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sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Acadêmicos do Salgueiro


O Salgueiro, este mar vermelho-e-branco que invade as ruas no domingo de carnaval, tem compositores cujos trabalhos têm dado muita fama aos seus componentes. Aqui está um quinteto de autênticos cobras, criadores de indiscutível talento: Duduca, Iracy Serra, Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Noel Rosa de Oliveira.

Muitas obras-primas eles fizeram, dessas que o povo canta sempre, o que determina a sua permanência na memória coletiva. Citemos apenas alguns dos seus sambas: Navio Negreiro (1957), de Djalma Sabiá; Vida e Obra de Aleijadinho (1961), de Duduca e Bala; Chica da Silva (1963), de Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho e História do Carnaval Carioca (1965), de Geraldo Babão.

Na ala dos compositores do Salgueiro ainda tem gente como Zuzuca, Bala, Nilson Nobre, Ney Lopes e Zé Di. Todos integrados no dístico da escola: Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente.


Quando o Salgueiro, Sal para os íntimos, levantou o seu primeiro campeonato, em 1963, com o famoso enredo Chica da Silva (antes, em 1960, numa decisão do então Departamento de Turismo e Certames, considerada política pelos sambistas, o Salgueiro dividiu o primeiro lugar com Mangueira, Portela, Unidos de Lucas e Império Serrano), o diretor de harmonia da escola era Joaquim Casemiro, grande figura e líder do morro, falecido quando dirigia um ensaio e que ficou na história do samba como Casemiro Calça Larga.


Em 1927, Lindenbergh cruzava o Atlântico, o Spirit of Saint Louis invadia o mundo, Sacco e Vanzetti eram executados, o espírito da solidariedade comovia o mundo, Leon Trotsky era expulso do Partido Comunista, o espírito da dissenção preocupava o mundo. No morro do Salgueiro, eram vários os agrupamentos de samba, o mundo nem tomava conhecimento.

O Bloco Terreiro Grande, que levava as cores azul e rosa, reunia a preferência da maioria: nas batalhas de confete que se realizavam na Tijuca sempre fazia bonito. Foi Antenor Gargalhada quem liderou uma ala dissidente do Terreiro e fundou o bloco Azul e Branco do Salgueiro. A estas alturas o Terreiro mudou o nome para Unidos do Salgueiro, conservando, no entanto, as cores azul e rosa. Outro bloco surgiu ainda, o Depois Eu Digo (verde e branco), aparecendo como tertius na opção que os habitantes do morro podiam fazer.

Esta multiplicidade de blocos levou o sambista Totico a sugerir, em 1953, a fusão dos três para fortalecer o samba no morro. Mas os Unidos do Salgueiro não aceitaram a idéia que, entretanto, foi subscrita pelo pessoal do Azul e Branco e do Depois Eu Digo, nascendo então o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, existente na Chacrinha, local vizinho ao morro do Salgueiro e que, motivado e sensibilizado pela escola de suas cores, também aderiu aos Acadêmicos.

A fundação oficial deu-se em março de 1953, tendo sido eleito como primeiro presidente Paulinho de Oliveira, que se dedicou inteiramente à total integração do Salgueiro. No carnaval de 1954 a escola obtinha o terceiro lugar com o enredo Romaria à Bahia. Daí em diante, o Salgueiro marcou sempre a sua presença nos desfiles, até que em 1959 chegou em terceiro lugar com o enredo Viagens Pitorescas Através Do Brasil, que ficou conhecido como “Debret”.

Os figurinos, ou riscos, como os denominam os componentes das escolas de samba, e as alegorias foram um trabalho do casal Dirceu e Maria Luisa Nery, artistas plásticos de inquestionável vivência popular. O inspirador do enredo foi Nelson de Andrade, que a partir dali abria uma enorme senda e fixava um marco na história das escolas.

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