“Prezada” modo de dizer, pois não
prezo por nada do que a senhora diz ou faz. Não a chamarei de ilustríssima,
excelentíssima ou meretíssima. Sou médico e nunca exigi que as pessoas me
tratassem por “doutor”. Leio, estupefato – palavra antiga, mas que cai bem –
que a senhora declarou na abertura do ano judiciário, depois de dois meses de
“merecidas” férias, que “discordar da justiça pode; o que não pode é
desacatar”.
De que justiça – com “jota”
minúsculo – a senhora fala? Da justiça que se omitiu e até legitimou golpes de
estado e ditaduras que fizeram sofrer nossa gente? De “amigos presos/ amigos
sumindo assim/para nunca mais...”? Deve ser a da Suíça, da Lua, de Marte...
Senhora, a justiça da qual a
senhora fala consome um terço do orçamento da Nação Brasileira. É o mais alto
orçamento do planeta. Seu poder, STF, leva mais de meio bilhão de reais por
ano. Mais do que todo orçamento de nossos programas sociais. Para sustentar 11
ministros e dezenas de copeiras, motoristas, engraxates, garçons, mordomos,
seguranças, etc. E a senhora vem falar em “desacatar”.
Desacato é o que a tal “justiça”
faz e sempre fez ao povo brasileiro. Lembremos que um juiz , quando é pego, ao
invés de ser preso, é aposentado compulsoriamente. Com todos os vencimentos em
dia.
A sua “justiça” deixa de punir
ladrões notórios. A senhora mesmo, num voto de Minerva – a deusa jamais
concordaria com uso tão banal de seu nome –, livrou um dos maiores corruptos e
traficantes de ser processado. Ontem mandou arquivar processos de outro notório
corrupto por “decurso de prazo, pois engavetam por 19 anos o processo.
Vossos “penduricalhos”, como
auxílio moradia, educação, creche, saúde, etc. é um acinte, num país em que o
auxílio-miséria é tratado por vossa elite como apenas comprador de votos e que
vosso “presidente” já ameaça extinguir de vez, em nome do chamado “estado
mínimo”. Eu lhe pergunto: se o bolsa família compra votos, o auxílio moradia
compra sentenças?
Hoje, leio estarrecido que uma
vossa colega de São Paulo liberou o desfile de um bloco de carnaval chamado
“PORÃO DO DOPS”. (No coments)
É essa justiça que a senhora se
revolta quando acha que é “desacatada”. Essa “justiça” que desacata todo um
povo, uma nação inteira. Meu velho pai – semi-analfabeto, porém mais sábio que
a senhora – sempre disse: “direito tem quem direito anda”. E a justiça de que a
senhora fala, anda, há muitos anos, muito feia. Por fora e por dentro.
Manoel Bione (médico e jornalista)
Manoel Bione (médico e jornalista)
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