“Tudo que escrevo é
mentira pura. Só que minha personalidade é muito forte e as pessoas acabam
criando confusão”, diz Diego Moraes
Rosiel Mendonça, do site acritica.uol.com.br
Ele recusa qualquer pinta de bom moço e diz que sonha em
falar de poesia no “Faustão”. O escritor Diego Moraes, que já se definiu nas
páginas do Bem Viver como um “garrancho lírico”, volta a lançar mão de
metáforas para falar de si: “Sou uma espécie de Woody Allen que escreve coisas
para atuar em seus próprios filmes”. Desta vez, ele anuncia o lançamento do seu
novo livro, que sairá depois do Carnaval pela editora Penalux.
“Meu coração é um bar vazio tocando Belchior” reúne novas
poesias e pequenas prosas divididas em frequências hertzianas. Ainda fiel a um
estilo de escrita com lances cinematográficos, como se cada jogo de palavras
bem sacadas se materializasse como uma película diante dos olhos, o autor
amazonense se debruça sobre temas típicos do seu universo literário: amor,
sacanagem e “brutolismo” (brutalidade + lirismo).
“Trata-se de um livro verborrágico e lírico. São contos que
falam de prostituição, alcoolismo e milagres beirando o realismo mágico.
Inclusive, tem um conto em que o protagonista escuta Belchior no peito de uma
prostituta”, adianta. No caso de um filme, que atores Diego escalaria para
esses papéis? Apesar de a experiência com cinema ser um desejo antigo, o autor
garante que o momento atual é só da literatura.
Ruas, motéis, bares e biqueiras de Manaus e São Paulo, onde
ele tenha estabelecido alguma forma de presença, são cenários comuns na
literatura de Moraes. Mais recentemente, ele passou a escrever em primeira
pessoa, o que lhe valeu o adjetivo de autoficcionista.
“Não existe isso. Apenas me coloco na cena. Tudo que escrevo
é mentira pura. Só que minha personalidade é muito forte e as pessoas acabam
criando confusão. Enjoei de escrever em terceira [pessoa]. De narrar uma
história distante. De um ponto de vista longínquo. Quero fazer parte do
delírio. Acho um grande barato confundir o leitor”, rebate.
Cigarro da discórdia
Diego Moraes é o que se pode chamar de escritor prolífico. O
perfil dele no Facebook, por si só, é como uma obra em progresso, com postagens
frequentes que facilmente ganham centenas de curtidas e comentários de todos os
cantos do País. Aliás, a Internet é a sua principal plataforma de divulgação,
tecnologia que o põe em contato com novos escritores e por onde ele articulou,
há dois anos, a criação da Flipobre, primeira feira literária 100% virtual.
Dia atrás, ele falava na rede social sobre bloqueio
criativo, que classifica como “conversa mole”. “Nunca empaquei”, garante,
atribuindo o tal bloqueio à preguiça e à procrastinação. “A literatura é um
troço muito vasto, infinito. Ela é músculo que só cresce com a prática, com o
exercício, com o ato de escrever”.
Mas que os leitores desavisados não esperem do autor
amazonense uma literatura cheia de boas intenções. Diego é como um herói
anticaretice (ou um anti-herói tranquilão), tanto que a epígrafe de “Meu
coração é um bar vazio tocando Belchior” é uma frase de Antônio Maria que data
de 1963: “O poeta tem que ignorar o próximo e odiar a si mesmo”.
“Não boto fé em gente chapa branca que acha que o escritor
deva ter compromisso social e defender uma causa como salvar baleias
encalhadas. O mundo anda muito chato e conservador”, comenta ele.
Moraes dá como exemplo uma matéria veiculada pelo portal Uol
em que ele aparece fumando um cigarro em frente ao Castelinho, antigo bar da
avenida Eduardo Ribeiro. Com a repercussão da notícia, o escritor passou a
receber e-mails e mensagens odiosas no Facebook.
“Um cara chegou a me ameaçar dizendo que pediria que
Ministério Público impedisse a circulação dos meus livros em São Paulo por dar
mal exemplo. Escritor só deve ter compromisso com a ficção. Quem gosta de lição
de moral na literatura é coroinha”.
Desafio do romance
Enquanto divulga o novo livro, Moraes também se dedica à
produção do seu primeiro romance, que já está apalavrado com a editora Record,
responsável por dez selos literários do mercado. Este será o primeiro contrato
do escritor com uma grande editora.
O convite partiu do editor executivo Carlos Andreazza, que
responde pela área de não ficção e literatura brasileira dentro da Record. Ele
chegou a anunciar a parceria com o amazonense em seu perfil pessoal: “Enquanto
isso, recomendo que o leiam também aqui no Facebook. É pornograficamente genial
(e hilário)”, escreveu.
Contista de formação, Diego começou lendo e escrevendo prosa
e só depois partiu para a poesia. Afeito a uma sintaxe que se assemelha a um
tiro, ele admite estar sendo difícil “alongar o delírio, manter o fôlego”.
“Uma coisa é escrever um conto de três páginas e outra é
escrever um romance de 300 páginas. É como trocar uma piscina de 100 metros
pelo Canal da Mancha. Mas tem sido legal. O barato da literatura é experimentar
outros gêneros. Encarar desafios e se tornar um esportista completo. Um atleta
de Triathlon”.
Vendas
Com sede em Guaratinguetá (SP) e quatro anos de estrada, a
editora Penalux é focada em literatura contemporânea brasileira e publicações
acadêmicas, com experiência recente em traduções.
Como explica o editor Wilson Gorj, o sistema de trabalho
deles é a impressão sob demanda, em que o autor começa com pequenas tiragens e,
conforme a demanda, mais livros são impressos. “Meu coração é um bar vazio
tocando Belchior” estará à venda na loja virtual da Penalux, após o Carnaval,
com entrega para todo o Brasil.
Para ler a belíssima matéria sobre Diego Moraes publicada no
caderno Aliás, do Estadão, clique aqui.
Um comentário:
Arthur Engracio foi o maior escritor amazonense de todos os tempos e um dos maiores do Brasil. É lamentável que sua obra esteja quase esquecida nesse estado.
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