Fernando Gabeira
“A liberdade é vermelha”, escreve num post de Paris Mônica
Moura, mulher do marqueteiro João Santana. É uma alusão a uma trilogia de
filmes inspirados nas cores da bandeira francesa. O primeiro deles se chamou “A
liberdade é azul”. É compreensível que Mônica Moura tenha escolhido o vermelho
entre as cores da bandeira. E que tenha escolhido a liberdade do lema da
Revolução Francesa, que também conta com fraternidade e igualdade.
João Santana e Mônica ficaram milionários levantando a
bandeira vermelha, no Brasil, na Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e
do chavismo. Com os bolsos entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à
custa da manipulação dos eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica
Moura podem viajar pelo mundo com um padrão de vida milionário.
Mas chega o momento em que a cadeia é vermelha, e Mônica
Moura não percebeu essa inversão. Nas celas da Polícia Federal e do presídio em
Curitiba, o vermelho predomina. José Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo
Odebrecht, a Odebrecht é vermelha, basta olhar seus cartazes.
Uma vez entrei na Papuda e filmei uma cela vermelha com o
número 13. Os condenados do mensalão estavam a ocupar o presídio. A divulgação
da imagem foi um Deus nos acuda, insultos: as pessoas não têm muita paciência
para símbolos. Mônica Moura fala esta linguagem. Se tivesse visto o take de
seis segundos da cela vermelha, ela iria buscar outra cor para a liberdade.
A situação de Dilma e a do chavismo convergem para um mesmo
ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração majoritária é derrubá-los do poder.
João Santana, num país onde se valoriza a esperteza, foi considerado um gênio.
Gênio da propaganda enganosa, dos melodramas, dos ataques sórdidos contra
adversários. O único critério usado é a eficácia eleitoral avaliada em milhões
de dólares, certamente com taxa extra para os postes, Dilma e Haddad.
Sua obra continental se espelha também no resultado dos
governos que ajudou a eleger: Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em
seus países. O que aconteceu na semana passada é simplesmente o fim do caminho.
Com abundantes documentos, cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há
espaço para truque de marqueteiros.
O dinheiro de Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu
de uma empresa que tinha negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior
por seu lobista Zwi Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.
A Lava Jato demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com
dinheiro roubado da Petrobras. E agora? Não é uma tese política, mas um fato,
com transações documentadas.
Na semana passada ouvi os panelaços por causa do programa do
PT. O programa foi ao ar um dia depois da prisão de João Santana. Mas o tom era
o mesmo, uma mistificação para levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem
de falar da crise que as coisas melhoram.
Em que mundo eles estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista
que o PT estava morto como proposta renovadora. Um pouco adiante, com o
mensalão, escrevi “Flores para los muertos”, mostrando como uma experiência que
se dizia histórica terminou na porta da delegacia.
Na semana passada, escrevi “O processo de morrer”. Não tenho
mais saída exceto apelar para “O livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos
aos que já não estão entre nós. O conselho é seguir em frente, não se apegar,
não ficar rondando o mundo que deixaram.
Experimentei aquele panelaço como uma cerimônia de
exorcismo: as pessoas saíam às janelas e varandas para espantar fantasmas que
ainda estavam rondando as casas. Poc, poc, poc. Na noite escura, o silêncio, um
grito ao longe: fora PT. E o PT na tela convidando para entrar nas fantasias
paradisíacas tipo João Santana, já trancafiado numa cela da PF em Curitiba.
Simplesmente não dá para continuar mais neste pesadelo de um
país em crise, epidemia de zika, desemprego, desastres ambientais, é preciso
desatar o nó, encontrar um governo provisório que nos leve a 2018.
De todas as frentes da crise, a que mais depende da vontade
das pessoas é a política. Se o Congresso apoiado por um movimento popular não
resolver, o TSE acabará resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a
2018 como um caco, não só pela exaustão material, mas também por não ter punido
um governo que se elegeu com dinheiro do assalto à Petrobras.
É hora de o país pegar o impulso da Lava Jato: carro limpo,
governo derrubado, de novo na estrada. É uma estrada dura, contenções,
recuperação da credibilidade, quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra,
é o fim do caminho.
A semana, com a prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre
as transações financeiras, trouxe mais claramente o sentido de urgência. E a
esperança de sair desta maré.
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