Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, abril 20, 2009
O começo do fim do mundo - Final
O ano de 1977 começou com o cancelamento do contrato dos Sex Pistols com a EMI, o que obrigou o selo a lhes pagar uma multa de 50 mil libras. Mal essa notícia havia esfriado, soube-se que Glen Matlock havia sido expulso da banda. O motivo é curioso: “Ele gosta demais de Paul McCartney dos Beatles...”
Para seu lugar seria recrutado Sid Vicious. Foi com esse line-up que assinaram com a A&M em março. O ato, altamente simbólico, transcorreu em frente ao Palácio de Buckingham. Era iminente o lançamento de “God Save the Queen”, que, segundo McLaren, não era uma versão do hino nacional, mas sim um tributo dos rapazes a rainha.
Passados cinco dias, os rapazes estavam fora da A&M, que não explicou o porquê. No entanto, era óbvio que se devia ao teor da letra de “God...”, um ataque frontal à figura de Elizabeth II. A indenização desta vez ficou em torno de 75 mil libras: mais um golpe de mestre de McLaren.
Março também assinalou o contrato do Clash com a CBS, que lhes deu 100 mil libras como adiantamento. Foi aí que surgiu aquela história de “traição do movimento” (sic) – muitos os acusariam de ter se vendido.
Hoje, sabe-se que tal quantia foi empregada na compra de aparelhagem, e o que sobrou mal deu para custear sua primeira excursão. Em que pesem as controvérsias, o Clash se estabeleceria como um dos principais porta-vozes de sua geração.
Em abril de 77, sairia The Clash, seu primeiro álbum. Para muitos, foi uma decepção: a qualidade sonora era sofrível e os vocais soavam incompreensíveis. Isto deve ser debitado ao próprio grupo, uma vez que recusara todos os medalhões da produção que a CBS lhes sugerira.
A escolha caíra sobre Micky Foote, então seu mixer ao vivo, mas que jamais havia produzido um disco na vida. Ainda assim, este é um trabalho vital. A dupla Jones/ Strummer assinou treze das catorze faixas – a exceção coube à regravação do reggae “Police and Thieves”, de Junior Marvin.
A CBS americana se recusaria a lançar o disco, alegando má qualidade técnica – ele só seria editado lá em 79, mesmo assim com quatro das faixas originais (“Protex Blue”, “48 Hours”, “Cheat” e “Deny”) substituídas por singles gravados a posteriori.
Outro detalhe é que o baterista no disco foi Terry Chimes (apelidado de “Tory Crimes”, ou seja, uma brincadeira que significa “crimes do partido conservador inglês”), e não Topper Headon, incorporado neste mesmo mês de abril.
Com a Virgin encarando o lançamento de “God Save the Queen”, em maio, o disco dos Sex Pistols acabou chegando ao público justamente na semana em que se comemorava o Jubileu da rainha. Nem mesmo o boicote maciço das cadeias de lojas e rádios impediu que ascendesse ao primeiro lugar das paradas.
Essa grande agitação em maio fechou com uma grande noitada punk no Rainhow Theatre, o primeiro encontro verificado na Grã-Bretanha. O evento serviu para comprovar o carisma que o Clash exercia no público, que a seu comando arrancou cadeiras do teatro e as atirou ao ar.
Daí até o final do ano, tanto o Clash quanto os Pistols amargariam problemas nas garras da policia, a qual não os perdia mais de vista, detendo-os, revistando-os, agredindo-os, sob as mais variadas alegações.
A ocorrência que mais se destacou foi à apreensão de um barco que descia o rio Tâmisa com todo o entourage dos Pistols. O passeio terminou na delegacia, com McLaren, Vivienne Westwood, os jornalistas Chris Walsh e Jon Savage e mais oito pessoas indo em cana após muito empurra-empurra e uma tentativa malsucedida de suborno.
Ao redor, o espírito que tinha caracterizado o movimento punk se deteriorava; grupos caminhavam para a dissolução; a febre disco se alastrava; e o chamado high punk chegava às butiques a preços astronômicos. O que estaria reservado para depois?
Em 76/77, o “faça você mesmo” (“Do it yourself!”) resumia de forma exemplar aquele que era e ainda é o maior mérito do movimento punk – a tomada de atitude; a mudança que se realiza pelos atos dos próprios envolvidos.
No aspecto estético, se é verdade que a Sex foi o agente catalisador, não se pode desmerecer a contribuição do chamado Contingente de Bromley, um grupo de garotos no qual se destacava Siouxsie Sioux e os Banshees (foto acima), que criaria mais tarde toda uma indumentária marcada por alfinetes de segurança, correntes, estiletes, suásticas, remendos etc.
Já no front musical, a divisão entre platéia e palco se estreitou quando Johnny Rotten incitou seus fás a formarem seus próprios grupos. Técnica era o que contava menos – o que valia era a garra, o drive, à vontade de tocar. Retomou-se o básico do rock, ou seja, o seu poder de executar. As músicas não ultrapassavam os três minutos.
A temática era extraída das vivências da população jovem: a insatisfação com as instituições, as condições subumanas de moradia e subsistência, a angústia desse tempo. Da noite para o dia surgem grupos cruciais para o punk: Slits, Subway, Sect, X-Ray Specs, Buzzcocks, Eater, Alternative TV e uma infinidade de outros, a maioria inédita até hoje no Brasil.
Também a palavra escrita foi reformulada. É a vez dos fanzines, publicações criadas por fãs e para fãs da nova música. O primeiro foi o Sniffin’ Glue, que era editado por um ex-bancário de 19 anos chamado Mark P.
Na cola, uma verdadeira avalanche de xerox desabaria sobre a Inglaterra: Ripped and Thorn, Terminal Bondage, 48 Hours, More on, London´s Outrage... A linguagem é ágil, tão urgente quanto a música por eles focalizada. Além de resenhas de discos e shows, todos traziam inflamados editoriais conclamando os leitores a formarem bandas ou editarem seus próprios zines.
Finalmente, para espalhar os novos sons, fazia-se necessária à criação de gravadoras independentes, uma vez que os grandes selos desconheciam ou evitavam qualquer associação com os punks. As pioneiras foram a Chiswick e a Stiff, que logo foram seguidas pela Pogo, Lightining, Rabid, Raw, Illegal, Step Forward, Beggars Banquet, OHMS, Rough Trade, Small Wonder e muitas mais.
Para se ter uma idéia da extensão do fenômeno basta dizer que quando a célebre revista ZigZag publicou, em 78, um catálogo destes micro-selos, já perfaziam mais de uma centena!
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