Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, junho 03, 2011
O lendário clube CBGB vai virar filme
Para quem saía do metrô na Bleecker St., no coração do East Village, em Nova York, bastava correr os olhos para o fim da rua, onde ela encontra a Bowery St.
Lá estava o CBGB’s, com o seu famoso toldo onde se lia CBGB (sem o “s”, que foi adotado depois pelos seus freqüentadores), tendo de um lado uma pizzaria e do outro a CBGB’s Gallery.
No prédio acima funcionava um reformatório de mendigos e “sem-teto”.
Esta era a paisagem que cercava um símbolo do rock e da música alternativa, em 33 anos de existência.
No interior, um longo corredor acompanhava o bar que se abria em uma pista em frente ao palco (de apenas um metro de altura).
Fora os letreiros de neon anunciando cervejas e algumas velhas poltronas, não havia muito o que se dizer sobre a decoração.
A não ser pelas paredes, cheias de pichações e cartazes dos shows ao longo dos anos.
“Todo dia, o clube é redecorado”, insistia Hilly Krystal, proprietário e fundador do CBGB’s.
A programação era intensa: de segunda à segunda, cerca de sete bandas por noite.
A única regra para tocar lá é que os grupos tivessem músicas próprias e agissem com profissionalismo.
Em dezembro de 1993, o CBGB’s celebrou a data com um festival.
“Dos artistas que tocaram aqui, procuramos os mais importantes”, comentou Krystal.
David Byrne, The Cramps, Living Colour e Bad Brains fizeram um show registrado para um álbum duplo ao vivo e um documentário.
Quando fundou a minúscula casa de shows em dezembro de 1973, o CBGB & OMFUG (Country Bluegrass and Blues & Other Music For Uplifting Gormandizers), a ideia de Hilly Kristal era atrair músicos e apreciadores da música caipira norte-americana e do próprio blues, estilos que ele acreditava que iriam comandar as paradas de sucesso nos Estados Unidos em 1974.
Porém, ao invés disso, o CBGB (como o clube ficou mais conhecido, ou CBGB´s, como era carinhosamente chamado pelos seus ilustres frequentadores), acabou se transformando no berço do punk rock de Nova York.
“Um dia, membros do grupo Television vieram aqui e pediram para tocar. Concordamos e, se fossem bons, iriam retornar. Cobramos um dólar, não veio ninguém e o show foi horrível. Mas eles me convenceram a colocá-los de novo, desta vez com uns amigos de Queens (os Ramones), que eram ainda piores”, contou Hilly com um sorriso malicioso na boca.
No início de 75, Patti Smith, então mais conhecida como poetisa/ escritora, formou uma banda de rock e foi tocar no CBGB’s, junto ao Television.
Depois vieram Blondie, Talking Heads, Richard Hell And The Voivoids e outros ícones do punk e da new wave.
Nos anos seguintes, uma nova geração de grupos pisou no palco do CBGB’s.
The Cramps tocou lá pela primeira vez em 78.
Sem contar The Heartbreakers, de Johnny Thunders (ex-New York Dolls) e aqueles que vieram na seqüência, como a banda negra de hardcore/ reggae, Bad Brains, além de uma série de lendárias bandas punk: Black Flag, Dead Kennedys, Minutemen...
Foram 33 anos ininterruptos de serviços prestados ao rock and roll.
Quando fechou as portas em outubro de 2006, devido ao cada vez mais salgado preço do aluguel, foi como se estivessem colocando abaixo o Cavern Club do punk rock.
Agora, a história do CBGB será imortalizada também em um filme, que será dirigido por Jody Savin e Randall Miller, tendo como co-produtora Lisa, filha de Hilly Kristal, proprietário da famosa espelunca, falecido em agosto de 2007, aos 75 anos.
A roqueira sessentona Patti Smith fez a última apresentação da casa.
Com a balada “Elegie”, sucesso dos anos 60, ela encerrou o show já na madrugada de um domingo e deixou a platéia aos prantos.
