Por Herpes
Calipígio, o novo astro de Malhação
Eu gosto de
utilizar as minhas férias de uma forma útil, trabalhando ou aperfeiçoando
línguas. No verão passado, resolvi juntar as duas coisas e passei as férias
trabalhando com a língua, embarcado num navio cargueiro. Mesmo antes de me
decidir a entrar para o teatro infantil, eu sempre sonhara em viver uma
experiência como essa. Jovem aventureiro, queria conhecer o mundo e também
queria que todo mundo me conhecesse, de fora para dentro, é claro, e não
necessariamente nesta ordem.
Assim,
engajei-me como grumete num navio de bandeira grega, o Dédalo Nokoulos, que
seguia para Atenas com uma carga de mandioca. O Dédalo é um navio imenso,
imponente e com um mastro enorme, e indomável todo envernizado, bem no meio do
convés. Logo que embarquei, resolvi me familiarizar com o jargão dos
homens-do-mar ocupados na sua faina marinheira. Eram ordens e contraordens nas
vozes grossas daqueles argonautas rústicos e destemidos: “arreganhar o lorto!”,
“empinar a churumela”, “entortar a chalupa!”, “rebobinar a tarraqueta!”,
“entalar a retranca”, “arrombar o burrão!”. Escutei fascinado aqueles gritos
viris dos velhos lobos-do-mar sussurrados no meu ouvido ainda virgem e
inexperiente nos estranhos hábitos a bordo.
Apesar de
serem homens rudes, os marinheiros gregos têm gostos refinados e, além do
antiquariato, também apreciam a música clássica e o cinema de Fassbinder.
Singramos os mares ao som de Mahler e da flauta mágica de Wagner, enquanto o
navio e eu éramos jogados para lá e para cá. Mas, graças a deus, não enjoei nem
um pouquinho. Muito pelo contrário. Ah! E a camaradagem da maruja- daü quantas
coisas aprendi durante a minha convivência com os gregos! A começar pela
democracia, que é, como todos sabem, uma invenção helênica. “a liberdade de
cada um começa onde acaba a bunda do outro!” Esta era a ordem no barco.
E as festas
a bordo? Inesquecíveis! Todas as vezes que cruzávamos o Equador tinha uma festa
em homenagem a Poseidon. E olha que a gente cruzava o equador todo dia, às vezes
mais de uma vez por dia! Vestindo apenas togas, reclinados em coxins, líamos
Platão, Sócrates, Sófocles e Xenofonte. Depois tomávamos vinho resinoso e uma
sauna relaxante. Sempre que posso repito a experiência!
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