Por Ismael Benigno
Independentemente de quem mandou intervir na segurança do
Rio de Janeiro (e foi o Vampirão, por razões óbvias e outras inconfessáveis),
as forças armadas estão na rua. Se formos todos sinceros, vamos admitir que
ninguém sabe no que vai dar. Em sendo o local o Brasil, a chance de dar merda é
altíssima.
Apenas um comentário sobre a foto que correu a internet
hoje, de crianças pequenas tendo mochilas revistadas por soldados do Exército.
Vi dezenas de pessoas, amigas ou não, indignadas com a situação. E não consigo
resistir a perguntas tão óbvias quanto a situação deprimente da segurança
brasileira.
Primeira: vocês acham que as crianças das favelas não têm
contato diário e próximo com fuzis como os da foto? Talvez a diferença seja
apenas a do FAL brasileiro, dos soldados, para o AR-15 americano, dos bandidos.
Vocês acham que a violência da cena da foto é inaugural para
essas meninas e meninos? Ou para piorar ainda mais a conjectura: se o destino
de crianças em favelas brasileiras é conviver com homens armados, soldados do
Exército ou bandidos, sem direito a uma terceira opção, o que vocês
escolheriam? Ou os bandidos não invadem casas e violentam meninas – muitas
vezes filmando – nas favelas?
Vamos combinar, para começo de conversa, que favela nem
deveria existir. Mas soluções de longo prazo não são pro bico do Brasil, então
esqueçamos.
Depois, criança perto de fuzil nunca ornou muito qualquer
paisagem de país que se preze. A diferença, aqui, é que o fuzil da foto está
ali para proteger a criança, e não para ameaçá-la.
Pra falar a verdade, nenhum fuzil assusta mais ninguém nos
morros cariocas. E essa é a grande tragédia brasileira.
Concordo totalmente que a população se arme de celular,
gravador e filmadora para monitorar qualquer abuso nas abordagens à população.
Mas pergunto, pra finalizar, aonde estavam os protetores dos
direitos das comunidades das favelas, quando o caso era flagrar, filmar,
denunciar e expor as atrocidades cometidas por traficantes contra os inocentes
dos morros?
É mais do que salutar vigiar o poder público para evitar as
atrocidades e as arbitrariedades que os militares brasileiros já mostraram
saber fazer no passado.
Mas seria também muito bem-vindo que os blogueiros,
youtubers e humoristas da paz se dispusessem a ir vigiar o comportamento de
quem sempre mandou nos morros, de fuzil na mão, sem representar absolutamente
nada que fosse benéfico para os morros.
Do fim da ditadura militar, em 1985, foram-se mais de 30
anos. Fazer experimento acadêmico tornando o Exército o bandido invasor, em
homenagem a uma época em que a maioria dos ativistas de hoje nem sonhava um dia
nascer, é muita falta de vergonha na cara.
A gente sabe, claro, que brasileiro não sabe ser mocinho o
tempo todo. Provavelmente vai dar merda, mesmo.
Mas se indignar com soldado armado e não dar um pio para
bandido armado é o suprassumo da covardia de quem não tem contato com nada
desse mundo cão dos morros, a não ser pelo cigarrinho de maconha que finge não
saber de onde e a que custo chegou na sua rodinha de violão.
Foi por muitas outras coisas, porque a coisa é complexa
demais, mas também foi com o violão e a cara de paisagem de muita gente que a
imagem dessa foto foi ganhando cores tão tristes.
Um comentário:
Disse tudo e disse bem!
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