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sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Dona Neuma e outros bambas


Na difícil arte de improvisar versos numa rodada de partido alto, muitos tentam e poucos se destacam. Xangô da Mangueira, nascido Olivério Ferreira, é um dos que mais se destacaram e que tem o seu nome pronunciado com respeito por todos os sambistas.

Foi na Portela que ele se impôs como partideiro quando, em 1935, fazia parte daquela escola. Com a saída de Paulo da Portela para a Lira do Amor, ele acompanhou o mestre só entrando na Mangueira em 1939, onde está hoje.

Depois de ter entrado para a ala dos compositores, Xangô foi também o puxador de samba-enredo no desfile até 1951, quando passou o posto para Jamelão. Daí em diante ele assumiu a direção de harmonia da escola, substituindo Cartola, e está firme até hoje comandando o canto e a evolução de passistas, pastoras e alas. E na hora de tirar um partido, é com ele mesmo:

Cantei muito samba
Eu já fui batuqueiro
E na roda de samba
Fui diretor de terreiro!


Neide e Delegado: um autêntico “pas-de-deux” proporcionado por dois bailarinos populares, num misto de ritmo, elegância e alegria.


A bateria da Mangueira é reconhecível à distância. Desde 1935 que ela é dirigida pelo mesmo homem: Waldomiro José Pimenta, para quem nenhum instrumento de percussão tem segredo. Ele encoura e toca qualquer um, em pleno desfile é capaz de saber se um ganzá sobrou na virada do samba ou se um agogô errou na batida do tempo forte.

Em mais de 40 anos de atividade hoje Waldomiro já é um mito em frente à bateria, mas não pense que lhe falta vigor. Ele é ainda capaz de ensinar a tocar um tamborim ou um repinique e está sempre preocupado em formar novos percussionistas.


A Mangueira tem muitos motivos para justificar o orgulho, um deles é a sua Ala de Compositores na qual pontifica, por exemplo, o Darci, cuja consagração já seria suficiente com este simples dado: é um dos autores do samba “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato”, com o qual a escola desfilou o primeiro lugar em 1967.

Outro motivo de orgulho para a Estação Primeira é sua ex-pastora Clementina de Jesus, contemporânea de Heitor dos Prazeres, Paulo da Portela, Gradim e outros pioneiros, frequentadora da casa de Tia Ciata, cantora de novenas, ladainhas, jongos e pontos de macumba.


Além da sede da escola, há outro local que congrega todos os acontecimentos sociais, recreativos e até mesmo sentimentais do morro: é a casa da dona Neuma, mangueirense histórica, filha de Saturnino Gonçalves, primeiro presidente da agremiação, e desde jovem pastora sestrosa. Nenhuma visita é válida, nenhuma pesquisa será completa, nenhuma informação será integral, se dona Neuma não for consultada.

Apesar de ter uma família numerosa, dona Neuma é o poço comum para onde convergem todos os problemas, todas as aflições, todas as dúvidas do pessoal da Mangueira. Na preparação do carnaval a sua colaboração é inestimável, na época das eleições o seu apoio é cortejado por todos. E ela está sempre com o sorriso à mostra, animando confortando, com uma palavra de carinho ou uma cervejinha gelada.

Até bem pouco tempo o seu telefone era o único existente no morro, o que dava à sua residência um permanente ar de festa. Era gente entrando e saindo, para falar ao telefone ou buscar um recado. A um recém-chegado não informado a impressão era que todo mundo pertencia à família de dona Neuma dado a intimidade com que todos tratavam e eram tratados. O fato de já haver atualmente outros aparelhos instalados não significa que o panorama mudou. A casa de dona Neuma continua sendo o centro nervoso do morro, antes, durante e depois do carnaval.

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