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quinta-feira, abril 02, 2009

Pra não dizer que não falei de flores


Silane, eu, o velho Simão, Dulce (minha madastra), Simone, Selane e Simas, no aniversário de 85 anos do cabra da peste. A Silene não pôde ir porque estava participando de um cruzeiro no Caribe. Choses.

Meu pai, Simão Monteiro Pessoa, está com 85 anos. Daqui a três meses, se Deus quiser, no dia 9 de julho, ele completa 86. É uma idade que, só de imaginar alcançar, me dá calafrios e vertigens. A memória começa a trair o dono, o corpo começa a fraquejar, as dores se instalam em um vaivém, como se fossem um carrossel infantil permanente, o lá de baixo não obedece aos comandos do daqui de cima, os alemães (Alzhemeir e Parkinson) começam a disputar o espólio, enfim, a terceira idade é uma grande merda.

Um dia desses, durante uma cachaçada no Snoopy, falei pro Simas que, se algum dia atingisse mais de 60 anos (não falta muito), preferiria sofrer de Alzhemeir (perda total de memória) do que de Parkinson (corpo se tremendo sem controle). Porque, sinceramente, é muito melhor se esquecer de pagar o dono do bar (mal de Alzheimer) do que ficar jogando birita no chão (mal de Parkinson). Meu velho, felizmente, vem conduzindo discretamente sua canoa entre esses dois rochedos.

Apesar de tudo isso, ou por isso mesmo, eu continuo admirando meu pai mais do que ninguém e mais do que tudo na vida. Desde que soube que arrebentei meu ombro em Borba, no ano passado (darei detalhes qualquer dia), ele não pára de se preocupar, como se eu ainda fosse uma criança. Nem parece que já sou responsável por quatro bisnetos dele (Marcelli e Manuelli, filhas do Marcel, Mathews, filho da Maíra, e Vinicius, filho do Marcelo).

Hoje à tarde, por exemplo, ele me ligou para saber se estou bem. Expliquei de novo o problema do ombro. Não vai dar para eu ser halterofilista ou jogador de vôlei – o braço, em relação ao ombro, não passa da linha horizontal. Os músculos não reagem ao meu comando ou, quando reagem, é preciso suportar muita dor. Não tenho mais idade pra isso. Nem vontade. Ele ri, como se eu estivesse contando uma piada do Bocage. E eu acabo rindo com ele.

Com tantos amigos morrendo assim, tão precoce e inexplicavelmente, comecei a me dar conta dessa benção que é ter o velho Simão ainda vivo. E comecei a sentir medo – ou talvez angústia – pela sua ausência. Que vai acontecer a qualquer momento. Alguém consegue se preparar para aceitar essa contingência humana chamada finitude? Duvido.

Meus seis queridos filhos (Marcelo, Marcel, Márcio, Maíra, Marcus e Marisa) dificilmente me ligam para saber como estou. Eu pago na mesma moeda. A gente se encontra nos encontros de família (e sou extremamente impermeável a essas presepadas) ou quando alguém necessita de alguma coisa. No mais, é cada um por si e Deus por todo mundo. Se é ruim? Não sei. Só sei que é assim.

Na próxima semana, a convite do Márcio, que é professor da UniNorte, vou dar uma palestra sobre a dicotomia jornalismo-publicidade. Desde que ele me fez o convite – e eu topei – nunca mais me procurou. Sim, a “ação” toda ocorreu por meio de e-mails. A modernidade – ou a corrida de obstáculos pela sobrevivência – nos fez desse jeito. Culpa dele? Não. A culpa é minha, que nunca soube ser como meu pai.

Confesso que não é sempre, mas de quando em vez me pego nessas bobagens. Será que, algum dia, um dos meus filhos vai me ligar para perguntar simplesmente se está tudo bem comigo? Ou serei eu que terei de dar esses telefonemas? Ou, de repente, essa tarefa ficará a cargo de meus netos? E isso, de repente, vai mudar a profunda estima e amor que sinto por todos eles? Não. Claro que não.

O que quero sublinhar é esse amor do meu velho, capaz de pegar um telefone aos quase 86 anos, ligar para um filho em um dia qualquer da semana e perguntar: “e aí, meu filho, está tudo bem?”.

Já não se fazem mais pais como antigamente.

Benção, meu pai. Tenho cada vez mais um puta orgulho de ser seu filho.

Saravá! Ogum é de lei! Oxóssi nos protege! Xangô nos guarda! Sem contar, que a gente ainda tem as armas de Jorge. E as armas de Jorge são as armas de Jorge...

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