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quarta-feira, abril 08, 2009

Porque é batendo que a gente faz o bolo crescer...


Siba e a Fuloresta: por que diabos eles não tocam nas rádios?

Recebo do brodão Iram Alfaia esse textículo via e-mail:

Simão, desse jeito não dá pra preferir o alzheimer. Puta de memória. Aprendi muito com aquela experiência. Ainda acho que é o melhor formato para FM, ou seja, as notícias permeando a programação musical, mas isso não impediu, por exemplo, que pudéssemos entrevistar ao vivo o FHC e Lula na primeira disputa eleitoral. Quanto ao Rogério, não há como esquecer aquele fato, uma gafe com a qual ele deve ter aprendido muito, afinal há pouco improviso no texto jornalístico da tevê. Já adicionei teu endereço no favorito. Parabéns também ao teu pai pelos quase 86. Ah! Além da Vanessa, agora trabalho no portal vermelho.org.br na sucursal de Brasília. Abraços e quando chegar por aí ligo para continuarmos o livro (risos)

Iram

Pois é, grande Iram, também acho que aquele formato ainda dava um bom caldo, principalmente agora que há tantas coisas interessantes acontecendo no mercado musical.

Por exemplo, é comum alguém falar de maracatu, coco-de-roda e frevo como manifestações folclóricas, antigas. Mas tudo isso está vivo, transformando-se e gerando novidades. A prova é o trabalho de Siba e a Fuloresta, que só conheci recentemente graças ao fabuloso site Som Barato. Se fosse na nossa época, ele já teria “estourado” na cidade.

No som dessa banda, a música de rua e a poesia cantada da Zona da Mata Norte pernambucana dividem espaço com dub, rock e jazz.

– As pessoas me rotulam como músico regional antes de me ouvir. Mas eu me oponho ao tradicionalismo arraigado. Enxergo essas tradições com olhos de hoje – comenta Siba, que lidera os outros sete músicos – de sopro e percussão –, todos da pequena Nazaré da Mata.

Filhos legítimos de Pernambuco, os músicos de Siba e a Fuloresta já estão no terceiro disco, “Toca Brasil” (2008), que une versos de sabedoria popular com o som dos carnavais nordestinos.

– A música de rua é a base de tudo que faço. O instrumental dá suporte à poesia, às letras, que são minha prioridade – diz Siba.

Nascido na cidade cosmopolita do Recife, em uma família que até hoje mantém sua forte ligação com suas origens rurais, Siba cresceu entre a cidade e o interior, dois mundos que fazem parte de um mesmo todo, ouvindo rock e aprendendo a rimar versos da zona rural.

Foi membro da banda Mestre Ambrósio e, após morar em São Paulo por sete anos, mudou-se para Nazaré da Mata, uma pequena cidade com 30 mil habitantes, distante 65 km de Recife, onde começou a Fuloresta, em 2003.

A banda serviu de centrífuga para fundir as origens de Siba com elementos tão geograficamente distantes quanto o pop africano e o som das fanfarras dos Bálcãs.

– O frevo e o som do Leste Europeu têm raízes nas fanfarras militares. Eu cultivo as tradições, mas sem ver nisso uma prisão – define o músico.

Desde seus primeiros contatos com as tradições da Mata Norte, ele começou uma longa história de aprendizado e colaboração, exercitando ao longo dos anos os fundamentos da poesia ritmada para se tornar um dos principais mestres da nova geração do maracatu e dos cirandeiros.

Ao mesmo tempo, como membro da banda Mestre Ambrósio, desenvolveu um estilo musical inovador e singular, da qual o diálogo entre o tradicional e o contemporâneo, o passado e o presente, a rua e o palco são marcas distintas.

Seu álbum de estréia, “Fuloresta do Samba”, foi gravado com uma unidade móvel perto de Nazaré, e lançado em 2003, seguido de apresentações em todo o Brasil.

