Augusto Nunes
O dia e a hora da encenação, o elenco bisonho, o roteiro
mambembe, o mestre-de-cerimônias repulsivo, a arrogância dos parteiros da obra
– tinha tudo para dar errado o programa partidário de 10 minutos exibido pelo
PT na noite desta quinta-feira. E deu. Mas o que se viu superou as previsões
mais catastróficas do mais radical antipetista.
As agressões ao Brasil indignado começaram com a entrada em
cena de José de Abreu. Cicerone do passeio pelo lixão do PT, o rei de lixão de
novela puxou o desfile de ameaças e insinuações belicosas. “O caminho do
pessimismo nos leva a lugares bem sombrios e o alçapão mais perigoso é o que
nos lança no conflito, com final sempre trágico para todos”.
Um porta-voz do bloco da barba abriu o cortejo de figurantes
escalados para recitar cretinices sobre coisas que ignoram. “Durante seis anos,
os governos do PT conseguiram retardar a chegada da crise econômica no (sic)
Brasil”, mentiu. “Hoje o país vive problemas passageiros em (sic) economia”,
mentiu a representante da elite branca. “E tem gente tentando se aproveitar
disso para criar uma crise política”, mentiu o terceiro destaque do grupo de
jovens robotizados.
O espetáculo do cinismo encomendado por Lula e dirigido por
João Santana estava quase na metade quando irrompeu o bordão ilustrado por
imagens de políticos oposicionistas: “Não se deixe enganar por aqueles que só
pensam em si mesmos”. E então chegou a vez da trinca de protagonistas. Cada vez
mais parecido com um agente funerário que furta o relógio do defunto, Rui
Falcão invadiu a tela para repetir a tapeação do momento.
“Tem gente dizendo que só existe crise no Brasil, mas as
manchetes provam que há crise em toda a parte”, mentiu o presidente do PT,
amparado por dois recortes de jornal. O primeiro noticiava um soluço na bolsa
de valores da China, cujo PIB vai crescer além de 6% neste ano. O segundo
tratava do agravamento da crise da Grécia, uma espécie de Brasil da Europa.
Além de gregos e brasileiros, só estão aflitos com crises os
russos e os venezuelanos. O resto do mundo está muito melhor que o paraíso
tropical castigado pela alta da inflação, pela ampliação do desemprego e pela
paralisia nos investimentos, fora o resto. Nada disso foi mencionado no
programa, que também contornou cuidadosamente a corrupção de dimensões amazônicas,
a segunda prisão de José Dirceu ou a destruição da Petrobras.
“Eu sei que a crise já chegou na nossa casa”, fingiu
condoer-se Lula já na primeira linha do palavrório. (Não na dele: o chefão de
tudo não sabe o que é problema financeiro desde que virou gigolô de
empreiteira). Mas tudo vai melhorar, prometeu o mágico de picadeiro que não
para de pensar “naqueles que mais precisam”. (O tempo que sobra é consumido na
proteção a parentes e amigos multimilionários, como o filhote Lulinha ou os
quadrilheiros do Petrolão).
A Ópera dos Malandros foi encerrada por Dilma Rousseff:
“Quem pensa que nos falta (sic) ideias está muito enganado”, gabou-se a
recordista de impopularidade sem apresentar uma única ideia. Ao som da lira do
delírio, os idiotas no poder despediram-se dos espectadores zombando dos 71% de
brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência. Em vez de pedir desculpas ao
país que presta, o exército brancaleônico preferiu chamar para a briga a
imensidão de descontentes.
O maior panelaço da história do Brasil foi o ensaio geral
para o resposta dos afrontados, que virá em 16 de agosto. A missa negra
celebrada para salvar o governo moribundo apressou a extrema-unção. A data do
enterro será determinada pelo povo nas ruas.
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