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quarta-feira, dezembro 09, 2015

Rave on the Heaven


Na última sexta-feira, dia 4, fui à sede do Clube dos Discófilos Fanáticos (CDF), na cobertura do médico e roqueiro Arnaldo Russo, para participar pela primeira vez de uma rave da turma.

Diferente das reuniões mensais em que apenas um dos onze homens de ouro ocupa o proscênio para fazer sua apresentação, na rave todos os onze participam com 25 minutos cada um para vender seu peixe.

O desafio dessa vez era cada um escolher livremente o cantor, instrumentista ou banda que mais lhe falava ao coração e fazer uma seleção do repertório do escolhido.


O primeiro a se apresentar foi Salomito Benchimol. Ele anunciou: “O cara que escolhi era filho único de um farmacêutico com uma polaca e aprendeu a tocar seu instrumento sozinho”. Quando soou os primeiros acordes de “Noites cariocas” é que soube que ele estava falando de Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacó do Bandolim.

A coletânea de quatro CDs intitulada “Chorinho Alegre” traz 24 músicas gravadas por Jacó do Bandolim e mais 62 que incluem as palhetadas e/ou as vozes de Elizeth Cardoso, Waldir Azevedo, Paquito D’Rivera, Teresa Cristina, Caraivana, Leo Gandelman, Zé da Velha, Zeca Baleiro e Yamadu Costa, entre outros. Show de bola.


Arnaldo Russo escolheu uma banda de soft rock dos Estados Unidos formada, em 1977, em Los Angeles, apenas com músicos veteranos de estúdio. A banda Toto se destacava pela apurada qualidade técnica e por utilizar diferentes estilos musicais tais como pop, rock, soul, funk e jazz.

O caseiro montou a coletânea “To All The Girls I’ve Loved Before...”, com 12 canções da banda em que eram utilizados exclusivamente nome de mulheres: “Rosanna”, “Pamela”, “Holyanna”, “Melanie”, “Lorraine”, etc. Um biscoito fino pra quem gosta realmente de mulher.


Acram Isper escolheu o cantor Neil Diamond por um motivo simples: na primeira vez em que foi aos Estados Unidos, em 1971, durante um intercâmbio estudantil, conheceu o músico pessoalmente durante um show no Texas e se tornou seu fã incondicional.

Ele batizou a coletânea de “Hot December Nights” e selecionou 58 músicas do seu acervo particular. No set list, “Crackin’ Rosie”, “I Am… I Said”, “New Orleans”, “If You Go Away”, “Chelsea Morning”, “Holly Holly”, “September Morn”, “I’m A Believer”, “Cherry, Cherry”, “Solitary Man” e “Song Sung Blues”. Simplesmente brilhante.


Lúcio Bezerra foi buscar nos tempos de adolescência – quando tinha uma namorada que morava em Letícia e lhe enviava discos latinos de presente – a inspiração para escolher o cubano Sílvio Rodriguez.

Entre outras coisas, Silvio ajudou a construir com Pablo Milanés, Noel Nicola e Vicente Feliú o movimento musical denominado Nova Trova Cubana, caracterizado pela crítica social, pelo compromisso com a revolução, pela densidade poética e pela ousadia em termos musicais.

A coletânea “Con Silvio Rodriguez por favor...” traz 18 pérolas entre as quais “Pequena Serenata Diurna”, “Mi Lecho Está Tendido”, “Unicornio”, “Cancion Urgente Para Nicaragua”, “La Maza”, “The Doy Una Cancion”, “Playa Giron” e “Sueño De uma Noche de Verano”. Licor dos deuses.


Augusto Menezes escolheu a banda Pink Martini, da qual eu jamais ouvira falar, mas que agora sei que ela surgiu, em 1997, no Oregon, Estados Unidos e que tem uma proposta muito interessante. O grupo se descreve com arqueólogos da música e o site deles cita influências que passam pelos musicais da era de ouro de Hollywood, a música japonesa da década de 50 e a bossa nova.

Das 21 músicas selecionadas pelo Augusto, a que mais me impressionou foi “Mas Que Nada”, o clássico do Jorge Ben, cantado em japonês pela Saon Yuki. Mas também tem belezas puras e muito raras como “Sympathique” (que lembra a Edith Piaf), “Quizás, Quizás, Quizás”, “Happy Days”, “Dream A Little Dream”, “Let’s Never Stop Falling In Love” e “Ich Dich Liabe”. Fantástico!


Osvaldo Frota escolheu a atriz e cantora Rita Pavone, que eu conhecia mais das sessões de vesperal do Cine Ypiranga nos anos 60 (“Rita no Oeste”, “Rita O Mosquito”, “Os Pistoleiros do Oeste”) do que das paradas musicais (além do clássico Datemi Un Martello”, eu só conhecia outra canção que ela havia gravado, “Sapore Di Sale”.)

Pois não é que na coletânea “Fortíssima”, selecionada pelo Osvaldo Frota, a italianinha está à vontade cantando clássicos como “Once Upon A Time”, “All Night Long”, “Rainin’”, “I’ve Got Under My Skin” e “Oh Carol”? São 17 pedradas da melhor qualidade. Confesso que, pra mim, esse disco foi uma das grandes surpresas da noite. Mas a noite estava apenas começando...


