Sempre que a gente conversava sobre o cenário musical da nossa aldeia, o saudoso escritor Antonio Paulo Graça fazia questão de dizer que o compositor, cantor e poeta João Cândido dos Santos Rodrigues (aka “Candinho”) era o melhor letrista da taba.
“As letras dele possuem uma dramaticidade intensa, uma forte carga emocional, mas em nenhum momento resvalam para o sentimentalismo barato de poetastros pretensiosos”, explicava Paulinho.
Nascido em Manaus, no dia 25 de agosto de 1958, Candinho é formado em Letras (1987) e Ciências Contábeis (1993) pela Universidade do Amazonas e, quero crer, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal (CEF).
Digo isso porque, em dezembro de 1991, recém-demitido da Philco, eu estava no meio de 5 mil desempregados, em um posto da CEF, na Praça 14, para entregar os documentos necessários para a obtenção do meu suado FGTS (minha senha era a de nº 7575. Lembro disso porque quando sai de lá joguei essa dezena no jogo do bicho, mas em vez de pavão deu camelo. Não se pode ganhar todas!), quando fui localizado pelo Candinho.
Ele me saudou com a cordialidade típica dos simpatizantes do Partidão, coisa que nunca escondeu de ninguém:
– E aí, camarada, o que qui você está fazendo aqui nessa confusão da muléstia?
Expliquei o meu drama.
A gente se conhecia apenas de vista, mas o Candinho agiu como se fosse um verdadeiro amigo de infância: pegou meus documentos, entrou em uma das salas e, em menos de 15 minutos, estava devolvendo minha autorização para passar no caixa e receber a bufunfa.
Não fosse essa ajuda providencial e eu teria ficado acampado no posto da CEF por, no mínimo, 72 horas, como, imagino devem ter ficado meus companheiros de infortúnio.
Ficamos amigos de infância, claro.
Na semana passada, Candinho, sua esposa e parceira Inês, Mestre Pinheiro e mais um grupo de amigos foram participar de uma cantoria em um sítio localizado no lago do Miriti, em Manacapuru.
Eu estava na Princesinha do Solimões e, não ter sido convidado para participar da esbórnia, me soou como uma ofensa pessoal do homeboy Mestre Pinheiro.
Ontem, sexta-feira, Mestre Pinheiro se redimiu.
Meu brother Jaques Castro estava em Manaus, vindo de Ipixuna, para participar de um seminário sobre diretores de hospitais promovidos pela Susam.
Trouxe a tiracolo a mais antiga parteira do município, a carismática Elisa Mota, mãe de 12 filhos, avó de 26 netos (sim, o pessoal de Ipixuna gosta do esporte...) e dotada de uma simpatia contagiante.
Com mais de 2 mil partos no currículo, Dona Elisa foi eleita a melhor parteira do Amazonas.
Jaques resolveu homenageá-la com um churrasco na casa da sua irmã, Ângela Castro, ali na estrada dos Franceses.
Ele convidou o quarteto fantástico (eu, Simas, Lourencinho e Mestre Pinheiro) para acompanhá-lo no fuzuê.
Mestre Pinheiro convidou o Candinho, que estava participando de uma cantata natalina lá pras bandas do bairro da Bethânia, mas que acabou aportando no pardieiro por volta das 22h.
A exclusivíssima lista de biriteiros incluía Eduardo Capixaba e sua esposa Suely, Eliana, Cláudia, Auxiliadora, Selma (esposa do Jaques), Simone e Sônia.
Só na casa da Ângela foi que ficamos sabendo que o sempre jovial José Roberto Pinheiro estava completando 60 anos de idade.
A churrascada, claro, virou uma esbórnia sem limites, com o Candinho desfiando seu repertório clássico e mostrando porque é verdadeiramente o melhor letrista do Amazonas.
Aliás, em outubro deste ano, Candinho foi um dos destaques no concurso “Manaus e Poesia”, promovido pela Academia Amazonense de Letras (AAL), sendo um dos ganhadores do evento com o poema “Uma canção para Manaus”, que ele fez questão de declamar para nosotros.
Foi aplaudido de pé.
Biritar no meio de amigos, tendo como fundo sonoro o dedilhado mágico e a cantoria do Candinho, continua sendo um grande programa cultural na aldeia de São José do Rio Negro.
Sorry, periferia!
Abaixo, algumas fotos da fuzarca.
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