Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, abril 20, 2009
O começo do fim do mundo - Parte 1
Por mais estranho que pareça, nossa história remonta ao longínquo ano de 1947. Foi nessa data que, em Londres, uma mulher judia deu à luz um menino chamado Malcolm McLaren. Quase trinta anos mais tarde, ele seria o responsável por catalisar e, até certo ponto, gerenciar o movimento punk. Mas vamos devagar com o andor.
Bem, quando, nos late fifties, o rock’n’roll tomou de assalto o corpo e a libido de milhares de adolescentes, nosso personagem não ficou imune ao fenômeno. Boa parte de seu dia era consumida na audição dos discos de Billy Fury e Eddie Cochran. E seria justamente o rock (junto à outra paixão, o cinema) que o levaria a se matricular numa escola de arte, no final dos anos 60.
Os estudos não eram definitivamente o seu forte. O jovem McLaren acabou abrindo uma lojinha de discos, na Oxford Street. Em 72, movido pela onda “revivalista” teddy-boy, ele se muda para o bairro de Chelsea, onde monta a Le lt Rock, um empório especializado em artigos da era dourada do rock’n’roll.
Com três anos de atividade, seu negócio havia prosperado tanto que atraía celebridades como lggy Pop, MC-5 e os New York Dolls. Estes últimos impressionaram tanto McLaren pela sua imagem exótica que ele acabou fazendo as malas e embarcando para Nova York, onde assumiria um novo emprego, o de empresário dos Dolls.
Era 1975. O glam dava seus derradeiros suspiros e os Dolls se encontravam exauridos por excessos de toda natureza. Como última cartada, McLaren, sugere uma mudança estética radical. Em lugar de maquilagem pesada, botas de salto alto e plumas, entravam em cena ternos de couro vermelho e adereços, como bandeirinhas vietcongs e broches de Mao Tsé-Tung – um simulacro de engajamento político, inspirado no filme A Chinesa, de Jean-Luc Godard, que tinha lá o seu élan, mas que era muito pouco para empurrar os Dolls novamente para o topo. Em maio desse mesmo ano, uma nota oficial comunicaria o óbito da banda.
Em Nova York, McLaren foi parar por acaso no CBGB. Ali, no Max´s Kansas City e em outras casas noturnas, ele captaria o surgimento dos Ramones, as performances poéticas de Patti Smith, as jams hipnóticas do Television e o niilismo incendiário de Richard Hell – sons e imagens que ele armazenaria em algum ponto do cérebro para uso posterior.
De volta a Londres, em 75, ele reassumiria seus negócios em sociedade com a estilista (e também namorada) Vivienne Westwood. Das sobras da Let It Rock brota a Sex, que se destinava a “fornecer roupas para pessoas ligadas às mais diversas formas de perversão sexual”, de acordo com o depoimento do casal. McLaren também passou a empresariar um grupelho local conhecido como Swankers.
É na formação dos Swankers que vamos encontrar pela primeira vez Glen Matlock no baixo, Paul Cook na bateria e Steve Jones nos vocais, além de um tal de Wally na guitarra. Eles ensaiavam nos fundos de um armazém em Hammer-smith, tocando covers dos Small Faces e do Who e, preciosidades pop como “Buid Me Up, Buttercup”, dos Foundations, e “A Day Without Love”, do Love Affair. Muita gente também garante que a aparelhagem tinha sido furtada de vários outros grupos.
Se tais fatos são verdadeiros, ou apenas uma primeira amostra das manipulações maquiavélicas, é difícil dizer. Uma coisa era certa: apesar de muito esforçados, os Swankers eram simplesmente péssimos. Jones, vendo que não conseguia mesmo cantar, passa a brincar com uma guitarra e se sai tão bem que o infeliz Wally é posto para fora.
Um anúncio colocado por McLaren na Melody Maker solicita um quarto membro “que não seja mais feio que o Johnny Thunders” (ex-guitarrista dos Dolls), conseguindo atrair Nick Kent, um crítico de rock. Dias depois, o empresário lhes apresentaria um sujeito chamado John Lydon, o qual notara perambulando pela Sex.
Após um teste em que cantaria acompanhado por uma juke box, ele se tornaria o vocalista dos Sex Pistols, rebatizado Johnny Rotten por McLaren em função de seus dentes estragados.
Por um desses caprichos do destino, o mesmo anúncio chamava a atenção do London SS, um grupo amador que até então se julgava o único interessado pelos Dolls na Inglaterra. O protótipo do Clash havia sido fundado naquele mesmo 75 pelo guitarrista Mick Jones, ao lado de Tony James (futuro Chelseu, Generation X e Sigue Sigue Sputnik) e Brian James (co-fundador do Damned).
