Uma das figuras mais importantes e características na história mais recente da Portela é o Paulinho, atualmente um dos diretores de harmonia da escola e que já foi um passista notável, de ginga elegante e passos surpreendentes. É um portelense nato, tanto assim, que para a alegria dos seus amigos de vez em quando ainda diz alguma coisa no pé.
Dois compositores que ajudam a manter viva a legenda da Portela de possuir um caudaloso naipe de autores de samba de quadra e enredo.
José Flores, Zé Flores, Zé Quentinho, Zé Kéti, um dos primeiros compositores de escola de samba a romper o cerco das gravadoras, que durante muito tempo impediu que autores de talento e músicas de verdadeira origem popular chegassem ao grande público.
Ainda muito menino foi levado para a Portela pelo Armando Santos que também era compositor e depois foi presidente. Em contato com Alvaiade e outros compositores ele foi desencabulando pouco a pouco até ter coragem de mostrar um samba seu. E agradou muito.
Lá vem a Portela
Com suas pastoras
Alegres a cantar
Oba ioiô, oba laia,
Não tememos o vento
Nem a tempestade,
Nem as lindas ondas do mar.
Chega, deixa isso pra lá.
A carreira de Zé Kéti como compositor é de todos conhecida. Leviana, A Voz do Morro, Opinião, Máscara Negra, são apenas alguns dos sucessos que todos cantam e cantarão sempre. A sua linguagem é simples, mas nem por isso desprovida de intenção e poesia.
Nos primitivos desfiles era muito comum a ala das baianas vir engrossada por alguns homens. Na Portela houve duas “baianas” famosas: seu Ventura e seu João da Gente. Os dois foram também notáveis tiradores de versos e puxadores de samba enredo, quando ainda não se usava microfone e amplificação. Era no gogó.
Até hoje a Portela é das escolas que tem uma respeitável ala de compositores. Na chamada Velha Guarda estão alguns verdadeiros craques como Manaceia, Chico Santana e Walter Rosa, todos atuando com a mesma disposição e o mesmo talento dos primeiros dias do Conjunto de Osvaldo Cruz.
Três bambas da Portela desde os seus primeiros dias: Alcides Dias Lopes, também conhecido como Malandro Histórico, porque sabe de cor toda a história da escola, Ernani Alvarenga, autor de Lá Vem Ela Chorando, o primeiro samba que a Portela cantou na Praça Onze e Osvaldo dos Santos, o Alvaiade, um dos primeiros puxadores de samba da Portela.
A Portela deu ao samba uma figura definitiva e dificilmente superável: Natalino José do Nascimento, o Natal. Um dos fundadores da escola e batalhador incansável até o dia em que faleceu, 8 de abril de 1975, ele foi um líder inconteste.
Paulista de nascimento, tendo nascido na cidade de Queluz, em 1905, Natal antes de conhecer o Rio conheceu Madureira. E lá foi sua fortaleza e cenário para a sua vida que conheceu os extremos da pobreza e tranquilidade do dinheiro farto. Ele mesmo declarou certa vez: “Meu dinheiro ia uma parte para minha família, outra para a escola e o resto eu distribuía para quem precisasse.”
Figura humana que impressionava no primeiro contato, Natal viu criar-se em torno dele um folclore vasto e rico. A sua vida, o seu entusiasmo, cevaram-se na paixão que ele porejava pela sua escola, a azul e branco, a da águia alva e altaneira. Carnavalesco convicto, sambista indomável, sem nunca ter composto um samba, tocado uma caixa de fósforos ou sambado num terreiro, poucos fizeram pelo samba o que ele fez.
Dava gosto vê-lo nos confortáveis chinelos, paletó de pijama, chapéu à cabeça, tendo o cumprimento dado pelo braço que lhe restava ser disputado por autoridades, políticos, madames de sociedade e componentes de outras escolas, no dia do desfile. Ele vinha à frente de sua gente, jamais houve melhor abre-alas, era um símbolo de força e de amor. De amor à sua escola, ao seu enredo, ao seu samba, ao nosso carnaval.
Natal costumava contar que se fantasiou somente uma vez em toda a sua vida. Foi num banho de mar à fantasia em Copacabana (Posto 4), organizado pelo jornal A Noite, e mesmo assim ele vinha dentro de uma burrinha (disfarce que dominou o carnaval carioca durante uma época).
Primo de Paulo da Portela e de quem se considerava um discípulo, nos primeiros desfiles da Praça Onze ele era da brigada de choque da Portela. Não enjeitava parada. E assim foi até o último dos seus dias, quando foi acompanhado até a derradeira morada por uma multidão incalculável que acenava lenços brancos, como a sua águia, que tantas alegrias lhe deu.
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