Por Ivan Lessa
Depois de mais de duas décadas de Grã-Bretanha, acho que já
dá, de vez em quando, para eu enfileirar as coisas que gosto e desgosto aqui
por estas ilhas.
As coisas que eu gosto ficam para outro dia, uma vez que
aqui aprendi a ter o maior cuidado em não parecer que estou – conforme dizíamos
– “puxando o saco”.
Além do mais, se é que estou bem lembrado, basta a gente
elogiar uma coisa do estrangeiro, vivendo-se nele, que logo vem alguém para
criticar a nossa – e lá vêm aspas de novo – “falta de patriotismo”.
Eu não aceitei diversas coisas ligadas à cozinha.
Outras me souberam ao paladar com a naturalidade de uma
média com pão e manteiga.
É o caso do café da manhã reforçado inglês.
Aquele que vem com feijão branco de forno, salsicha inglesa
(25% é pão), cogumelos e um tomate quente e sem casca feito na panela. Com um
ovo estrelado, claro.
Mas aí já estou falando do que eu passei a gostar. Não é
esse, hoje, meu objetivo.
Não gosto de 80% dos programas de humor da televisão. É tudo
muito físico demais para meu gosto.
Sou mais os americanos, em matéria de enlatados.
O cinema também não desce redondo. Dele, faço a mesma
crítica que os franceses, que juram inexistir cinema inglês.
Há, no entanto, porque o mundo e todos seus habitantes são
um poço misterioso, a possibilidade de eu estar criticando exatamente como
eles, os ingleses, se criticam. Essas coisas – who knows? – pegam.
Tudo isso para chegar onde eu gostaria de não estar: perto
de uma gaita de foles.
Para mim a pior coisa que há na Grã-Bretanha são as gaitas
de foles, em todas as suas variações.
Mesmo em situação fúnebre, o lúgubre das gaitas de foles me
soa quase que uma palhaçada e um exagero de deboche em meio a uma situação
seríssima.
Todos os lugares-comuns me ocorrem: a gaita de foles soa
como um saco de gatos protestando contra a iminência de serem jogados no rio.
Eu pensava que gaita de foles só na Escócia. Enganei-me em
si bemol.
Elas estão em toda parte. Os irlandeses as manuseiam com –
só pode ser – maldade inaudita.
E agora, fico sabendo, no sábado, 6 de abril, Sean Connery,
ator que eu admirava, vai liderar 10 tocadores, ou executores, de gaita de
foles em Nova York, uma cidade que já teve, do ano passado para cá, coisas
bastantes com que se chatear.
Mais: os jornais me informam que as 10 mil gaitas de foles
estarão representando 30 países.
Não sei se o Brasil consta da lista. Atenção, cuidado: a
gaita de foles é ardilosa.
Se bobearem ela chega ao forró e acaba com ele.
Se isso é ou não desejável, não cabe a mim opinar.
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