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sábado, dezembro 24, 2011

Na farra com o Ivan Chibata (1)


Abril de 1986. Durante uma cachaçada no Bar Popeye, na estrada dos Franceses, o bicheiro Ivan Chibata conheceu o violonista Dino Sarará.

Foi amor a primeira vista.

O exímio violonista conhecia todo tipo de música de seresta.

Ivan Chibata queria ser um novo seresteiro.

O bicheiro contratou o violonista a peso de ouro para acompanhá-lo em suas noitadas de boemia pelos bares da cidade.

O violonista, entretanto, era manhoso: quando queria encerrar a esbórnia, ele dava uma lapingochada tão violenta no violão que, invariavelmente, quebrava uma das cordas.

Fingindo consternação, ele dava o bote final:

– Olha, Ivan, você me desculpa, mas não sei tocar violão faltando uma das cordas...

Aí, chamava um táxi e se mandava.

Nas duas primeiras vezes em que aconteceu a presepada, o bicheiro, claro, ficou puto.

A noite estava apenas começando.

Na terceira vez, quando o violinista se preparava para ir embora, o bicheiro puxou da cintura um Colt 44 com cabo de madrepérola, apontou pra cabeça do sujeito e pediu pra ele ficar na mesa.

Aí, chamou Vladimir Teixeira, o “Brother”, seu secretário informal, lhe entregou a chave do carro e cantou a pedra:

– Me traz aquele presente que comprei pro Dino!

Brother voltou com uma caixa de papelão.

Dentro da caixa, 100 jogos de cordas pra violão, 50 de cordas de aço, 50 de cordas de nylon.

A caixa foi colocada em cima da mesa.

– Dino, meu filho, você pode quebrar quantas cordas quiser que agora nós temos peças de reposição! – avisou Ivan Chibata, em tom paternal, com o revólver ainda apontado pra cabeça do violonista. “Eu sei que a mudança de corda vai modificar a afinação original, mas você pode afinar em ré, em mi, em sol, pode afinar na puta que pariu, que eu não estou nem aí. A única coisa que você não pode fazer, meu filho, é se levantar da mesa e ir embora. Você está sendo pago pra me acompanhar, entendeu?...”

Nervosíssimo, o violonista assentiu com a cabeça e começou a trocar a corda arrebentada do violão.

Passou 48 horas seguidas tocando para o bicheiro pelos botecos da cidade, sem quebrar uma única corda.

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