Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quarta-feira, janeiro 19, 2011
Como carcar a sua prima
Desde que você tenha uma prima, evidentemente, é fundamental que ela seja gostosa, alegre, divertida e com cara de safada.
Como você deve saber, essas não abrem o jogo logo de cara, escondem o leite, são difíceis pra burro, fazem o tipinho encruado.
São como ostras, e você deve ter muita paciência e uma ilimitada delicadeza para abrir-lhes a concha e roubar a pérola lá de dentro.
Mas, de repente, bicho, a sua prima é modelo standard, daquelas que vêm visitar a tua família de tempos em tempos.
Ela é alta, linda, tem umas coxonas maravilhosas, vive toda bronzeada de sol e, só pra te sacanear, tem os olhos verdes.
Um monumento de 19 aninhos, que vive indo e vindo de Aruba, Cancún e Curaçao.
Para dar um tesão ainda maior, também é fundamental que ela seja filha do teu tio mais filho da puta, aquele ex-deputado federal ou juiz aposentado, que tem um desprezo olímpico pelo resto dos parentes.
Como agarrar a fera? É simples. Espere as férias chegarem.
Alegando que tem de trabalhar feito um condenado, você fica em casa, enquanto o resto da família se manda para um desses paraísos tropicais vendidos em dez prestações, pelo cartão de crédito. E sem entrada.
Certifique-se antes, porém, de que a tua priminha esteja na cidade (nem que seja só por alguns dias) senão o plano vai por água abaixo.
Ligue numa noite qualquer para ela e finja estar muito doente, com febre reumática, febre do feno, febre hemorrágica provocada por hantavírus, broncopneumonia terminal ou algo do gênero.
Você, sussurrando no telefone, com voz rouca, gemendo de dor, diz que está para morrer, que ligou apenas para se despedir dos parentes. Exagere tudo, arme a maior tragédia.
Ela vai se apavorar e dizer que está sozinha, o que você já sabia, pois telefonou antes, disfarçando a voz, fingindo querer falar com o pai ou a mãe, mas eles tinham saído, haviam ido jogar pôquer em Las Vegas, Monte Carlo, Atlantic City, uma porra destas.
Você insiste:
– Se você não vier, eu não sei o que vai me acontecer.
E ela diz:
– Tá bem. Tô indo.
Aí, você arma todo o esquema. Vai até o minúsculo banheirinho dos fundos, deixa apenas uma toalha de mão e esconde um canivete atrás da privada.
Em seguida, pega uma corda do armário de ferramentas e a deixa bem à vista no varal. Agora é só esperar.
Quando tua linda priminha tocar a campainha, você se certifica, pelo olho mágico, de que ela está sozinha.
Se tudo estiver nos conformes, você finge estar com dificuldades de se levantar da cama, o que serve pra aumentar ainda mais o sufoco da garota.
Suspense armado, ela toca mais duas vezes a campainha. E, aí, você abre.
Antes, porém, você deve ficar com a testa sendo iluminada por uma lâmpada de 100 watts e tomar dezoito pílulas de Buscopan, fora do prazo de validade, que vão te deixar mais verde do que o Hulk e ardendo numa febre de 40 graus.
Quando ela te vê naquele estado, se apavora toda e vai dizer:
– Nossa, você está mal mesmo! O que aconteceu?...
– Não sei – você deve dizer, fingindo uma doença fatal e muita dor na barriga, costas e pescoço. Se der pra tossir até ficar com falta de ar, aproveite.
Nisso, dois assaltantes invadem a casa, vestidos de Batman & Robin, e armam o maior fuzuê.
Gritam, esperneiam, te intimidam, te jogam no chão, dão umas porradas, chutam tuas costelas, judiam mesmo.
– Vamos arrebentar com vocês dois, seus playboys fuleiros! – eles berram, enquanto pegam várias coisas e colocam em um saco.
A priminha se apavora, pedindo clemência. E você, todo machão:
– Não façam nada com ela, por favor. Podem levar tudo que quiserem, mas não toquem na menina!
