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segunda-feira, dezembro 19, 2011
Bares são referências entre pontos turísticos de Belo Horizonte
Por Raquel Freitas, do G1
Uma frase virou ditado popular entre os belo-horizontinos: “se não tem mar, vamos para o bar”.
Na cidade onde não faltam “botecos”, com mais de 12 mil, segundo associação do setor, o visitante encontra roteiros que conciliam mercados, praças, parques e museus, tudo logo ali, bem pertinho dos locais que motivaram o apelido ‘capital mundial dos bares’.
Se “botecar” virou verbo no dicionário do belo-horizontino já faz tempo, o apelido foi aprovado em lei municipal recentemente: em 2009.
A oficialização ocorreu oito décadas depois da inauguração do Tip Top, o bar mais antigo ainda em funcionamento na cidade, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG).
Fundado por um romeno e uma tcheca, hoje é administrado por uma ex-cliente, Teresa Recorder Gonçalves, que, aos 10 anos, começou a frequentar o estabelecimento junto com o pai.
Teresa ampliou o cardápio, que tem como destaque o salsichão com salada de batata.
O prato é o preferido entre os visitantes da casa localizada na Rua Rio de Janeiro, no bairro de Lourdes.
Bem perto dali, a cerca de 600 metros, fica a Praça da Liberdade, um dos principais pontos turísticos da cidade.
Inspirado no Palácio de Versalhes, na França, a praça foi projetada para abrigar a sede do poder mineiro.
É ladeada por edifícios históricos e pelos traços modernistas de Niemeyer e pós-modernistas de Sylvio de Podestá e Éolo Maia.
Hoje, abriga um circuito cultural, iniciativa que transformou antigos prédios públicos em espaços para o fomento à cultura.
Tip Top oferece cardápio baseado na culinária alemã
Dali, bastam dez minutos de caminhada para se chegar ao Mercado Central.
O cartão-postal também foi inaugurado em 1929, no mesmo ano do Tip Top, e oferece um pouco de tudo: produtos artesanais, artigo para decoração, iguarias gastronômicas da culinária mineira e, claro, bares.
É tradição ir ao mercado para comer fígado acebolado com jiló, servido para os clientes, em pé, no balcão dos botecos.
Em outro ponto da capital, vale incluir no passeio por Belo Horizonte a visita a um prédio residencial com galeria de bares e lojas.
É o Edifício Maletta, o primeiro na cidade a ter escada rolante.
Lá dentro fica a Cantina do Lucas, tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da cidade.
O bar começou a funcionar em 1962, com o nome de Chopplândia.
Cinco anos depois da abertura, foi assumido pela família Lucas e ganhou fama com clientes ilustres.
O administrador do restaurante, Edmar Roque, lembra que o bar ficou conhecido por reunir intelectuais e artistas desde a década de 1960.
Às mesas, sentavam-se nomes como os escritores Pedro Nava e Murilo Rubião, além da turma do Clube da Esquina.
Nesta época, o local também era ponto de encontro de militantes de esquerda contrários ao regime militar.
“O Lucas era uma tribuna livre, tinha toda uma liberdade para as pessoas se expressarem. O seu Olympio, que era comunista convicto, era o grande protetor desta turma. Sempre que via alguém estranho dava um jeito de avisar com um código vindo do cardápio: hoje não tem filé à cubana”, relata.
O senhor a quem Roque se refere é Olympio Peres Munhoz, garçom que ajudou a consolidar a tradição da casa, servindo aos clientes, por 39 anos, pratos baseados na culinária internacional e adaptados ao gosto do freguês.
No cardápio, destacam-se o macarrão parisiense, o filet à parmegiana e o surprise à moda (filé à milanesa, recheado com presunto e muçarela, risoto ou arroz à piamontese, banana, batata frita e dois ovos fritos).
E para acompanhar, cerveja gelada.
Ao lado do Edifício Maletta está o Centro de Cultura Belo Horizonte, com salas de leitura, acesso gratuito à internet e espaço para exposições.
O prédio é patrimônio estadual e municipal.
