Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quinta-feira, abril 23, 2009
Sex Pistols e Clash - Marcados Para Morrer
Via e-mail, recebo esse toque do Geraldo Correia, lá de Boa Vista (RR): “Caro Simão. Gostei muito daqueles textos sobre o movimento punk. Como nasci em 1976, só tomei conhecimento do assunto muitos anos depois e é difícil encontrar informações a respeito aqui onde moro. Gostaria de saber o que aconteceu depois, com o fim das bandas. Muito obrigado, seu blog é muito legal.”
O que aconteceu depois, Geraldo?... Bom, minado por uma série de adversidades, o movimento punk chegou ao final de 77 marcado para morrer – aliás, como acontecera com todas as demais “revoluções” geradas pelo rock.
Decodificado e assimilado pela sociedade, nem mesmo o aspecto puramente musical seria poupado do desgaste, levando grupos precursores como Eater Chelsea, The Cortinas e Cocksparrer a um final prematuro.
Em Londres, Zandra Rhodes, a mais influente estilista de vanguarda, criara a moda high punk ao incorporar estratégicos rasgões em vestidos de rayon e seda. Nova York não ficou atrás - na 5ª Avenida podiam-se ver camisetas com motivos punk ornamentando as vitrinas mais sofisticadas.
A paródia chegou às raias do absurdo quando o decorador Richard Mauro lançou a mobília punk (!) e em Chicago uma equipe de ourives produziu uma coleção de jóias tendo por base alfinetes de ouro com diamantes incrustados.
E, quem diria, até Johnny Rotten acabaria incluído na lista das personalidades do ano da revista Vogue... Em meio a tantas contradições, nem mesmo o advento do primeiro LP do Sex Pistols foi capaz de trazer algum alento.
Se é inegável que Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (“Esqueçam os escrotos, aqui estão os Sex Pistols”) se inclui hoje em qualquer listagem dos melhores discos de rock de todos os tempos, por ocasião de seu lançamento ele foi recebido com certa indiferença pelo público. Isso era compreensível afinal, quatro das faixas haviam sido previamente editadas em compactos e outras já circulavam há muito em gravações piratas.
Produzido quase que inteiramente por Chris Thomas, cujas credenciais incluíam uma mãozinha a George Martin no “álbum branco” dos Beatles e vários trabalhos com Procol Harum, Badfinger, John Cale e Roxy Music, Bollocks foi concluído em menos de um mês.
No geral, o disco resulta no mais fiel registro da época, mostrando do que é feito o melhor rock’n’roll – energia, frustração, urgência, altos decibéis e diversão – em canções que abordam temas tão incômodos quanto a prática do aborto e o jogo sujo da indústria do vinil.
Embora subestimado na ocasião, Glen Matlock teve aí um papel fundamental, pois além de co-autor de nove dos doze títulos presentes, muitas das bases que ele gravara meses antes foram reaproveitadas. Outro detalhe curioso foi a ausência de Sid Vicious dos estúdios durante praticamente todas as sessões, fato que obrigou Steve Jones a também tocar baixo.
Para variar, a edição americana trouxe uma capa em cores diferentes e a seqüência das faixas alteradas, tendo porém a seu favor a inclusão de uma música extra, “Submission”.
Em 1978, o grupo embarcou para uma miniexcursão pelos Estados Unidos, cujos resultados foram catastróficos. Tocando tremendamente mal, o Sex Pistols ainda foi o pivô de cenas deprimentes, tais como noitadas com travestis, porres homéricos, brigas envolvendo fãs e seguranças e uma tentativa frustrada de suicídio por parte de Sid Vicious, que se atirou pela janela de um hotel.
Para piorar as coisas, o relacionamento entre MacLaren e Rotten, que, diga-se de passagem, nunca fôra nenhuma maravilha, havia se deteriorado ao ponto da conspiração, com o empresário propondo a Paul Cook e Steve Jones a expulsão do cantor assim que a excursão terminasse.
Ciente da tramóia, Rotten adiantou-se e os abandonou. Assim, no dia 14 de janeiro, ele anunciou em Nova York a dissolução dos Pistols. Horas antes da comunicação, um Sid Vicious inconsciente dera entrada na UTI de um hospital da cidade, após ter supostamente ingerido uma mistura de álcool e anfetaminas.
Por sua vez, o Clash também começara o ano de 78 com o pé esquerdo. Depois de uma curta temporada na Jamaica com Mick Jones, quando ia ser escrito o material para o virtual segundo LP, Joe Strummer pegou hepatite, segundo consta, ao engolir uma cusparada infectada que um fã mais afoito dera dentro de sua boca.
Foi também a partir daí que o quarteto radicalizou de vez a música em nível da atitude política. Em abril, vestindo camisetas com o slogan das terríveis Brigadas Vermelhas, os membros do Clash se apresentaram de forma memorável num show para a Rock Against Racism, uma entidade de esquerda mobilizada contra a crescente atuação de organizações neonazistas na Inglaterra, especialmente a do chamado National Front. Essa postura de confronto ocasionou problemas.
