microfones!

Dos discos mais antigos, eles tocaram clássicos como “What’s Inside A Girl?” e “Can Your Pussy Do The Dog?”, do LP “Smell Of Female”.

“No final do show dos Cramps parecemos todos vítimas de um furacão: topetes amassados e jaquetas de couro molhadas. Tudo em nome do rock´n´roll”, registrou o Sunday Times.


Em 1994, os Cramps lançam “Flamejob”, considerado o disco mais pop que fizeram até hoje, na tendência dos seus últimos trabalhos, de terem maior apuro técnico (se é que dá para chamar de “apurada” uma guitarra que só toca canções de três acordes).

Todavia, Lux Interior e Poison Ivy não se esqueceram dos temas perversos e pecaminosos de sempre, como nas faixas “Naked Girl Falling Down The Stairs” e “Sinners”.

A rusticidade também marca presença em “Mean Machine” e “Ultra Twist”, o maior destaque do disco.

E ainda há uma hot rod song na melhor tradição de Jan And Dean (“Sado County Auto Show”), além da costumeira cover canastrona – neste caso, a famigerada “(Get Your Kicks On) Route 66”.

De qualquer forma, os Cramps provavam mais uma vez que continuavam a ser a banda que melhor ilustrava o quadrinômio “sexo, drogas, terror & rock’n’roll”.

Em 1997, eles retornaram aos estúdios para cometer “Big Beat From Badsville” fazendo o de sempre. Ou seja, continuavam a ser os mestres absolutos no psichobilly podreira que os celebrizou.

Desde o pique catatônico da faixa de abertura (“Cramp Stomp”), passando pelas tiradas sacanas e o ritmo primal, o que se ouve é um puro álbum dos Cramps.

Ou seja, “Big Beat From Badsville”, apesar de tudo, dos vinte anos nas costas e da banalização da rebeldia, é um disco razoável na carreira dos Cramps, com alguns bons momentos de sangue, suor e sacanagem.

Como nas faixas “God Monster”, “Like A Bad Girl Should” e “Queen Of Pain”.

De quebra tem uma tiração-homenagem a “Sheena Is A Punk Rocker”, dos Ramones. A música virou “Sheena’s In A Goth Gang”.

Por que será que bluesmen como Muddy Waters, Howlin’ Wolf ou John Lee Hooker se tornaram lendários, quando pareciam aos leigos que sempre estavam tocando a mesma música?

Ou pioneiros do rock’n’roll, como Chuck Berry e Bo Diddley, que teimavam em copiar seus riffs de sucesso para garantir outro hit?

Nem mesmo os Beatles e os Rolling Stones saíram ilesos desse esquema autofágico, cujo representante mais ilustrativo talvez tenha sido o grupo nova-iorquino Ramones, por mais de 20 anos lançando músicas supostamente “burras” e iguais.

Todos esses caras já foram duramente acusados de “se repetir”. Mas não se tratava de mera cópia.

Digamos que os artistas citados descobriram a “galinha dos ovos de ouro”, uma fórmula sonora criada por cada um deles – que funcionava!

É o mesmo com The Cramps.


Desde que surgiu, no fim dos anos 70, a banda teve uma exclusiva devoção musical: o psychobilly, ou seja, o rockabilly tocado com urgência frenética e repleto de vocais demenciais.

Tudo cortesia do casal Lux Interior (o cantor, sempre vestido em couro e com acessórios sadomasoquistas) e Poison Ivy Rorschach (a guitarrista com trajes íntimos de pin-up).

Aliada ao som básico, a estética bizarra também se tornou uma marca registrada: o visual e as letras baseados em filmes B de terror e ficção científica, HQ e muita sacanagem cristalizaram a imagem monstruosa da banda, a ponto de ela ser conhecida como a “família Addams do rock”.

Um rótulo que poderia limitar os horizontes do grupo, mas que se tornou uma das principais características dos Cramps.

A formação atual, além de Lux e Poison, inclui o baixista Slim Chance, o baterista Jim Sclavunos e a xota-pra-toda-obra Candy Del Mar, que joga em todas as posições.

Mas é bom que fique claro uma coisa: os Cramps não abraçaram o passado do rock’n’roll por oportunismo, eles simplesmente vivem no passado.

Para Lux e Ivy, o mundo acabou em 1965. Sua missão é mostrar como ele era mais divertido e irresponsável.

O casal, que sempre foi o núcleo criativo da banda, se alimenta vorazmente de cultura trash. E o Brasil, quem diria, entrou nessa receita de influências.

“Assisti a muitos filmes do Coffin Joe (Zé do Caixão). Ele é realmente legal. Vi À Meia-Noite Levarei Sua Alma (nos EUA, At Midnight I’ll Take Your Soul)”, admitiu Lux Interior, em uma entrevista a revista Bizz.

Os Cramps sempre levaram o trash (“lixo”, em inglês) a sério (até onde eles conseguem ser sérios...).

Para Poison Ivy, trash “é o que as pessoas jogam fora porque não sabem o quanto é valioso”.

Na sua visão, o rótulo se aplica tanto a gibis de terror quanto ao catálogo da Sun Records (gravadora que lançou Elvis Presley e outros caipiras roqueiros, antes de o rock virar instituição).

“Quando começamos, coletamos tudo que pudemos achar de velhos LP’s de 45 rotações em lojas de usados: era o único modo de escutar rock’n’roll realmente excitante”, recorda Lux.

Os Cramps tomaram para si uma missão semelhante à dos Ramones: fazer o rock voltar a ser divertido numa época em que o gênero estava virando trampolim para guitarristas exibidos e bateristas egocêntricos.

Mais rockabilly e mais psicodélicos que os Ramones, para quem chegaram a abrir dois shows, retomaram a energia que havia nos pioneiros do rock (incluindo aí a surf music).

“O importante do rock’n’roll é que, quando ele começou, havia o que era chamado de rebelião da juventude”, levanta Lux. E corta: “Isto realmente mudou a cultura e teve muito a ver com um basta ao racismo nos EUA. Pela primeira vez crianças brancas piraram com Little Richard e Chuck Berry, e compreenderam que a música deles era realmente boa”.

De “Gravest Hits” a “Big Beat From Badsville”, o fôlego é o mesmo, apesar dos atuais 50 anos de Lux.

Mas não espere falsa humildade dele.

“Devotamos nossas vidas a tentar fazer as pessoas entenderem o que fazia do rock uma coisa notável. Ser uma grande banda ajuda nisso”, regurgita.

Das bandas que fazem um psychobilly bem arroz com feijão, estas são algumas das que que merecem uma checada no YouTube:

The Meteors, Reverend Horton Heat, My Bloody Valentine, Southern Culture on the Skids, The Gibson Bros., Mojo Nixon, Schockabilly, Guana Batz, New Duncan Imperials, Angry John & The Killbillies, Gun Club, Tav Falco’s Panther Burns, Amazing Royal Crowns, Simon & Bar Sinisters, Dick Johnson, Alien Sex Friend, Honeymoon Killers, Cynics, Nashville Pussy, Garbagemen, The Ruiners, Flacco Rivera, The Horrors, Dura-Deliquent, God Bullies e Demolition Dolls Rods.

Um comentário:

Anônimo disse...

My Bloody Valentine ??????????????