Trata-se de um compulsivo. Um doente. Nas suas histórias,
ninguém escapa. Para ele, não tem mulher difícil. Ele não é de Caratinga, mas
assim como o Ziraldo, filho ilustre de tal sítio mineiro, nunca broxou na vida.
Terror das casadas, mestre com as viúvas, monstro priápico de todas as
donzelas, ele contabiliza mulheres imaginárias com tracinhos riscados na parede
da cabeceira da cama. Sim, amigos, vale o velho adágio: cão que muito ladra...
Estamos diante de um Casanova de araque, o falso e doentio
Don Juan, um dos personagens mais hilários, para não dizer infantis, dos nossos
modos de macho e os seus chabadabadás. O homem, o mito, a fraude. Narrativas
eróticas que jamais aconteceram à vera, apenas e tão – somente na garganta,
riacho de muitos peixes grandes do contador de vantagens. É o tipo da corrupção
que começa logo nos verdes anos, na mentira de que não somos mais donzelos, não
somos mais virgens, e daí levamos ao túmulo, incorrigíveis e tarados
falseadores.
No princípio, é uma vergonha assumir a virgindade no meio de
tantos machões que nos desfiam suas epopéias com o mulherio. Aí contamos também
a nossa “vasta experiência”. Não somos nada bocós, naquele momento, para
ficarmos com a pecha de meninos puros e bestas.
Um amigo relata no botequim que traçou uma flor do bairro ou
a gostosa da firma; ouve de imediato o coro ridículo carregado de chope,
caldinho, torresmo e testosterona à milanesa: “Comi muiiito!” Sempre a
mesmíssima história. Ah, como somos óbvios. Ninguém quer bancar o antiherói e
dizer que mal dá conta dos afazeres caseiros.
O falso Don Juan é a doença infantil e incurável do
machismo. Até quem não precisa contar vantagens acaba deslizando na tentação de
parecer o supermacho. Basta uma rodada no boteco para que a testosterona
desça-lhe à cabeça. Sim, deixa o menino brincar, como cantava o Jorge Ben das
antigas, que mal faz o delírio sexual do predador por natureza, essa praga
inevitável?!
Ah, faz sim. Não carece propagar aos quatro cantos os seus
feitos. Muito pelo contrário. Mais vale a estratégia mineira dos come-quietos
ou dos ursos pés de lã que atacam sem que ninguém perceba o alcance do bote.
Ademais, é chato para as moças. Não digo pelo velho, careta e surrado “vai
ficar mal-falada” na firma, no bairro, na pequena cidade. O ruim é que pode
enxovalhar a imagem da senhorita mesmo. Principalmente quando o Pinóquio metido
a Don Juan é a maior sujeira na área, aquele com quem nenhuma iria mesmo
arriscar a pele na cama.
Moral popular da fábula: todo homem, assim como todo
pescador que se preza, tem sempre uma aventura maior que a vara. (XS)
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