Hoje em dia é moda. Bichona não gosta da inútil paisagem,
acha que não serve pra nada, economiza uma grana, vai a um cirurgião e manda
tirar fora. Chato é o cara depois da operação – já sem a iguaba – descobrir que
está apaixonado pela enfermeira. Passa de viado a sapatão. Destino marcado pela
deusa Éphoda!
Mas, como eu ia dizendo, na época da Ashley – princípio dos
anos 50 – era preciso ser muito macho para mandar cortar o pau fora. Pois o
rapazinho, depois de passar algum tempo engajado na Marinha Mercante Inglesa –
o que terão feito com ele os velhos lobos-do-mar, hein? –, chegou à conclusão,
de que não gostava de mulheres. Ou – quem sabe? – gostava tanto que até decidiu
ser uma.
No princípio se limitou a vestir roupas de mulher. Foi
descoberto numa boate londrina de terceira pelo empresário Ali Burnett, que o
contratou para trabalhar em seu inferninho, então conhecido no mundo inteiro,
chamado Pigalle, em Londres. Mas o jovem Ashley se atormentava sempre que ia
fazer pipi. Se perguntava: “O que é que eu faço com esta inútil paisagem?” Aconselhado
pelo empresário, foi até Casablanca e mandou cortar.
Em 1963 se realizou como mulher ao se casar com Mr. John
Corbett. Viveram felizes durante seis anos, ocasião em que o marido pediu a
anulação do casamento porque “ele, apesar da operação, continua homem”. Alegou
que April mijava de pé e molhava o banheiro todo. Levou um tempão para
descobrir isso, o sacana, hein?
De qualquer modo, durante dois meses foram consultados
endocrinologistas, andrologistas, ginecologistas, psicologistas (são psicólogos
que nas horas vagas atendem no balcão como lojistas) e outros entendidos nessas
sacanagens. Depois de ouvi-los, o juiz Carl Ormerod decidiu: “Pelas evidências
apresentadas até agora, as cirurgias para a mudança de sexo não são o
suficientemente radicais (cáspite!!!) para que se modifique o sexo que a
criança tinha ao nascer”.
Quer dizer: mesmo sem pau, Ashley, então com quase quarenta
anos, foi considerado homem pela justiça inglesa e Mr. Corbett deixou de pagar
a pensão que ele deveria receber caso fosse ela. Onde andará a idosa bicha nos
dias de hoje? Eis um assunto à espera dos nossos jovens Tennessee Williams da
Silva. Conselho às bichinhas apressadas: pensem bem na triste história do Veado
de Abril antes de se decidirem a dar o piu-piu pro gato.
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