O entusiamo que geravam ao vivo muitas vezes era interpretado como violência pelos “leões de chácara”, que desciam o pau na platéia a qualquer sinal de agitação. O próprio Joe Strummer resumiria os fatos: “Fora pequenas brigas, parece que tem acontecido pelo menos um acidente de grandes proporções por mês em nossos shows. Talvez nós mesmos estejamos suscitando esta confusão, mas não achamos que seja muita paranóia tentar estar atento ao que acontece à nossa volta. Estamos conscientes da responsabilidade que tem sido depositada sobre nós”.
Nesse ínterim, Paul Cook e Steve Jones haviam viajado para o Rio de Janeiro, onde realizaram um velho sonho: conhecer Ronald Biggs, “o assaltante do trem pagador inglês”. Este encontro, entre outras efemérides, originou o compacto “No One Is Innocent”, onde Biggs deu uma de cantor.
No lado B, Sid Vicious mandava ver uma versão para “My Way”, canção que ficou famosa na voz de Sinatra. Desde a derradeira turnê dos Pistols, Sid e a namorada Nancy Spungen passaram a morar em Nova York e esta gravação marcou uma reaproximação com os colegas.
O relacionamento tempestuoso entre Sid e Nancy também tivera seu quinhão na implosão dos Pistols. Fisgados pela heroína, ambos viviam as turras e não raro suas aprontações viravam manchetes nos jornais.
No dia 12 de outubro de 78, o romance acabou tragicamente: Nancy foi encontrada morta no banheiro do quarto que ocupava no Hotel Chelsea. Ela sangrara até a morte, a partir de um único corte feito a faca na boca do estômago. Horas mais tarde, Sid Vicious foi preso nas vizinhanças. Em estado semicomatoso, ele perguntava incessantemente: “Onde está Nancy?”
Apesar de o autor e as circunstâncias do crime nunca terem sido realmente esclarecidas, Vicious acabou sendo julgado e condenado por assassinato em segundo grau. No entanto, ele permaneceria solto, já que, acreditando na sua inocência, a gravadora Virgin pagara uma fiança de cinqüenta mil dólares.
Dez dias após a morte de Nancy. Sid cortou os pulsos com uma navalha, sendo imediatamente internado na ala psiquiátrica do Hospital Bellevue. Mal se recuperara e já se via outra vez atrás das grades, desta feita por ter surrado o irmão da cantora Patti Smith numa discoteca. Detido, ele iniciaria um programa de desintoxicação. Em vão.
Em 2 de fevereiro de 1979, a mãe de Vicious, Anne Beverley, encontrou o filho morto na cama, ao lado da namorada adormecida, no apartamento da jovem, em Manhattan. Na noite anterior, o apartamento havia sido o cenário de uma festa para comemorar a saída de Vicious da prisão após o pagamento da fiança de US$ 50 mil.
Os detalhes sobre a morte não são claros, mas convidados da festa dizem que Vicious – cujo nome verdadeiro era John Simon – teria tomado uma grande dose de heroína à meia-noite. Logo depois, o músico, de 21 anos, teria desmaiado e sofrido convulsões, com todos os sintomas de uma overdose. Cerca de 40 minutos depois, Vicious teria se recobrado e ido para a cama.
O primeiro policial a entrar no quarto, na manhã seguinte, disse que tinha encontrado “uma seringa, uma colher e, provavelmente, resíduos (da droga) ao lado do corpo.”
As pistas apontam para uma morte provocada por overdose, mas o escritor Alan Parker, especializado no movimento punk e autor de vários livros sobre Sid Vicious, tem uma outra teoria.
No livro “Vicious: Too Fast to Live”, Parker diz que Vicious teria sido morto pelo mesmo homem que, quatro meses antes, teria assassinado a então namorada do músico, Nancy Spungen.
Versão de Parker
Em entrevista publicada pelo jornal britânico Daily Mail, Parker diz que o suposto assassino, o traficante Rockets Redglare, teria sido flagrado por Spungen quando tentava roubar dinheiro de Vicious, que estava inconsciente após tomar uma forte dose de heroína.
Redglare teria assassinado Spungen com uma faca que pertencia a Vicious. Ao acordar, o baixista teria encontrado a namorada morta e, ainda sobre efeito da droga, confessou o crime e foi indiciado. Testemunhas, no entanto, teriam visto Redglare saindo da cena do crime.
Meses depois, sabendo que Vicious tentaria se inocentar quando fosse ao tribunal responder pelo assassinato, e temendo ser incriminado, Redglare teria assassinado Vicious.
Parker diz que Redglare teria misturado outras substâncias na heroína a ser consumida pelo músico. Declarações da mãe de Vicious, também viciada, parecem dar suporte à versão de Parker.
“Ele sabia que a droga era puríssima e mais forte do que o usual e tomou bem menos do que o de hábito”, declarou Beverley na ocasião da morte do filho. Redglare, o homem que poderia inocentar Vicious, morreu em 2001, aos 51 anos de idade, vítima de seu vício por drogas.
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