Vlady Oliver
Me digam aí: o que existe em comum entre certas torcidas
organizadas de times brasileiros, os “gerentes de franquia” dos fast foods de
fé, os hierarcas do crime nos presídios brasileiros e os militantes vagabundos
do PT e suas franjas? Todos fazem parte de quadrilhas, que se organizam no
vácuo policial existente por aqui. Infiltram-se na sociedade pagante e ficam
cacarejando, provocando, dissimulando e invertendo o sinal dos valores aqui
praticados, com o único intuito de se darem bem. Falta enquadramento nessa
cena, meus caros. Simples assim.
Qualquer marola no status vigente e tome uma lei qualquer
para proibir a sacolinha plástica, o capacete, a faca de churrasco e outras
firulas, para se deixar tudo como está e fingir que algo está sendo feito para
coibir esses ajuntamentos. Não está. Falta ao brasileiro a noção de vigília de
nossa combalida democracia. Falta a devida fiscalização da vida pública,
oportunamente sufocada por todos os bandos irmanados, que não querem
transparência em suas condutas delinquentes.
A vida não está fácil nem pra quem quer ser bandido hoje em
dia, pois o território tomado de véspera pelos fora-da-lei exige que o meliante
seja sindicalizado, pague imposto, dízimo, propina e aliciamento, se quiser
exercer a profissão criminosa sem ser molestado pelos demais integrantes desses
irmanatos da vigarice. Tirar um ignorante de sua ignorância e torná-lo um
elemento crítico desse sistema é muito difícil. Fácil mesmo é torná-lo massa de
manobra dos interesses servis de todas essas escumalhas reunidas e fazê-los
amorfos aos reais interesses de nossa sociedade.
Não é mera coincidência que estes quatro “cavalos” do
apocalipse estejam metidos até a crina na criminalidade que aqui campeia sem
lenço nem documento. Por trás de cada um deles, a ginga, a malemolência, a
vigarice rematada de várias oligarquias criminosas, todas elas querendo
garantir o inferno legislativo e burocrático em que nos encontramos exatamente
para manter as frestas por onde eles sobem na vida sem fazer força. Futebol,
igreja, roubo e política são quatro álibis perfeitos para acomodar estes antros
de picaretas reunidos.
Eles acreditam que a sociedade fará vistas grossas ao
tunganato que representam, uma vez que o outro lado do cavalo mostra um “efeito
social” que não passa de fachada para a prática impune de delitos. Notem que a
passagem da simples contravenção – tolerada e até incentivada pela sociedade –
para a criminalidade pura e simples é o moto contínuo dessas sofisticadas
organizações criminosas, no caminho do “sucesso” de suas empreitadas larápias.
Alguém no final sempre tem que pagar a conta.
Elevada à condição de comitiva presidencial, a quadrilha
petista mostra agora toda a sua real natureza: queriam mesmo era se darem bem
na vida sem fazer força, às custas dos fiéis, militontos e eleitores. Queriam
mesmo é fazer alguns de otários. Praticar pequenos furtos. Aposto que nem eles
imaginavam que chegariam tão longe com suas pretensões marretas. A polícia
chegaria antes. Até agora, não chegou. E não chegou exatamente pela forma como
as coisas se estruturam – ou se desestruturam – por aqui.
Tudo é feito para a polícia não chegar. Para o pau que dá em
Chico não dar em Francisco. Para, no máximo, o operador ser preso, sem molestar
o mandante. Me parece que um ano inteiro de denúncias diárias de uma Lava Jato
vai fazendo a sociedade lentamente acordar para os golpes a que vem sendo
vítima. Falta agora chamar a polícia. Falta que ela venha. Todo o resto se
resolve a partir daí. Ou vocês acham mesmo que são muito diferentes entre si o
bonecão de posto inflável daquele meliante, o bispo flagrado com a bíblia na
cadeia, a turma que coloca fogo no carro alegórico da escola de samba dos
desafetos e um Marcola, comandando o crime de uma prisão de segurança máxima no
interior da nação de incautos em que nos transformamos?
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