No dia 25 de agosto de 1999, ao lado de Lula e Miguel
Arraes, com o apoio do papagaio-de-pirata Agnelo Queiroz, da esforçada
coadjuvante Marina Silva (no canto esquerdo) e de vários figurantes, o deputado
José Dirceu entregou ao presidente da Câmara, Michel Temer, um documento que
propunha o impeachment de FHC. Sim, parece que foi ontem...
Presidente do PT, José Dirceu caprichou na pose de defensor
da pátria em perigo ao tentar justificar o que acabara de fazer naquele 25 de
agosto de 1999. “Qualquer deputado pode pedir à Mesa a abertura de processo de
impeachment contra o presidente da República”, declamou depois de entregar ao
presidente da Câmara, Michel Temer, o documento que propunha o afastamento de
Fernando Henrique Cardoso, reeleito dez meses antes. “Dizer que isso é golpe é
falta de assunto”.
Se os celebrantes de missa negra acreditassem nos sermões
que Lula lhes sopra, o PT de 2015 teria a obrigação de enxergar no PT de 1999
um bando de golpistas a serviço do capitalismo selvagem — e o PT do século 20
teria o dever de achar que o PT do século 21 sofre de falta de assunto. Mas
vigaristas sem cura não perdem tempo com o que disseram, dizem ou dirão.
Em um vídeo disponível no canal YouTube há uma amostra da reação indignada de Dirceu
ao arquivamento do pedido de impeachment. O comandante da tropa petista no
Congresso afirma que FHC descumpriu promessas de campanhas, favoreceu esquemas
corruptos, conduziu a economia a um beco sem saída e fez concessões absurdas ao
PMDB, fora o resto. Quem ouve o samba do mineiro doido deduz que, em 1999, FHC
era uma Dilma Rousseff em miniatura, com terno, gravata e cérebro.
Com a expressão colérica recomendada a quem repetia de meia
em meia hora que o PT “não róba nem dexa robá”, o orador trata com igual
ferocidade a gramática e o chefe de governo que considera incapaz de governar.
A perda do cargo seria um castigo até brando para FHC, brada o pregador de
cabaré. (Por tais critérios, que punição mereceria Dilma Rousseff além do
impeachment? Duzentas chibatadas? A guilhotina?)
Passados 16 anos, o moralista amoral curte a segunda
temporada na cadeia. Descobriu-se que o guerreiro do povo era o disfarce do
corrupto onipresente. A herança bendita de FHC está em frangalhos. Por tudo
isso e muito mais, o vídeo virou uma perturbadora relíquia histórica. É outra
prova de que, durante longos anos, os bandidos do faroeste à brasileira
assumiram o controle do lugar e fizeram o diabo sob os aplausos do rebanho na
plateia.
Pena que o reincidente engaiolado não tenha tempo nem ânimo
para comentar o que andou fazendo em 1999. Absorvido por uma guerra particular,
o guerrilheiro de festim agora luta para safar-se da cadeia. Abre o bico apenas
para conversar com vizinhos de cela ou com o advogado. E só pensa no
impeachment do juiz Sérgio Moro.
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