Durante o show, Smith até mudou a letra da canção “Horses” em homenagem ao clube.
A música é da mesma época em que Patti Smith e o CBGB tornaram-se uns aos outros conhecidos.
Ela trocou o refrão “Jesus died for somebody’s sins but not mine” por “Jesus died for somebody’s sins but not for CBGB’s” (“Jesus morreu pelo pecado de alguém, mas não o meu” / “Jesus morreu pelo pecado de alguém, mas não pelo CBGB”).
Segundo o próprio Hilly Kristal, a vizinhança do Bowery achava que o CBGB não se enquadrava mais na paisagem local, hoje uma região revitalizada e que nada lembra o cenário de desgarrados dos anos 70.
Para manter viva a história do clube, o proprietário tinha planos de transferi-lo para Las Vegas, para onde levaria até mesmo o banheiro e os milhares de flyers e pôsteres que decoraram as paredes do CBGB durante seus 33 anos de existência.
Durante a sua passagem por Curitiba em 2006, o baterista Marky Ramone, ao ser perguntado se a despedida do CBGB de Nova York representava o fim de uma era, respondeu: “Eu acho que o fim daquela era foi em 82, 83. O legado do CBGB está espalhado ao redor do mundo, mas ele já não era mais o mesmo de quando a cena punk original começou”.
Marky Ramone tinha razão: mesmo que já tivesse vivido dias melhores, o CBGB tornou-se lendário antes mesmo de fechar as portas.
Havia se tornado uma espécie de Meca, solo sagrado e destino de peregrinação de roqueiros espalhados pelo mundo.
Vale notar ainda a quantidade enorme de bandas que, ao longo desses anos, mesmo após terem alcançado o sucesso, insistiram em se apresentar naquela espelunca que tinha lotação máxima com 200 pessoas.
Também, é significativo o número de artistas que lançaram em disco ou vídeo seus registros “Live In CBGB”. Só citando alguns: J. Mascis, Agnostic Front, Cro-Mags, Vibrators, Dead Boys, Bad Brains, Korn, DRI, Living Colour, DNA, Ritual Tension, Celibate Rifles, Kraut, Chelsea, Special Duties e até mesmo os Ratos de Porão.
O CBGB era incontestavelmente uma peça chave da cultura pop.
Na época da morte de Hilly Kristal, e por consequência do fim da história da casa de shows, o guitarrista da E Band, Little Steven Van Zandt, traduziu bem o sentimento de muitos a respeito: “O rock and roll vai sentir saudades dele”.
Cronologia básica
31.03.74 – O Television faz o primeiro show no clube. O grupo tocaria lá em várias datas até junho, inclusive junto a Patti Smith – então só poetisa/escritora.
16.08.74 – Os Ramones apresentam-se pela primeira vez no local.
14 e 15. 02.75 – Acontece a estréia do Patti Smith Group.
28.02 a 02.03.75 – Despedida dos New York Dolls, com abertura do Television, pela última vez com Richard Hell.
10.05.75 – Os Talking Heads fazem sua primeira série de shows.
16.07 a 02.08.75 – Acontece o Festival Of Unrecorded Talents, com a maioria das bandas que se projetou no clube.
14 e 15.02.76 – A banda Blondie estréia como headliner da casa.
23.07.76 – The Heartbreakers, de Johnny Thunders, faz o seu début.
18.11.76 – Richard Hell And The Voivoids estréiam na casa.
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Um comentário:
Cara, amei o post , mais uma pena que o lendário CBGB tenha fechado
:( eu particularmente sou uma adepta total ao punk rock, e sinceramente como adolescente vejo que infelizmente a música já não é a mesma nos dias atuais, mais ao menos temos muitas bandas lendárias dentro deste meio, que nunca vão morrer, como no caso dos Ramones que eu gosto pra caramba, Punk rock, mais que um ritmo, e sim uma vida e suas historias! :)
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