Roberto Benigno escolheu o cantor Jamie Cullum, de quem eu também nunca tinha ouvido falar antes, e selecionou 15 músicas para a coletânea “Don’t Stop The Music”. Pelo que li em alguns sites, Jamie Cullum é um cantor inglês e pianista de jazz contemporâneo que está sendo considerado uma referência na recriação do gênero ao pegar músicas antigas de jazz – Cole Porter, Nina Simone, Frank Sinatra – e coloca-las em uma roupagem absolutamente nova.

A coletânea do Benigno mostra que a recriação feita pelo pianista não se limita à velha guarda do jazz, mas também aos ícones do pop, do drum’n’bass e do rock, como Michael Jackson, Radiohead, Jimi Hendrix, Roni Size, etc. Um disco ultrassofisticado e muito, muito interessante.


Edson Gil Costa resolveu exagerar e convocou seu amigo particular Zé Luiz Mazziotti para participar da esbórnia. É o próprio Zé Luiz que conta: “Eu sempre tive vontade de entrar num estúdio de gravação, pegar meu violão e ir cantando o que sentisse vontade. Preparei algumas letras que não sabia de cor, dei uma olhada em algumas das harmonias que tinha dúvidas, entrei no estúdio do produtor Cesare Benvenuti, que tinha sido produtor de meu primeiro LP, e gravei 21 músicas com a ajuda luxuosa do técnico de som e amigo Renato Lucas de Carvalho”.

A coletânea “Zé Luiz Mazziotti – Inédito Na Itália” traz “A Dança da Solidão”, “Todos os Mares”, “Beija-me & Se acaso você chegasse”, “Lapinha”, “Cobras e lagartos”, “Choro bandido”, “Anos dourados” e “Mar de Copacabana”, entre outros docinhos de coco que derretem na boca. Sensacional.


Expedito Teodoro escolheu Elvis Presley e selecionou 129 músicas do cantor para a magnífica coletânea “Elvis Não Morreu”, o que deixaria qualquer fã do astro de água na boca (como eu fiquei!). Se o rei do rock vivesse ainda hoje, teria completando 80 anos em janeiro. Mas apesar de Elvis Presley ter morrido jovem, aos 42 anos em 1977, ele já teve histórias para dar, contar e vender por séculos a fim. Não à toa, Elvis ainda hoje é um dos artistas mortos que mais lucram no mundo, o que alimenta a velha frase: “Elvis não morreu!”.

Na parte interna da coletânea (que é magnífica, volto a frisar!), Expedito Teodoro relacionou várias curiosidades sobre o cantor, mas como o texto foi escrito em corpo 8 seria necessário utilizar o telescópio espacial Hubble para ler – coisa que, por enquanto, está fora de minhas condições econômicas. 

Então, cito apenas uma curiosidade que recordo de memória: Elvis Presley ganhou seu primeiro violão de presente de sua mãe em seu aniversário de 11 anos, em 1946. O presente teve o objetivo de convencer Elvis a desistir da ideia de comprar uma espingarda. Deu certo.


Waldir Menezes resgatou a cantora, compositora e multi-instrumentista Janis Ian, dona de uma das vozes mais melodiosas do planeta, com a coletânea “To CDF With Love”, que conta com 17 preciosidades tanto da folk music quanto do legítimo pop americano.

Janis teve uma carreira musical de sucesso nos anos 1960 e 70 e continuou gravando até os anos mais recentes. Apesar de ser uma joia rara e quase desconhecida, ela foi a primeira convidada musical da história do programa Saturday Night Live.

Em 75, ganhou um Grammy Award pela sua canção “At Seventeen”, incluída nesta coletânea ao lado de “Ruby”, “Stars”, “Paris In Your Eyes” e “Other Side Of The Sun”. Música das estrelas, das esferas, do novo aeón.


Humberto Amorim foi outro que também resolveu se superar e brindou a plateia com uma coletânea de Eddie Rosner e sua orquestra. Como eu já havia enchido a cara de manguaça (Jack Daniel’s e Double Black), só fui ligar o criador à criatura no dia seguinte, ao me lembrar que havia assistido no ano passado o documentário “O Jazzista do Gulag” (“The Jazzman from the Goulag”, 1999), do Pierre-Henry Salfati.

O filme retrata a extraordinária vida de Eddie Rosner, primeiro músico de jazz do mundo comunista. Judeu nascido na Alemanha e um dos mais jovens trompetistas da Europa nos anos 1920, ele foi apelidado por Louis Armstrong como “Armstrong branco”.

O documentário retrata a trajetória deste glorioso jazzista que, graças ao genial talento musical, sobreviveu ao horror e à pobreza do exílio no Gulag – campos de trabalho forçado para onde eram enviados prisioneiros políticos do império soviético.

Por meio de imagens de arquivo, documentos raros e depoimentos de seus contemporâneos, o diretor francês Pierre-Henry Salfati e a escritora russa Natalya Sazonova mergulham em um documentário inédito sobre a história de um fascinante artista que perdeu tudo o que tinha. Menos o profundo amor pelo jazz. A coletânea do Humberto Amorim caberia muito bem como trilha sonora do documentário.

Abaixo, mais alguns flashes da fuzarca, incluindo a patuleia...
































Um comentário:

Lúcio M S Bezerra de Menezes disse...

Simplesmente demais, People! Aquele abraço!