Valentina de Botas
O próprio Roland Barthes esclarece que não pretendia
explicar ou definir o amor em “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, mas capturar
como ele se apresenta nas enunciações do amante, nos atos enunciativos do
enamorado que, no livro, funcionam como epígrafes de verbetes. Para isso, o
autor se valeu de fontes como Goethe, Platão, Proust, Lacan e Freud numa
representação do todo apreendida dos fragmentos.
Quando leio trechos de mensagens, conversas, depoimentos e
frases dos envolvidos nas investigações da Lava Jato, de Lula, dos advogados
deles e outros defensores, penso como, à semelhança do livro delicioso de
Barthes, esses fragmentos representam um todo claramente apreensível.
Os participantes do discurso asqueroso aparecem ou
reaparecem em fragmentos diferentes unificado pela linguagem do lulopetismo – o
esbulho da nação, em valores materiais e imateriais, para servir a uma seita e
respectivos sócios; o Estado tornado um ente a serviço do partido; o país
arruinado em roubalheira, incompetência e na obsessão da manutenção do poder.
Esse fenômeno que hospeda na alma um cio patológico, à
disposição do qual ata o país, impede qualquer solução; essa força cega e bruta
de bicho quando quer procriar nos trouxe a uma crise múltipla que o governo não
quer resolver porque se gasta na obsessão ineficaz de se manter no poder; não
sabe resolver porque incompetente; e, se competente fosse, não resolveria
porque não tem credibilidade.
O PT se ocupa em salvar o próprio dono e investirá
furiosamente na ruína do país para livrar o jeca que jamais se levantará da
tumba moral. Fragmentos das falas de Dilma Rousseff sobre o Aedes aegypti
(rebatizado por ela de Aedes egipsi) reafirmam que um governo incapaz de fazer
mal a um mosquito continua, como o antecessor, indiferente ao drama de cada
brasileiro que depende do sistema público de saúde.
No fragmento da fala de Marco Aurélio Garcia, especialista
na moral inóspita ao sofrimento alheio, referir-se ao triplex como “fubango”
não apenas tripudia dos milhares de bancários roubados pela Bancoop – eis aí
quem acha que gente humilde não pode ter apartamento na praia –, como também
informa que a indignidade da coisa não é a coisa toda indigna, mas o baixo
valor dela.
O programa Roda Viva debater a crise é importante como
registro das análises lúcidas que identifiquem o governo fubango de substância
moral repugnante como sinônimo da crise e serem consideradas quando esse
discurso asqueroso for silenciado.
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