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segunda-feira, abril 20, 2009

O beabá pra você entender o Punk

Imagine ligar o rádio em 1976: numa estação, Pink Floyd está fazendo mais uma de suas incursões megalômanas pela psique humana, decorada por solos quilométricos; noutra, Rick Wakeman e seus oito braços tocam teclados sinfônicos em homenagem ao rei Artur. Que época maldita! Rockstars ególatras metidos em orgias de auto-indulgência e cocaína, shows em estádios, superproduções caríssimas, e o rock, coitado, indo pelo esgoto.

De repente, uns moleques resolveram mudar isso tudo e devolver ao estilo a capacidade de chocar. Surgiu o punk. Foi uma revolução que não se via desde que Elvis sacudiu as cadeiras e fez milhões de menininhas molharem as calcinhas, e que nasceu do simples fato de jovens estarem de saco cheio de ligar a TV e ver a peruca de Elton John.

Esta é uma lista de dez clássicos do punk. Muitos vão sentir falta de Stiff Little Fingers, X-Ray Spex, Dead Boys, Vibrators, Black Flag, X, Wire, Magazine, Dictators, Gang Of Four, Minor Threat, Circle Jerks e por aí vai. Para esses, deixo um recado no puro espírito punk: façam vocês mesmos as suas listas!


IGGY AND THE STOOGES

Raw Power (1973)

A pré-história do punk. De Detroit, cidade que já havia gerado o MC5, Iggy iniciou o cataclisma. Em Raw Power, ele ainda queria ser um crooner blueseiro à Jim Morrison (ouça “Gimme Danger” e confira), mas, quando soltava a voz e James Williamson soltava os bichos na guitarra, surgiam coisas como “Search And Destroy”: “Eu sou o garoto esquecido pelo mundo/ Aquele que procura e destrói...”


RAMONES

Ramones (1976)

Punk, ano zero. Nunca ninguém havia feito um álbum tão cru e despretensioso. Nenhum solo, nenhuma faixa com mais de 2m30s. Joey Ramone resumiu: “Reembalamos o rock, jogamos o lixo fora e ficamos só com o que interessava: diversão, suor, emoção e energia”. Em “Judy Is A Punk”, o maior momento do disco: “Segundo verso, igual ao primeiro”. Isto, amigo, é punk. E mais: Paul Simonon, do Clash, aprendeu a tocar baixo com essa belezinha.


EDDIE AND THE HOT RODS

Teenage Depression (1976)

Tudo bem, eles não eram exatamente punks e faziam um rockão de pub com um pé no Who dos bons tempos – esse disco tem até um cover de “The Kids Are Allright” ao vivo. Mas Teenage Depression, com sua capa polêmica e letras como “Estou gastando todo o meu dinheiro/ E ele está sumindo pelo meu nariz”, causou um furor na juventude inglesa e preparou o terreno para um monte de bandas que estavam por vir.


THE DAMNED

Damned Damned Damned (1977)

O Damned tem uma história conturbada e marcada por brigas, separações e ressurreições. De pioneiros do punk inglês, viraram góticos nos anos 80 e fizeram até discoteca. Em Damned Damned Damned, a bateria tribal de Rat Scabies marca o ritmo por baixo das guitarras de Brian James (o gênio tímido que compunha tudo na banda) e do vozeirão Elvis fase Las Vegas do vampiro Dave Vanian. Coisa finíssima e brutal.


SEX PISTOLS

Never Mind The Bollocks... Here’s The...(1977)

Os Pistols foram uma banda de um disco só. Mas que disco! Eles esculhambaram a rainha, as gravadoras, os políticos... Junto com as guitarras arrasadoras de Steve Jones estavam letras de uma mordacidade e ironia até então inéditas. E cada declaração de Johnny Rotten, cada cuspida de Sid Vicious, por mais espontâneas que parecessem, eram pensadas como quem planeja uma guerra. Eles vieram, viram e conquistaram.


THE SAINTS

Eternally Yours (1978)

A Austrália tem uma antiga tradição de excelentes bandas de garagem (Scientists, Lime Spiders, Radio Birdman), e nenhuma era melhor do que o Saints. Eles emergiram dos pubs de Brisbane fazendo uma mistura bacana de punk com rock de garagem sujão dos anos 60, estilo Sonics. Quem viu os caras ao vivo disse que não havia nada igual. Os Saints faziam música para se ouvir tomando cerveja, muita cerveja. O álbum ganhou versão em CD só em 1997.


CLASH

London Calling (1979)

A estréia do Clash, em 1977, caiu como uma bomba atômica na Inglaterra. Já London Calling se espalhou como uma bomba de nêutrons: menos barulhento, porém mais eficaz. Pela primeira vez, uma banda punk abdicava dos três acordes e arriscava-se em outras direções: rockabilly (“Brand New Cadillac”), reggae (“Guns Of Brixton”), ska (“Wrong ‘Em Boyo”), e muito mais, ilustrando letras de relevância social e política inéditas para um grupo do gênero.


UNDERTONES

Undertones (1979)

Eles vieram de Derry (Irlanda do Norte) e fizeram mais feliz a adolescência de muita gente. Eram os românticos do punk, com suas odes a amores juvenis, a passeios pelo parque e à beleza do verão. Em 1978, gravaram “Teenage Kicks” (“Outra menina no meu bairro/ Queria que ela fosse minha/ Ela é tão linda”), clássico absoluto. O CD traz essa e mais sete músicas. É necessário amar uma banda que escreveu: “Nunca é tarde para apreciar diversão boba”.


BUZZCOCKS

Singles Going Steady (1979)

Ninguém nunca escreveu punk-pop como os Buzzcocks. É fácil fazer música: é riff-introdução-refrão-riff-fim. Ou, pelo menos, parece fácil quando você é Pete Shelley e escreve coisas como “What Do I Get” e “Orgasm Addict”, tão lindas em sua simplicidade que parecem ter sido criadas sem esforço algum. Singles Going Steady é uma compilação dos compactos da banda, capaz de iluminar sua vida e fazer até o Eurico Miranda sair sorrindo por aí.


DEAD KENNEDYS

Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980)

Eles pegaram o legado punk de fúria e anarquia e fizeram uma versão “anos 80” para a coisa, cheia de humor negro e ironia. Musicalmente, expandiram o universo do punk, adicionando introduções sombrias e solos que eram o complemento sonoro das letras apocalípticas de Jello Biafra. O som da banda às vezes parecia trilha sonora de desenho animado, às vezes caía no hardcore mais esporrento do planeta. Mas era único.

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