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segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Escritor amazonense lança livro após Carnaval e prepara um novo romance para editora Record


“Tudo que escrevo é mentira pura. Só que minha personalidade é muito forte e as pessoas acabam criando confusão”, diz Diego Moraes

Rosiel Mendonça, do site acritica.uol.com.br

Ele recusa qualquer pinta de bom moço e diz que sonha em falar de poesia no “Faustão”. O escritor Diego Moraes, que já se definiu nas páginas do Bem Viver como um “garrancho lírico”, volta a lançar mão de metáforas para falar de si: “Sou uma espécie de Woody Allen que escreve coisas para atuar em seus próprios filmes”. Desta vez, ele anuncia o lançamento do seu novo livro, que sairá depois do Carnaval pela editora Penalux.

“Meu coração é um bar vazio tocando Belchior” reúne novas poesias e pequenas prosas divididas em frequências hertzianas. Ainda fiel a um estilo de escrita com lances cinematográficos, como se cada jogo de palavras bem sacadas se materializasse como uma película diante dos olhos, o autor amazonense se debruça sobre temas típicos do seu universo literário: amor, sacanagem e “brutolismo” (brutalidade + lirismo).

“Trata-se de um livro verborrágico e lírico. São contos que falam de prostituição, alcoolismo e milagres beirando o realismo mágico. Inclusive, tem um conto em que o protagonista escuta Belchior no peito de uma prostituta”, adianta. No caso de um filme, que atores Diego escalaria para esses papéis? Apesar de a experiência com cinema ser um desejo antigo, o autor garante que o momento atual é só da literatura.

Ruas, motéis, bares e biqueiras de Manaus e São Paulo, onde ele tenha estabelecido alguma forma de presença, são cenários comuns na literatura de Moraes. Mais recentemente, ele passou a escrever em primeira pessoa, o que lhe valeu o adjetivo de autoficcionista.

“Não existe isso. Apenas me coloco na cena. Tudo que escrevo é mentira pura. Só que minha personalidade é muito forte e as pessoas acabam criando confusão. Enjoei de escrever em terceira [pessoa]. De narrar uma história distante. De um ponto de vista longínquo. Quero fazer parte do delírio. Acho um grande barato confundir o leitor”, rebate.

Cigarro da discórdia

Diego Moraes é o que se pode chamar de escritor prolífico. O perfil dele no Facebook, por si só, é como uma obra em progresso, com postagens frequentes que facilmente ganham centenas de curtidas e comentários de todos os cantos do País. Aliás, a Internet é a sua principal plataforma de divulgação, tecnologia que o põe em contato com novos escritores e por onde ele articulou, há dois anos, a criação da Flipobre, primeira feira literária 100% virtual.

Dia atrás, ele falava na rede social sobre bloqueio criativo, que classifica como “conversa mole”. “Nunca empaquei”, garante, atribuindo o tal bloqueio à preguiça e à procrastinação. “A literatura é um troço muito vasto, infinito. Ela é músculo que só cresce com a prática, com o exercício, com o ato de escrever”.

Mas que os leitores desavisados não esperem do autor amazonense uma literatura cheia de boas intenções. Diego é como um herói anticaretice (ou um anti-herói tranquilão), tanto que a epígrafe de “Meu coração é um bar vazio tocando Belchior” é uma frase de Antônio Maria que data de 1963: “O poeta tem que ignorar o próximo e odiar a si mesmo”.

“Não boto fé em gente chapa branca que acha que o escritor deva ter compromisso social e defender uma causa como salvar baleias encalhadas. O mundo anda muito chato e conservador”, comenta ele.

Moraes dá como exemplo uma matéria veiculada pelo portal Uol em que ele aparece fumando um cigarro em frente ao Castelinho, antigo bar da avenida Eduardo Ribeiro. Com a repercussão da notícia, o escritor passou a receber e-mails e mensagens odiosas no Facebook.

“Um cara chegou a me ameaçar dizendo que pediria que Ministério Público impedisse a circulação dos meus livros em São Paulo por dar mal exemplo. Escritor só deve ter compromisso com a ficção. Quem gosta de lição de moral na literatura é coroinha”.

Desafio do romance

Enquanto divulga o novo livro, Moraes também se dedica à produção do seu primeiro romance, que já está apalavrado com a editora Record, responsável por dez selos literários do mercado. Este será o primeiro contrato do escritor com uma grande editora.

O convite partiu do editor executivo Carlos Andreazza, que responde pela área de não ficção e literatura brasileira dentro da Record. Ele chegou a anunciar a parceria com o amazonense em seu perfil pessoal: “Enquanto isso, recomendo que o leiam também aqui no Facebook. É pornograficamente genial (e hilário)”, escreveu.

Contista de formação, Diego começou lendo e escrevendo prosa e só depois partiu para a poesia. Afeito a uma sintaxe que se assemelha a um tiro, ele admite estar sendo difícil “alongar o delírio, manter o fôlego”.

“Uma coisa é escrever um conto de três páginas e outra é escrever um romance de 300 páginas. É como trocar uma piscina de 100 metros pelo Canal da Mancha. Mas tem sido legal. O barato da literatura é experimentar outros gêneros. Encarar desafios e se tornar um esportista completo. Um atleta de Triathlon”.

Vendas

Com sede em Guaratinguetá (SP) e quatro anos de estrada, a editora Penalux é focada em literatura contemporânea brasileira e publicações acadêmicas, com experiência recente em traduções.

Como explica o editor Wilson Gorj, o sistema de trabalho deles é a impressão sob demanda, em que o autor começa com pequenas tiragens e, conforme a demanda, mais livros são impressos. “Meu coração é um bar vazio tocando Belchior” estará à venda na loja virtual da Penalux, após o Carnaval, com entrega para todo o Brasil.


Para ler a belíssima matéria sobre Diego Moraes publicada no caderno Aliás, do Estadão, clique aqui.

Um comentário:

Ademir Oliveira disse...

Arthur Engracio foi o maior escritor amazonense de todos os tempos e um dos maiores do Brasil. É lamentável que sua obra esteja quase esquecida nesse estado.