Com uma série de bateristas provisórios (inclusive Topper Headon e Terry Chimes), o London SS também fazia covers em seus ensaios, especialmente dos famigerados Dolls. Stones e Mott the Hopple.
As similaridades com os Swankers não paravam por aí: ambos eram egressos de squats (casas abandonadas habitadas, ilegalmente por desempregados), nunca chegaram a se apresentar ao vivo, técnica e teoria musical não lhes diziam nada e, finalmente, o London SS vinha sendo empresariado por um camarada chamado Bernie Rhodes, que trabalhava como assistente de McLaren.
Um pouco antes do London SS acabar, Mick Jones convidaria Paul Simonon para entrar no grupo. Depois do fim, os dois continuariam juntos. Foi nesta fase que Simonon assistiu a uma das primeiras apresentações dos Sex Pistols. Entusiasmado, ele arruma um baixo, Jones corta o cabelo comprido e, na companhia de músicos diversos, montam uma dezena de grupos. Em geral, seus companheiros mal podiam se agüentar em pé de tão chapados, quanto mais tocar seus instrumentos. Jones e Simonon queriam deles apenas “uma boa imagem”.
Nesta busca da imagem certa chegaram até Joe Strummer, que tocava com os 101’ers, grupo que chegou a ter certa notoriedade no circuito dos pubs, fazendo um derivado de rhythm & blues. Ele só se convenceu que a hora da mudança havia chegado quando os Pistols abriram para o 101’ers. No dia seguinte ao show, primeiro de abril de 76, Strummer, Jones e Simonon fundariam o Clash.
A esta altura, os Pistols entravam em seu quarto mês de apresentações. A primeira, já sem Nick Kent, havia sido no St. Martins College of Art. Não ultrapassou os dez minutos – horrorizada com o que ouvia, uma funcionária do colégio desligara os plugs da banda. Daí em diante, eles passariam a adotar uma tática ousada para poder tocar: fingindo ser a banda suporte, os Pistols chegavam cedinho aos teatros e iam logo montando o equipamento. Quando os organizadores davam pela coisa, eles já haviam encerrado seu set...
Essa cara de pau acabou atraindo um público bem definido – jovens desempregados que não perdiam por nada uma exibição da banda. No início de 76, os Pistols estavam novamente em evidência graças a um caótico show no Marquee. Era a primeira vez que tocavam com retorno de palco. Isso os confundiu e, na excitação, vaiados pelos fãs do grupo principal, o Eddie and the Hot Rods, destruíram seu equipamento.
Os incidentes iam se acumulando: agressões, bate-bocas e obscenidades, dentro e fora do palco. Já em maio, nenhuma casa lhes abriu as portas. No sufoco, Bernie Rhodes e McLaren se reuniram para articular shows em comum para seus pupilos.
Nos meses de maio e junho, o único lugar que ainda tolerava os punks era o 100 Club, onde os Pistols começariam a se impor como um dos mais energéticos espetáculos de toda a história do rock, chegando mesmo a atrair a atenção do notório guitarrista Chris Speeding, com quem gravaram uma demo com “No Feelings”, “Problems” e “Pretty Vacant”.
Em agosto, dividindo o programa com o Clash e com os emergentes Buzzcocks, eles tocaram à meia-noite no cinema Screen on the Green. Quem estava lá garante ter sido esta a melhor apresentação da carreira dos Pistols – em meio a bombas de fumaça, um muro espesso de feedback tinha à sua frente um patético Johnny Rotten, completamente exasperado e louco de dor após ter flagelado com o microfone os dentes cariados.
O Clash e os Pistols se reuniriam de novo em setembro, num festival punk que teve como destaque a estréia de Siouxsie & the Banshees, com Sid Vicíous – o inventor do pago, uma dança que transformava chutes, pulos e socos em folguedos de salão – na bateria. A imprensa, os executivos das gravadoras, o público comum, todos queriam saber qual era a do punk.
Esperto, McLaren fez várias demos dos Pistols circularem de selo em selo. A EMI contrataria os Sex Pistols em outubro por dois anos. Três semanas depois, saía o primeiro single, “Anarchy in the UK”. Praticamente não tocando na rádio, a releitura punk de Bakunin chegava aos Top 30 nacional. Rotten & cia. entrariam para a história ao pronunciar, pela primeira vez na TV, a palavra “fuck”.
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