O grupo também fez três turnês européias entre 2004 e 2006, desenvolvendo com o tempo sua habilidade de adaptar uma música que dura a noite inteira para o formato mais conciso dos palcos.

– Nunca entendemos nosso passado ou nossas tradições como uma gaiola. Pelo contrário, nossa tradição nos oferece um vasto vocabulário, e nós nos esforçamos para usá-lo todo dia e a noite toda –, diz ele. “É impossível reproduzir a maneira como envolvemos toda a comunidade na poesia e nas danças durante a noite toda, mas na hora ou nos 90 minutos que os festivais oferecem temos uma grande oportunidade de mostrar nosso impacto musical”.

O disco “Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar” (2007) foi o segundo lançamento de Siba e da Fuloresta: letras diretas de uma poesia intensa, cirandas, cocos-de-roda e frevos misturados com dubs, guitarras e pianos elétricos e uma orquestra de sopros executando arranjos inovadores, junto a convidados muito especiais, como CéU, Beto Villares, Marcelo Pretto, Fernando Catatau, Isaar França e o cirandeiro Zé Galdino.

Um álbum com um inesperado tom cosmopolita, que extrapola e questiona as barreiras entre cultura popular e música pop, poesia oral e literatura e o já desgastado contraste entre tradição e modernidade.

A faixa que dá nome ao CD fala da velocidade do mundo hoje e tem a ver com a releitura que Siba faz das tradições sem perder o bonde das mudanças. “Será” brinca com o excesso de impostos no nosso país. Já “Meu time”, uma das melhores do álbum, ironiza a devoção exagerada do torcedor de futebol brasileiro.

– Os músicos são artistas de rua, e a Fuloresta precisou de uns dois anos para se adaptar, levar para o palco e para o estúdio toda essa bagagem – conta o músico recifense.

Além de Siba (voz e percussão), a Fuloresta (“uma floresta de fulô”) conta com Biu Roque (percussão e voz), Mané Roque (percussão e voz), Cosmo Antônio (percussão e voz), Zeca (percussão), Roberto Manoel (trompete), Galego (trombone) e Bolinha (tuba).

Uma das melhores músicas deles, “A velha da capa preta”, será a trilha sonora do meu enterro. A grande novidade da música está no “caco” sob medida. Quando começam os primeiros acordes, um popular grita “não é enterro não, meu irmão... não é enterro, não...” E aí começa a rolar um coco-quase-frevo. Com um pouco de imaginação, você se sente participando de um enterro pelas ruas de New Orleans...

A velha da capa preta

A morte anda no mundo
Vestindo a mortalha escura
Procurando a criatura
Que espera a condenação
Quando ela encontra um cristão
Sem vontade de morrer
Ele implora pra viver
Mas ela ordena que não
Quando o corpo cai no chão
Se abre a terra e lhe come
Como uma boca com fome
Mordendo a massa de um pão

A morte anda no mundo
Espalhando ansiedade
Angústia, medo e saudade
Sem propaganda ou esparro
Sua goela tem pigarro
Sua voz é muito rouca
Sua simpatia é pouca
E seu semblante é bizarro
A vida é como um cigarro
Que o tempo amassa e machuca
E a morte fuma a bituca
E apaga a brasa no barro

A morte anda no mundo
Na forma de um esqueleto
Montando um cavalo preto
Pulando cerca e cancela
Bota a cara na janela
Entra sem ter permisão
Fazendo a subtração
Dos nomes da lista dela
Com a risada amarela
É uma atriz enxerida
Com presença garantida
No fim de toda novela

Disse a morte para a foice:
Passei a vida matando
Mas já estou me abusando
Desse emprego de matar
Porque já pude notar
Que em todo lugar que eu vou
O povo já se matou
Antes mesmo d’eu chegar
Quero me aposentar
Pra gozar tranqüilidade
Deixando a humanidade
Matando no meu lugar


Para baixar os três discos de Siba e a Fuloresta, clique em Som Barato

É de graça, rapá!

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