Vlady Oliver
Eu me sinto exatamente como aquele morador do morro entre
duas quadrilhas, ambas trocando chumbo grosso pelo controle do tráfico no
local. Tudo o que eu quero é acordar, ir pro meu trabalho e voltar em paz. Na
minha porta não tem esgoto, não tem saúde, não tem escola nem poder público.
Mas sobram balas perdidas e corpos amontoados por todos os cantos. O “Brasil
político” que conheço é dividido em duas facções complementares, que se
interseccionam e se inter-relacionam, numa frenética troca de interesses espúrios.
Temos os “sócio-comunistas” – que inventaram o Foro de São
Paulo, a Pátria Grande e outras empulhações transnacionais, com o único intuito
de detonar os cofres públicos e drenar dinheiro para as suas organizações
paraestatais – e os “políticos da forma geral”; ladrõezinhos velhos e
conhecidos da galera, cujas intenções passam mesmo é pelos pequenos roubos e
desvios de conduta sem maiores consequências. É claro que quem quer ser
equidistante dessas duas facções não tem amigos.
Já quem toma partido de uma delas ou está quase perdendo ou
quase ganhando a batalha, no momento. Nesse caldo, é possível pensar que “assim
que defenestrarmos essa quadrilha ora no poder, voltaremos ao paraíso”. Pois eu
digo que vivemos num inferno e assim que essa quadrilha atual for defenestrada,
entraremos num novo inferno. Ou no inferno velho de sempre; como quiserem.
Simples assim.
Os milhões de indignados que saem às ruas têm
representatividade zero. Os que assumem posições equidistantes das quadrilhas
na blogosfera – e atiram para todos os lados – já contabilizam 30 milhões de
órfãos, juntos e misturados na sensação de que o Brasil é uma soma nula; um
resultado vergonhoso de tudo o que está aí. Já aqueles que se comprometem com
as “forças atuais” ou com o “progressismo” nem sabem mais em quem atiram,
furando o bote inflável no tiroteio e afundando com uma nação picareta.
Juntas e misturadas no poder, as duas quadrilhas parecem uma
só, professando os mesmos desatinos, só buscando formas originais de fazê-lo. É
nessa toada que temos um patrulhamento em nossa própria goma. Pessoas que não
se furtam a usar o mais torpe dos argumentos, que é o de matar o mensageiro
pela mensagem transmitida, sempre fingindo elegância, bons modos e as melhores
das intenções.
São pessoas que querem doutrinar o que querem ler, para não
enfrentar a própria natureza mesquinha de suas certezas edulcoradas e verdades
mancas. É nesse palco de atuações comezinhas que os “profissionais da área”
comemoram os nervos de aço de sempre, para terem que aturar tamanho estado de
putrefação contaminando suas carreiras e mesmo assim terem que ver com lentes
rosinha-bebê tudo o que estão vendo, ouvindo e fingindo acreditar.
Augusto Nunes, para mim, é o melhor jornalista brasileiro. O
mais ponderado. Aquele que sabe dosar o bom texto com o soco no estômago.
Generoso como sempre, permite que me expresse aqui com imensa liberdade de
fazê-lo. Nenhum outro espaço da blogosfera tem esse praticável montado à
disposição de seus aprendizes. É claro que isso é valioso. Ambicioso que não
sou, no entanto, trocaria tudo isso que escrevi por aqui até hoje por um país
que presta.
Acho que seria uma troca justa e mais que desejada. Sumiria
das prateleiras feliz com meus impropérios, achando que eles realmente surtiram
algum efeito prático nessa nação vigarista. Acho que meu mestre e amigo
entenderia o meu sacrifício. O Nirvana, no entanto, é logo ali. Kurt Cobain que
o diga.
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