Augusto Nunes
Um dos mais repulsivos filhotes da era lulopetista, o
humorismo a favor só não chegou aos 100% de adesão porque havia no meio do
caminho um gênio indomável. A epidemia de vassalagem atingiu tais dimensões
que, durante muitos anos, Millôr Fernandes pareceu o único a obedecer ao
primeiro mandamento da imprensa independente, que ele próprio concebera ─ e
vale para charges, cartuns, fotomontagem e demais ramificações do humor sem
cabresto: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
Por covardia, vigarice ideológica ou dinheiro, o resto
decidiu que Lula e Dilma mereciam o tratamento respeitoso, reverente ou
submisso negado a todos os governantes desde o Descobrimento. Em qualquer país
democrático, nenhum presidente diria que sua mãe nascera analfabeta sem que lhe
desabasse sobre a cabeça uma tempestade de sarcasmos, ironias, deboches e
outros castigos desenhados. Sempre impunemente, Lula fez isso e muito mais. E
qualquer presidente que enxergasse cachorros ocultos por trás de uma criança
seria afogada pela onda de desenhos inspirados em quem implora por camisas de
força. Dilma fez isso e muito mais.
Faria mais ainda se não fosse surpreendida pela ressurreição
dos chargistas livres como um táxi. Os chargistas estatizados, convém
ressalvar, continuam amplamente majoritários. Mas os discípulos de Millôr estão
de volta à paisagem brasileira e são cada vez mais numerosos. É o que atestam
os 13 exemplos extraídos da amostra reunida pela jornalista e escritora Vera
Japiassu e repassada à coluna por Moacir Japiassu, grande jornalista e escritor
do primeiríssimo time.
O renascimento do humor sem medo nem patrão é outra luminosa
evidência de que ─ apesar de tudo, apesar de tantos ─ existe vida inteligente
na terra destruída pelo estadista que não lê e arrasada pela sumidade que não
sabe o que diz.
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