Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, dezembro 30, 2011
Curso Intensivo de Black Music? No, thanks!
Via e-mail, o cangaceiro potiguar Ronilson Linhares, de Caicó (RN), me paga a seguinte sugesta:
Ilustre Simão Pessoa
Antes de mais nada, quero dizer que gostei muito do Curso Intensivo de Rock que você publicou no seu blog.
Foi uma verdadeira viagem musical através dos tempos.
Que tal você repetir a dose com um Curso Intensivo de Black Music?
Seus muitos fãs iriam curtir de montão, principalmente depois daquele show de bola que foi a postagem sobre o lendário Studio 54.
Fico no aguardo e lhe desejo um ano novo de muitas realizações!
MC Ronil Crazy Horse
NOTA DO EDITOR DO MOCÓ
Meu caríssimo Cavalo Louco, eu não sei se terei disponibilidade para a tarefa já que se a profecia maia vingar terá sido um esforço absolutamente inútil.
De qualquer forma, tentarei postar os textos do livro “Funk: a música que bate”, publicado em 1998, cujo prefácio transcrevo abaixo:
Nascido em 1956 e criado no bairro da Cachoeirinha, em Manaus, confesso que tive muita sorte de pertencer à geração que acompanhou, mesmo a distância, todas as mudanças que ocorreram no cenário musical do planeta.
Com cerca de dez anos, assisti ao filme “Os Reis Do Iê-Iê-Iê”, no Cine Ipiranga, e fui contagiado pela beatlemania.
Para gostar dos Rolling Stones, bastou ouvir “Satisfaction” pela primeira vez.
Em 1970, com 14 anos, terminando o ginásio no Colégio Batista Ida Nelson, me apaixonei pelo heavy metal de Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabath.
Continuo apaixonado por estas bandas até hoje.
Aos 17 anos, terminando o curso de Eletrotécnica na ETFA, era um compulsivo dançarino de funk, que havia descoberto na casa de um amigo do bairro, Luiz Lobão, através dos discos de James Brown, George Clinton e Sly Stone.
Aos 18, já fazendo Engenharia Eletrônica na UTAM, enlouqueci por uma música do Eric Clapton (“I Shot The Sheriff”), descobri o reggae e fiquei fissurado por um sujeito chamado Bob Marley.
Comprei quase todos os seus discos.
Um ano depois, era DJ residente de uma boate no bairro da Raiz (“Privé”), DJ regra-três da boate Danilo’s, na Silva Ramos, e frequentador ocasional da Boate dos Ingleses (“The In Crowd Club”, hoje “Turbo Seven Club”, ou simplesmente “TS”), que funciona há quarenta anos ali perto do Cais do Porto.
Acabei contaminado pela dance music de Donna Summer, Gloria Gaynor e Barry White.
Aos 20, morando com três malucos (Jaques Castro, César Abu e Rui Johnny Mathis), já gostava de música eletrônica (Kraftwerk, Roxy Music, Emerson, Lake & Palmer) e do glam rock de Kiss, Sweet e Slade.
Quando, em 77, os requebrados do John Travolta incendiaram as multidões no frenético filme “Os Embalos De Sábado À Noite”, aquela cena, pra mim, não era mais novidade.
Há pelo menos cinco anos, a nossa turma já fazia aquelas estrepolias, participando das extintas “brincadeiras” (as festinhas particulares da época) com uma coragem de pilotos kamikazes.
O ritual era sempre o mesmo.
A cachorrada (eu, Luiz Lobão, Renato Doido, Carlinhos, Gilmar, Louro, Kepelé, Gilson Cabocão, Betinho, Paulo César Dó, Heraldo Cacau, Airton Caju, Chico Porrada, Nonato Índio, Áureo Petita e Marcos Pombão) se reunia na tarde de sábado no Top Bar, do “seo” Aristides, e, depois de muita “meia de seda” (meia garrafa de cachaça, meia lata de leite condensado e meio pacote de ki-suco de groselha), analisava as opções.
Mais tarde, após selecionar alguns discos dançantes que levávamos a tiracolo, íamos batalhar o dinheiro da condução, da birita e do cigarro, nessa ordem de importância.
O que nós roubamos de cobre e alumínio dos quintais da vizinhança para vender no “Médico das Bonecas”, ali na Curva da Morte, daria para privatizar a Eletrobrás.
