Encantar o mundo com o
futebol arte, ser a última seleção brasileira vistosa e encantadora e provar
que nem sempre o melhor vence. Time base: Waldir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho
e Júnior; Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates; Serginho e Éder. Técnico: Telê
Santana.
Nelson Motta, de O Globo
O futebol, a música e a política sempre andam juntos no
Brasil. Como preferências da nacionalidade e da identidade cultural, se
integram e se complementam para expressar o momento do país.
A conquista da Copa de 1958 não só nos livrou do complexo de
vira-latas rodrigueano como deu solidez política ao otimismo visionário de JK,
enquanto o samba-canção melancólico dava lugar à bossa nova leve, elegante e
moderna.
Nos anos Collor, uma das piores seleções de todos os tempos
foi eliminada nas oitavas justamente pela Argentina, vivíamos o confisco do
Plano Collor, a inflação explodindo e o domínio absoluto do sertanejo mais
vulgar. Deu no que deu.
Em 1970, a melhor seleção de todos os tempos foi tricampeã
no México, o governo Médici era campeão de repressão e tirania, mas a economia
bombava, e a MPB de Chico, Gil e Caetano vivia momentos de glória e fazia
história.
A seleção de 1982, de Zico, Sócrates e Falcão, uma das
melhores de todos os tempos, representou a vibração da campanha das Diretas Já
e os estertores da ditadura, enquanto o rock explodia no Brasil com Lulu
Santos, Lobão, Blitz e Paralamas. Assim como a campanha das Diretas, a seleção
empolgou e fez bonito, mas acabou derrotada.
A vitória em 2002, com o espetacular time de Ronaldo,
Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, celebrava a passagem de Fernando Henrique para
Lula em paz e democracia, movida a esperança de novas conquistas, com o samba
vivendo grande momento e nossos ritmos se misturando à eletrônica e ganhando o
mundo.
O 7 x 1 na “Copa das Copas” já prenunciava um ano turbulento
para o governo Dilma, com o ambiente político degradado por uma campanha
selvagem e um estelionato eleitoral que derrubou a popularidade e a
credibilidade da presidente. Enquanto o furacão da Lava-Jato devastava o mundo
político, a música brasileira vivia um dos piores anos da sua história.
O que está pior hoje? O campeonato brasileiro, a CBF ou a
seleção de Dunga? O governo Dilma, a Câmara de Cunha ou o Senado de Renan? O
pagode romântico, o sertanejo universitário ou o funk popozudo?
Desejar um feliz ano novo pode parecer ironia, mas é
sincero.
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