Os imóveis que abrigam o Centro de Cultura e a Cantina do Lucas estão no coração de Belo Horizonte, a dois quarteirões da Avenida Afonso Pena, uma das principais da cidade e onde é instalada, aos domingos, a Feira de Artesanato, apelidada pelos belo-horizontinos de Feira Hippie, conhecida principalmente pela venda de roupas, calçados e bijuterias.
Ao percorrer a avenida em direção ao bairro Mangabeiras, já se pode avistar a Serra do Curral, coberta por flora diversificada, com espécies do cerrado e da mata atlântica.
Ao pé da Serra do Curral está a Praça do Papa, de onde se tem uma das mais belas vistas da cidade.
Originalmente batizada de Israel Pinheiro, ganhou o apelido após a visita do Papa João Paulo II, em 1980.
Também fazem parte do circuito turístico do Mangabeiras o mirante, o Museu das Telecomunicações e a Rua do Amendoim.
Muitas lendas rondam a via, onde os carros ‘sobem’ mesmo desligados, apesar de tudo não passar de ilusão de ótica.
O mirante do Mangabeiras tem uma das mais belas vistas da capital
Do alto do bairro Mangabeiras, o horizonte é tão amplo que é possível avistar a Região da Pampulha, onde está localizado o restaurante mais antigo em funcionamento em Belo Horizonte, segundo a Abrasel-MG.
No Maria das Tranças, especializado em comida mineira, o frango ao molho pardo é o principal prato.
O estabelecimento foi criado em 1950 por Maria Clara Rodrigues.
Um dos clientes mais ilustres destas seis décadas foi o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que acabou se tornando amigo da fundadora.
Fotografias nas paredes registram as idas ao restaurante para saborear o prato típico.
Como prefeito de Belo Horizonte, na década de 1940, JK deu início ao Complexo Arquitetônico da Pampulha. Primeiramente, foi construída a lagoa, com 18 quilômetros de extensão de orla.
Frango ao molho pardo do Maria das Tranças conquistou até o ex-presidente JK
Num outro bairro da capital, a tradição dos botecos está ligada à boa música.
O Santa Tereza, na Região Leste, ficou conhecido como o reduto da boemia.
Lá surgiram o Clube da Esquina, o Sepultura e a banda Skank.
Em quase todas as ruas, bares antigos e alguns novos atraem público diversificado.
Em frente à Praça Duque de Caxias e perto da matriz, o bar e restaurante Bolão ocupa, desde 1961, um dos pontos mais conhecidos do bairro.
Rochedão é um dos pratos mais pedidos do Bolão
A família Rocha é dona do Bolão, e sete irmãos dividem as tarefas.
O prato mais servido é o Rochedão, com arroz, feijão, bife, ovo e fritas ou espaguete.
O preço ajuda a deixar o restaurante sempre cheio, atendendo uma média de 400 pessoas por dia.
De acordo com o proprietário Sílvio Rocha, com R$ 17 é possível comer bem no Bolão.
O aposentado Paulo Azevedo Reis, natural do Sul de Minas, escolheu o bairro para morar e o bar para passar os fins de tarde.
Há 40 anos, o aposentado pode ser encontrado no balcão à espera de um bom papo.
“Eu era bancário e, depois do expediente, vinha para cá tomar duas, três cerveja. Hoje, sou aposentado, mas mantenho o horário de depois da seis da tarde. Eu fico aqui no balcão porque, se sento, parece que quero ficar isolado”, conta Paulo.
A poucos minutos dali, o visitante pode conhecer a Praça da Estação, construída em 1904 e hoje revitalizada.
O prédio da estação do metrô abriga o Museu de Artes e Ofícios (MAO), com acervo de mais de duas mil peças, entre objetos, instrumentos e utensílios de trabalho do período pré-industrial brasileiro que contribuem para contar a história da evolução do mundo do trabalho.
De acordo com a diretora de promoção Turística da Belotur, Stella de Moura, os bares já fazem parte da tradição da cidade e têm atraído cada vez mais turistas.
“Na realidade, a questão dos bares é uma tradução do nosso estilo de vida, que pode ser comprovada em números. Eles são uma opção de lazer que os turistas têm curiosidade em conhecer”, afirma.
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