Mas é tudo um teatrinho que você bolou com antecedência: os assaltantes são dois amigos teus, com quem você tinha armado tudo na noite anterior.
Inclusive vocês ficaram ensaiando muito, para que não acontecesse nenhum imprevisto, como aquele chute nas costelas que quase pegou no teu saco.
Em tom bem cafajeste, Batman & Robin mandam que vocês tirem as roupas. Apavorados, vocês obedecem.
Em seguida, eles trancam vocês no banheirinho dos fundos e vão terminar de limpar a casa. Vocês ouvem todo o barulho lá de dentro.
E vocês ficam lá, nuzinhos em pêlo.
Depois de olhar aquele corpo maravilhoso da priminha milímetro por milímetro, os peitinhos lindos e assustados e aquela pentelheira selvagem, você dá uma de cavalheiro e a envolve com a toalha, dizendo:
– Toma. Você deve estar com frio.
Aquele gesto elegante, com certeza, a desarma completamente e ela começa a sentir uma certa ternura por você.
Ela vai saber que todos os adjetivos que o tio dela usava para falar de você durante o almoço (“anarquista”, “safado”, “mulherengo”, “biriteiro”) eram fruto do preconceito.
Você é um cara gentil. Mas a toalha é curta, cobre apenas a parte de baixo, deixando a sua priminha com os peitos de fora. Você a abraça, dizendo:
– Não fique com medo. Eu vou resolver tudo.
Nisso, Batman & Robin abrem a porta do banheirinho, mais putos do que nunca, xingando todo mundo de filho da puta, fazendo o maior rebu, empunhando uma metralhadora (que você sabe ser de brinquedo) e ameaçando estourar os miolos de vocês dois.
Com certeza, a sua prima vai gritar, se descabelar e soltar a toalha.
Eles, então, amarram vocês um contra o outro, dando várias voltas na corda pra deixar os dois bem apertadinhos. Detalhe: você fica encostado na bunda da priminha.
Eles trancam a porta e se mandam.
Lá de dentro, vocês ainda ouvem:
– Vamos pegar o bat-vídeo e puxar o carro, Robin.
A priminha no maior choro e você começa a se mexer, dizendo:
– Vem mais pra direita.
– O que você vai fazer?
– Deixa comigo.
E você continua se movendo, se esfregando, no maior tesão, sempre tentando acalmá-la.
– Não se preocupe. Agora, preste atenção, vamos nos abaixar bem devagarinho.
Como você tinha combinado, Batman & Robin amarraram tudo, mas deixaram uma das tuas mãos soltas.
Vocês estão acocorados, a prima praticamente sentada no teu colo.
Na hora que você acha o ângulo propício, com a mão livre posiciona a espada no lugar certo e, pimba, faz o primeiro gol de bola e tudo. Mas diz:
– Desculpa. Só mais um pouco pra direita, vem.
E, em seguida:
– Achei. Peguei.
– O que você pegou?
– O canivete.
E o herói da noite, então, tenta cortar as cordas bem de-va-ga-ri-nho.
E vai cortando e se mexendo prum lado e pro outro, entrando e saindo da priminha, entrando e saindo, entrando e saindo, até que consegue livrá-la do sufoco, depois de uns dez minutos de vai-e-vem.
E ela, com certeza, vai fazer aquela carinha safada que você conhece tão bem e dizer:
– Obrigada. Você foi ótimo.
Apenas pra fechar a cena.
Sem querer, você bate o cotovelo na torneirinha e o chuveiro começa a jorrar água fria em vocês dois, nuzinhos da silva, e ela vai rir, e se abraçar em você, e seu pau vai ficar duro, e ela vai pegar nele com carinho, e te beijar na boca, e vocês vão começar tudo de novo, só que agora pra valer.
O seu tio, quando souber, vai te deportar pra Sibéria.
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Um comentário:
caralho, que viajem maluco, vai ser diretor de filme de ficção científica, isso nunca irá funcionar
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