Lula fazia o “esforço” de viajar no jato da Odebrecht por puro patriotismo…
Admita-se que no presidencialismo brasileiro, em que o poder
da caneta do chefe do Executivo é imenso, proporcional à capacidade que tem o
Estado de favorecer empresas bem relacionadas em Brasília, Lula não tenha sido
o primeiro a passar pelo Planalto em meio a nuvens de suspeição. A diferença é
que, com o tempo, os rumores se transformaram em indícios, fortalecidos com a
apreensão pela Polícia Federal, em junho, na sede da Odebrecht, em São Paulo,
de e-mails que indicam intromissão de uma empresa privada em atos de Estado. E,
por parte de Lula e também Dilma, uma indesejada permissividade no
relacionamento com executivos da empreiteira. A começar pelo próprio Marcelo
Odebrecht, preso em Curitiba, na Operação Lava-Jato.
Não se discute que governos de países em que há empresas que
disputam concorrências no exterior atuam para que licitações sejam arrebanhadas
por compatriotas. Mas deve haver uma linha divisória entre os interesses de
Estado e de empresas privadas, além de cuidados para que governantes não sejam
vistos como lobistas, geralmente bem remunerados.
O discurso de defesa de Lula vai nesta direção: o
ex-presidente nada mais fez do que, como vários chefes de Estado, atuar no
exterior a fim de trazer negócios para o Brasil.
Alguns dos e-mails transmitidos pela Odebrecht, até do
próprio Marcelo, na prática converteram o Planalto numa espécie de escritório
avançado da empreiteira. Com interesses em Angola, por exemplo, nas proximidade
de uma visita do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, ao Brasil,
Marcelo pediu a Lula que enaltecesse o papel de José Eduardo como “pacificador
e líder nacional”, e lembrasse a atuação de empresas brasileiras em Angola, em
especial a sua. Não deve ter sido coincidência que, no dia seguinte, ao
recepcionar José Eduardo, Lula, em discurso, afirmou que o colega soubera
“liderar Angola na conquista da paz.”
A julgar pelos e-mails divulgados, parece haver farto
material em que Lula é instruído a defender interesses comerciais da
empreiteira em seus contatos com dirigentes estrangeiros. Tudo fica ainda mais
apimentado com um e-mail de resposta a um executivo da empreiteira em que o
então ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge garante que o “PR” (presidente
da República) “fez o lobby”. Tratava-se de defender junto ao governo da Namíbia
o consórcio brasileiro da qual a Odebrecht participava na disputa pela
construção de uma hidrelétrica.
Esta clara ingerência da Odebrecht no Planalto se soma a
tudo o que foi descoberto até agora pela Lava-Jato e serve de forte justificativa
para que haja séria investigação sobre este “lobby”. Não pode pairar a suspeita
de que o Brasil virou uma republiqueta de banana em que um telefonema libera
bilhões do BNDES, em nome dos “interesses nacionais”.
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