O personagem infantil Curumim – criação do jornalista e
diretor de redação do jornal Em Tempo, Mario Adolfo – vai se transformar em
Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Amazonas. O projeto, de autoria do
deputado Dermilson Chagas (PDT), foi aprovado por unanimidade pelos
parlamentares da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) agora em novembro e
deve ser sancionado pelo governador José Melo (Pros).
Considerado o último herói da Amazônia, o Curumim circula
encartado como suplemento infantil nos jornais de Manaus há 32 anos. O
personagem amazonense é símbolo da preservação e conscientização ambiental
desde 1983. De acordo com autor do projeto, o personagem consegue resgatar a
história do Amazonas, através de simbologias da realidade local.
“Quando andamos por Manaus, são poucas as ruas e lugares que
lembram a nossa fauna, a nossa flora, nossa história e nossas raízes. O Curumim
promove esse resgate do que temos de melhor, falando do meio ambiente, da
sociedade, do nosso passado. Quero continuar vendo os encartes no fim de
semana, e gostaria muito que fosse mais difundido nas escolas, nas
instituições, nas ruas, para que mais crianças conheçam esse patrimônio
cultural que temos“, disse Dermilson.
Já a deputada estadual Alessandra Campelo (PCdoB) contou que
tem uma ligação afetiva com o personagem, que lê desde criança. “O Curumim
relembra bastante minha infância, pois foi um personagem que acompanhei nessa
fase. Sempre tratou a questão ambiental e nossa realidade usando uma abordagem
didática que cativa as crianças. É um elemento fundamental do nosso patrimônio
cultural, que traz consigo uma representatividade fiel da nossa terra. Mario
Adolfo foi muito feliz com essa ideia”, concluiu.
Em depoimento, o deputado Bi Garcia (PSDB) prestou suas
homenagens dizendo que “transformar o projeto Curumim em patrimônio cultural
imaterial do Amazonas é um agrado para as crianças do nosso Estado”. “Além de
ser um personagem defensor das nossas florestas, tem um nome muito característico
da nossa gente, principalmente por ser uma expressão muito usada pelos
moradores do Baixo Amazonas para se referir aos pequenos. Parabenizo o criador
do personagem, o jornalista Mario Adolfo, por idealizar esse retrato do moleque
amazonense e também louvo a iniciativa do deputado Dermilson Chagas, autor do
projeto de lei.”
Mario Adolfo agradeceu a sensibilidade do autor do projeto e
disse estar feliz em “tocar o sonho em frente com o filho, o publicitário
Marcus Vinicius”. “O Curumim, criado em 1983, já chegou falando em defesa do
meio ambiente e ecologia quando isso ainda não era moda. O maior elogio que
recebi foi quando uma professora de filosofia me disse que o Curumim era a
Mafalda da Amazônia, uma comparação com a personagem famosa do cartunista argentino
Quino. Para mim, é um reconhecimento a um trabalho de quase 35 anos. Hoje os
e-mails que chegam ao jornal são de pais que leram o Curumim quando eram
crianças e estão passando aos seus filhos. Outra coisa confortante é encontrar,
hoje, pessoas, como encontro, dizendo que são ecologistas porque liam o Curumim
quando eram crianças. Quer dizer, a semente do amanhã foi plantada”, disse.
O último herói da
Amazônia
A primeira publicação do Curumim aconteceu em 1983, em um
suplemento veiculado pelo jornal “A Crítica”, local onde Mário Adolfo
trabalhava naquela época. O proprietário do periódico, Umberto Calderaro Filho,
sentiu a necessidade de uma publicação infantil. “Tive inspiração no meu filho
mais velho, o Mário Adolfo Filho. Nesse período, ele tinha dois anos de idade.
Eu estava tentando criar a arte e, ao passar em frente ao local onde estava
sentado, vi que ele tinha a aparência de um indiozinho: o cabelo liso, com uma
franja, gordinho e barrigudinho. Nasceu, então, o Curumim”, relembra.
Mário Adolfo lembra que a primeira edição foi publicada no
dia 1º de maio e abordava o tema “ecologia”. “Naquela época nem se falava em
preservação do meio ambiente. Graças a este trabalho a criança pode ter acesso
a informações de conscientização sobre os recursos naturais”, explica. No final
do mesmo ano o Curumim ganhou o seu primeiro amigo. Uma tartaruga chamada Sarah
Patel, que viria reforçar as campanhas sobre a preservação da espécie. O
terceiro personagem criado foi o Jacaretinga, seguido da Murupi, esta última transformada
em namoradinha do personagem principal. Seu nome é uma referência a um tipo de
pimenta muito utilizado na culinária amazonense.
Outro elemento que integra a turma é o Mr. Okey, um vilão
estrangeiro que invade a Amazônia com o intuito de exportar os recursos
naturais existentes na Região Norte. A lista de integrantes ainda é composta
por Jara, um simpático jaraqui, e Lourival, um papagaio-jornalista que reside
na floresta. O último personagem foi baseado no Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST). Trata-se da Leiloca, uma minhoca que não tem onde
morar, apesar de ser oriunda da terra.
Em sua longa trajetória, o indiozinho tem levado informação,
cultura e divertimento a várias gerações de crianças em todo o estado. O
Curumim virou cartilha educativa sobre a história do Amazonas, lançada na
Suécia, em 1988. Teve suas tirinhas publicadas na coletânea “Curumim, o último
herói da Amazônia”, lançado na feira do Serviço Social do Comércio (Sesc), em
1993.
Contou a história do Festival de Óperas do Amazonas na revista em
quadrinhos A.E.I. Ópera, lançada pela Secretaria de Cultura (SEC), na Bienal Internacional
do Livro, no Rio de Janeiro, em 2000. Contou a história do livro na I Bienal do
Livro do Amazonas – Curumim conta História do Livro, em 2012. Foi o mote de uma
campanha de conscientização ambiental do Festival de Parintins – Curumim
Contrário ao Lixo, em 2013.
O indiozinho também foi tema da 30ª edição da Feira
de Livro, do Sesc, este ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário