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sexta-feira, fevereiro 23, 2018

Sim, é apenas um comentário sobre a foto...



Por Ismael Benigno

Independentemente de quem mandou intervir na segurança do Rio de Janeiro (e foi o Vampirão, por razões óbvias e outras inconfessáveis), as forças armadas estão na rua. Se formos todos sinceros, vamos admitir que ninguém sabe no que vai dar. Em sendo o local o Brasil, a chance de dar merda é altíssima.

Apenas um comentário sobre a foto que correu a internet hoje, de crianças pequenas tendo mochilas revistadas por soldados do Exército. Vi dezenas de pessoas, amigas ou não, indignadas com a situação. E não consigo resistir a perguntas tão óbvias quanto a situação deprimente da segurança brasileira.

Primeira: vocês acham que as crianças das favelas não têm contato diário e próximo com fuzis como os da foto? Talvez a diferença seja apenas a do FAL brasileiro, dos soldados, para o AR-15 americano, dos bandidos.

Vocês acham que a violência da cena da foto é inaugural para essas meninas e meninos? Ou para piorar ainda mais a conjectura: se o destino de crianças em favelas brasileiras é conviver com homens armados, soldados do Exército ou bandidos, sem direito a uma terceira opção, o que vocês escolheriam? Ou os bandidos não invadem casas e violentam meninas – muitas vezes filmando – nas favelas?

Vamos combinar, para começo de conversa, que favela nem deveria existir. Mas soluções de longo prazo não são pro bico do Brasil, então esqueçamos.

Depois, criança perto de fuzil nunca ornou muito qualquer paisagem de país que se preze. A diferença, aqui, é que o fuzil da foto está ali para proteger a criança, e não para ameaçá-la.

Pra falar a verdade, nenhum fuzil assusta mais ninguém nos morros cariocas. E essa é a grande tragédia brasileira.

Concordo totalmente que a população se arme de celular, gravador e filmadora para monitorar qualquer abuso nas abordagens à população.

Mas pergunto, pra finalizar, aonde estavam os protetores dos direitos das comunidades das favelas, quando o caso era flagrar, filmar, denunciar e expor as atrocidades cometidas por traficantes contra os inocentes dos morros?

É mais do que salutar vigiar o poder público para evitar as atrocidades e as arbitrariedades que os militares brasileiros já mostraram saber fazer no passado.

Mas seria também muito bem-vindo que os blogueiros, youtubers e humoristas da paz se dispusessem a ir vigiar o comportamento de quem sempre mandou nos morros, de fuzil na mão, sem representar absolutamente nada que fosse benéfico para os morros.

Do fim da ditadura militar, em 1985, foram-se mais de 30 anos. Fazer experimento acadêmico tornando o Exército o bandido invasor, em homenagem a uma época em que a maioria dos ativistas de hoje nem sonhava um dia nascer, é muita falta de vergonha na cara.

A gente sabe, claro, que brasileiro não sabe ser mocinho o tempo todo. Provavelmente vai dar merda, mesmo.

Mas se indignar com soldado armado e não dar um pio para bandido armado é o suprassumo da covardia de quem não tem contato com nada desse mundo cão dos morros, a não ser pelo cigarrinho de maconha que finge não saber de onde e a que custo chegou na sua rodinha de violão.

Foi por muitas outras coisas, porque a coisa é complexa demais, mas também foi com o violão e a cara de paisagem de muita gente que a imagem dessa foto foi ganhando cores tão tristes.

Um comentário:

VELOSO disse...

Disse tudo e disse bem!