Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quinta-feira, dezembro 22, 2011
Sonhos de Tatoo
Março de 1984. Sentado em uma cadeira de balanço na frente de sua “fortaleza”, localizada no conjunto D. Pedro I, o bicheiro Ivan Chibata estava apreciando o movimento da rua quando avistou um marombeiro com físico de Mr. Universo desfilando apenas de sunga verde limão e arrastando pela coleira um invocado cão pitbull.
O sujeito trazia várias tatuagens tribais espalhadas pelos braços musculosos e, ocupando toda a sua costa, um gigantesco dragão alado brigando com uma fênix.
As cores quentes da tatuagem eram simplesmente exuberantes.
Quando viu aquilo, o franzino e raquítico Ivan pirou o cabeção e resolveu interpelar o sujeito:
– Meu amigo, me desculpe importuná-lo, mas essa sua tatuagem é magnífica! Magnífica! É uma autêntica Capela Sistina de Michelângelo! Deu muito trabalho pra fazer?...
– Não, até que não. Ficou pronta em três meses! – devolveu o “saradão”.
– E doeu muito? – insistiu Ivan.
– Não, não doeu não. O tatuador era da melhor qualidade! – explicou o sujeito, dando um comando para o pitbull se sentar e permanecer quieto, ouvindo a conversa dos dois.
Ivan foi em frente:
– Me diz uma coisa: qualquer pessoa pode ser tatuada?
– Qualquer pessoa. Basta não sofrer de doença da pele nem ser diabético.
– Eu estou perguntando isso porque sempre quis fazer uma tatuagem, mas nunca tive coragem.
– Eu posso te dar o endereço do Charles Tatoo, ali no Parque Dez, pra você conversar com ele. Em dez minutos, você vai criar coragem para fazer uma tatuagem.
– É mesmo? – espantou-se Ivan Chibata, os olhos brilhando. “E que tipo de tatuagem você acha que cai bem nesse meu braço direito?...”
O sujeito examinou detidamente o braço do bicheiro e cantou a pedra:
– Eu acredito que dê pra fazer uma cobra cipó...
Ivan se encrespou:
– Qual é, porra? Tu tá me tirando, é? Tu tá me tirando?...
– Que tirando o que, porra! Eu estou sendo sincero! – falou duro o “saradão”. “Nesse teu bracinho cadavérico de criança desnutrida de Biafra, o máximo que dá pra fazer é uma cobra cipó e olhe lá...”
Aí, deu um novo comando no pitbull e foi embora.
Ivan Chibata nunca mais quis saber de tatuagens.
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