Voltávamos a nos reunir às oito da noite, para pegar o ônibus e sair em busca do Paraíso, que tanto podia estar no Cafundó de São Francisco como na longínqua (na época) Cohab-AM do Parque Dez.
Freqüentar esses locais ermos e pouco habitados, para nós, tinha a mesma sensação de aventura quanto caçar rinocerontes brancos em um safári africano.
Havia uma explicação lógica.
Éramos espadas-matadores da maior competência e, depois de termos esgotado todas as possibilidades femininas no nosso bairro, decidimos invadir as searas alheias.
Quando retornávamos pra casa, de madrugada, completamente bêbados (mas felizes), parecíamos os Warriors, aquela gangue do filme “Os Selvagens Da Noite”.
Bons tempos, zifio, bons tempos...
Com os três cachorros citados anteriormente, o buraco era mais embaixo.
Eu, Jaques e César trabalhávamos na Sharp (na época, a maior fábrica do Distrito Industrial, com cerca de 5 mil fêmeas disponíveis) e nosso único trabalho era rebocar meia dúzia de vadias, toda sexta-feira, para os embalos frenéticos no nosso “apertamento”, lá no bairro da Glória.
A ferveção era total porque o minúsculo apartamento estava localizado exatamente sobre o forno de uma padaria, nas proximidades do Matadouro Municipal.
Resultado: só dava pra dançar no nosso matadouro particular se todo mundo ficasse pelado, o que quase sempre acontecia.
A lembrança daquelas orgias faraônicas ainda me deixa completamente arrepiado.
Bons tempos, mainha, bons tempos...
Mas já que falei no continente africano, não custa lembrar que praticamente toda a MPP (Música Popular Planetária) tem um pé (às vezes os dois) na África, apesar do continente-mãe continuar vivendo à margem econômica de sua descendência cultural.
Mesmo que devotos das origens, como o jamaicano Peter Tosh, tenham pregado em versos como o de “African” que “não importa de onde você venha, se você é negro, é africano”, o real é que a música oriunda da matriz sempre recebeu um tratamento periférico das filiais onde se desenvolveu.
Com o funk (a música negra dançante por excelência) não foi diferente.
Este livro procura mapear como se deu a inserção do funk dentro da indústria fonográfica mundial e o seu desdobramento posterior, fragmentando-se em vários ritmos aparentados entre si, mas apreciados por pessoas de contextos sócio-econômicos extremamente diferenciados.
Do hip hop, que embalava os crioulos do South Bronx nova-iorquino ao big beat, que agita a juventude branca nas raves inglesas, passando pelo gangsta rap, o lado mais barra pesada do hip hop, até o guitar dance, que juntou guitarras elétricas a baterias eletrônicas, tudo foi abordado, contextualizado e passado a limpo.
A exemplo do livro “Rock: a música que toca”, de 1996, sobre a história do rock, os textos aqui presentes também são fruto de uma nova pirataria jornalística, desta vez vitaminada pelas novas tecnologias emergentes.
Explico melhor.
Além dos suplementos culturais dos jornais, das revistas especializadas, de livros importados e dos fanzines, também utilizei a Web como fonte de pesquisa, invadindo sites alheios e me apropriando de informações que julgava serem pertinentes ao tema.
Três anos foram consumidos na garimpagem e remasterização do presente material.
Espero que o esforço tenha valido a pena.
Dos jornalistas que tiveram seus textos sampleados na maior cara-de-pau, estes são os verdadeiros bichos da goiaba verde: Marcel Plasse, Pepe Escobar, Roberto Muggiati, Pedro Alexandre Sanches, Rui Castro, Erika Palomino, Guto Barra, Leandro Fortino, Marcelo Negromonte, Camilo Rocha, Paulo Vieira, Katia Zero, Marcelo Rezende, Patricia Decia, Silvio Essinger, Tom Leão, Antonio Carlos Miguel, Jamari França, Carlos Calado, Sérgio Martins, Celso Pucci, Rodrigo Brandão, José Augusto Lemos, Rogério de Campos, Andrea Estevam, Carlos Albuquerque, Greg Kot e Christopher John Farley.
Os textos estão dispostos em uma seqüência natural, o que facilita a percepção de como a música negra foi evoluindo ao longo do tempo.
Mas nada impede que você pule os textos que julgar desinteressantes e ir direto ao que lhe interessa.
No mais, boa viagem, “brothers and sisters”!
MC Simão Pessoa
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