Dilma, ao contrário do que diz a sabedoria popular, está
pronta a ceder os dedos para manter os anéis. Aliás, o que Dilma mais teme é a
sabedoria popular, aquela que vem das ruas e que deve se manifestar no domingo,
16: para sobreviver, chegou a pedir socorro a Renan Calheiros. Ele tem
experiência: foi um dos principais articuladores de Collor, o primeiro a perder
legalmente a presidência.
Dilma solicitou a Renan que, no Senado, bloqueie os torpedos
disparados da Câmara por Eduardo Cunha. Como os dois são correligionários,
pediu-lhe também que neutralize o poder de Cunha no PMDB. Renan concordou e
apresentou-lhe um programa de governo, em que o que é bom não é novo e o que é
novo não é bom. Se este é o seu programa, ainda bem que não é o presidente.
Dilma almoça hoje com Lula e com o vice Michel Temer ─ de
quem não gosta, a quem sempre tratou com descaso e que foi obrigada a engolir
fazendo cara boa (o máximo possível). Por Lula, tem o temor reverencial, tem a
paixão por ele de todo petista, mas tem o medo de que Lula passe por cima dela.
Dilma, embora faça uma força danada para não governar, odiaria ser rainha da
Inglaterra.
Dilma busca a saída. Mas deveria reler (ou ler) Alice no
País das Maravilhas.
Alice ─ Poderia me dizer, por favor, onde está a saída?
─ Isso depende muito de para onde quer ir ─ responde o Gato
de Cheshire.
Alice ─ Para mim, acho que tanto faz… – disse a menina.
─ Nesse caso, qualquer caminho serve ─ afirmou o Gato.
A dona da ideia
Quem lembrou Alice, um delicioso clássico da literatura, foi
uma excelente jornalista, Bety Costa.
E ela nem citou a Rainha Louca, a que cortava cabeças.
Renan em ação
Em 1962, eleito governador de São Paulo, Adhemar de Barros
chamou o professor Delfim Netto e encomendou à sua equipe um programa de
governo. Delfim, antes da posse, entregou-lhe o texto completo. Adhemar mandou
traduzir tudo para o inglês, encadernou as duas versões e disse a Delfim: “Vou
botar na biblioteca do palácio. Quero ver agora quem diz que não tenho
programa”.
As sugestões de Renan não foram bem trabalhadas como as de
Delfim, estão apenas em português, mas seu destino é o mesmo: a prateleira. Não
são para valer: apenas servem para dar base à distribuição de cargos e
benefícios. Se fossem aplicadas, resultariam em boa melhora das finanças, mas
não das públicas.
Socorro, Janot
A melhor saída da crise para Dilma, neste momento (só neste:
mais tarde a coisa até pode piorar), depende do promotor Rodrigo Janot. Se ele
fizer a denúncia contra Eduardo Cunha, enfraquecerá o presidente da Câmara,
hoje líder inconteste da oposição. Mas pode atingir também Renan Calheiros, e
tudo muda ─ menos a situação da presidente.
Porque, vale repetir, seu problema não é a crise, não é a
política, não é Cunha: seu problema é que ninguém mais a leva a sério.
Do sarcasmo ao
deboche
O Piauí Herald
(http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/herald), publicação humorística
sofisticada, está tratando assim os problemas da presidente Dilma:
“A nova propaganda do PT começou a circular hoje:
“CASAS BRASÍLIA ─ Ciente da gravidade crescente da crise
política, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, enviou um recado para
toda a base aliada. ‘A presidenta enlouqueceu! Queima total de estoque de
cargos comissionados! Garanta o futuro de três gerações de afilhados
políticos!’, narrou o petista pelo alto-falante do Congresso, provocando
alvoroço.
“O governo prometeu lançar na semana que vem outras
propostas gestadas pelo gabinete de crises. ‘Não há tempo para mais nada!
Começou o Mandato Maluco! Toda sexta-feira, um promoção enlouquecedora para
quem fizer o cartão de fidelidade’, explicou, pausadamente, Edinho Silva num
megafone emprestado pela CUT”.
Humor involuntário
Ainda mais estranho que o comportamento da presidente em
crise é o da oposição ─ não a oposição real, comandada por Eduardo Cunha, mas a
que se proclama oposição, do PSDB. O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves,
disse que cabe ao governo, não à oposição, buscar soluções para as crises
política e econômica enfrentadas pelo país. O governador paulista Geraldo
Alckmin disse que Dilma “não pode responsabilizar os outros por problemas que
ela própria criou”.
Isso explica por que as candidaturas presidenciais de
Alckmin e Aécio deram em água de chuchu: se a oposição não tem sugestões para
resolver a crise, por que colocá-la no lugar do governo? Por que trocar seis
por meia dúzia? A propósito, se a oposição real nasceu dentro do governo, para
que oposição?
Atenção ao Supremo!
O Supremo Tribunal Federal inicia amanhã um julgamento da
maior importância: decide se é crime ou não portar drogas para uso pessoal. É
uma questão constitucional (se o Estado tem o direito de se envolver na vida
íntima dos cidadãos) e tem repercussão geral: a decisão vale para todos os
casos, em todo o país.
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