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quinta-feira, dezembro 22, 2011

Relembrando o saudoso Chico Pacífico


Redação do Amazonas em Tempo, anos 90. Em pé, Aniceto e Chico Pacífico (apontando para o céu). Sentados: Mário Adolfo, Sebastião Reis, Fernando Ruiz e esse vosso escriba, curtindo um jogo do Botafogo no Boteco do Omar

No final dos anos 70, a redação do jornal A Notícia foi transferida para a Estrada do Contorno, no Japiim, nas proximidades do Distrito Industrial.

Em pouco tempo, os jornalistas descobriram um pequeno restaurante que servia uma comida caseira de qualidade razoável, localizado na rua Tefé, nas proximidades da fábrica Sonora, e passaram a almoçar no recinto.

Para agradar a nova clientela qualificada, Rubão Melo, o proprietário do restaurante, ia todo dia à mesa dos jornalistas para receber sugestões sobre o cardápio, checar a qualidade do atendimento, o tempo de espera, essas coisas.

Um belo dia, mais abusado do que mulher na menopausa, o fotógrafo Clóvis Silva cortou da linha de três pontos:

– Companheiro, o seu restaurante serve uma comida muito boa e a gente faz a maior propaganda dele entre os nossos amigos. Eu só reclamo de uma coisa: aqui não tem sobremesa!

Uma semana depois, o Rubão já havia providenciado uma série de sobremesas e ia pessoalmente à mesa dos jornalistas anotar os pedidos:

– Creme de cupuaçu! –, dizia Ernesto Coelho.

– Creme de graviola! –, dizia Altair Capitari.

– Doce de mamão verde! –, dizia Raimundo Nonato.

– Pudim de ameixa! –, dizia Paulo Henrique.

– Frapê de côco com calda de chantilly! –, dizia Sebastião Lima.

O restaurante estava quase se transformando em uma rotisserie, já que os jornalistas estavam ficando cada vez mais abusados.

Frequentador esporádico do restaurante, o jornalista Chico Pacífico, sempre que era inquirido sobre a sobremesa, limitava-se a fazer uma pergunta:

– Tem doce de laranja em lata?

– Não, ainda não temos! – explicava, gentilmente, Rubão. “Mas me dê um tempo, que vou providenciar!”.

Chico Pacífico dispensava a sobremesa e pedia um cafezinho.

Disposto a agradar o jornalista, Rubão Melo batia pernas em supermercados, mercearias, tabernas, feiras livres e o diabo a quatro, mas ninguém tinha o produto.

Encontrar doce de laranja em lata, em Manaus, era mais difícil do que acertar na megasena acumuldada.

Um dia, Rubão soube que um amigo estava de viagem para São Paulo e não teve dúvidas: encarregou o sujeito de comprar cinco caixas de doce de laranja em lata e despachar pra Manaus, com frete a cobrar.

Uns 20 dias depois, a mercadoria foi entregue.

Eram cerca de 50 latas de 3,2 kg, sobremesa suficiente para Chico Pacífico forrar o bucho pelo resto da vida.

Em uma sexta-feira, solícito como sempre, Rubão se aproximou da mesa dos jornalistas para anotar os pedidos da sobremesa: goiabada Cascão com queijo de Minas, frapê de mamão papaya com licor de cassis, pudim de tapioca com macaxeira, doce de abacaxi com cobertura de chocolate, sorvete de mangaba com creme holandês e por aí afora.

– Tem doce de laranja em lata? – questionou Chico Pacífico, mais uma vez.

O rosto de Rubão se iluminou.

– Temos, temos sim, e está bem geladinho! –, derreteu-se Rubão.

– Você já comeu doce de laranja em lata? –, insistiu o jornalista.

– Não, ainda não comi não! –, devolveu Rubão, cada vez mais gentil.

– Então abre uma lata, come um pedaço e me diz se isso não é a maior merda já produzida no Brasil em termos de doce... Que doce de lata escroto! Tem um gosto horrível, meio amargo, meio azedo! Não sei como alguém pode ter coragem de comer uma bosta dessas! – explicou o jornalista, se levantando para ir embora.

Foi preciso uns quatro jornalistas segurarem o Rubão pra ele não moer o Chico Pacífico de porrada.

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