Silvio Navarro
Se constassem da agenda oficial, seria possível contabilizar
com precisão o espantoso número de voos feitos pela presidente Dilma Rousseff
na rota Brasília-São Paulo, em busca de algum conselho mágico de Luiz Inácio
Lula da Silva para sobreviver à tormenta na qual o criador lançou a criatura.
O trajeto foi repetido na última sexta-feira pela senhora
dos dias mais tristes da história democrática do Brasil. Mas a motivação da
viagem foi inédita. A Dilma que embarcou a jato para o encontro com Lula não
procurava ajuda. Pela primeira vez, a aprendiz tentaria consolar o feiticeiro.
O homem que sempre se imaginou ungido pelos deuses para
mandar no mundo não tem nada mais a tirar da cartola. E está só. Nos últimos
anos, seus melhores escudeiros passaram (alguns ainda estão passando e
passarão) dias difíceis dividindo a latrina da cadeia.
Companheiros de rapinagem, como José Dirceu, Delúbio Soares
e João Vaccari Neto, além dos crupiês que cuidavam das cartas marcadas do
petrolão, encontraram pela frente uma Justiça implacável. Tiveram o mesmo
destino lobistas, doleiros e office-boys de luxo da distribuição de propinas em
malas e cuecas.
Sem o véu da impunidade, Lula sequer pode aparecer nas do
ABC paulista. Nem mesmo desfrutar do frango com polenta: seu restaurante favorito
fechou as portas no começo do ano por causa da crise econômica.
Tampouco pode fazer confidências sobre os dias ruins a
Rosemary Noronha, a chefe do gabinete semiclandestino da presidência da
República afastada de cena pela descoberta de coisas impróprias nas gavetas
numa das tantas operações da Polícia Federal.
É difícil não poder telefonar para o melhor amigo e convidar
para um churrasco no sítio em Atibaia. O pecuarista José Carlos Bumlai, dono do
crachá mais VIP da República e especialista em empréstimos suspeitos, também
foi parar na gaiola.
Lula está impedido até de frequentar o sítio, já que teria
de explicar por que nunca declarou que aquele ‘puxadinho’ foi erguido e
decorado pela ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Uma saída seria um fim de semana à beira-mar, assando um
peixe na churrasqueira do triplex no Guarujá. Mas neste verão também não vai
dar: os amigos Leo Pinheiro e Marcelo Odebrecht estão presos, e o ex-presidente
não pode ir para lá só com a família: afinal, o mega-apartamento também não faz
parte do patrimônio oficial dos Lula da Silva.
Sem opções, Lula tem gastado tardes degustando chá de
camomila e água com gás nas conversas enfadonhas com Rui Falcão, a companhia
menos desejada da política brasileira, que até pouco tempo atrás nunca havia
sido convidado sequer para almoços de rotina.
Sempre existirá o “Japonês”, é verdade. Ainda que Paulo
Okamoto seja um samurai às avessas no quesito princípios, é dotado de lealdade
canina. Foi o que sobrou. Por enquanto, porque ninguém sabe o que acontecerá
nas próximas fases da Lava Jato.
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