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quarta-feira, janeiro 19, 2011

Como carcar uma balconista


Escolha um shopping center e uma época do ano em que a economia do governo deixa os comerciantes com vontade de darem um tiro na testa.

Fique passeando pelos corredores apenas analisando a miséria das lojas, os atendentes laçando clientes no grito, gerentes arrancando os cabelos, aquele clima.

Como as balconistas recebem na base da porcentagem, você tem uma idéia do que elas são capazes de fazer para ganhar um freguês.

Pronto. Você achou a loja perfeita: apenas duas atendentes, uma loira, outra morena, provadores de roupa no fundo, meio escondidos e o gerente almoçando. O paraíso.

Antes de entrar, porém, você terá de entortar a mão esquerda como se tivesse um terrível defeito físico.

No resto, você está impecável, um terno moderno e bem desenhado, calças largonas, uma gravata combinando com o cinto e sapatos importados. O próprio executivo de multinacional, salário nas nuvens, oito cartões de crédito e passaporte mais carimbado que documento do INSS.

Com um charme a mais: você tem sobrenome famoso (Paiva, Simonetti ou Valois) e tem os cabelos grisalhos, o que, desde já, promete algumas delícias da estabilidade econômica, como, no mínimo, uma viagem a Aruba a cada 15 dias, compras em Nova York ou coisa do gênero.

Balconista de shopping adora este tipo de macho. Elas vêem nele a possibilidade de uma trepidante e vertiginosa ascensão social.

Ao entrar, as duas vão cair de boca no único cliente do dia, falando abobrinhas do tipo:

– Pois não, doutor. O senhor gostaria de ver nossa seção de gravatas importadas? Prefere ver os blazers? Que tal essas camisas pólo Ralph Laurent? Sinceramente, mas acho que um blazer Giorgio Armani, com corte reto, lapela inglesa e cor cinza perolado, combina muito mais com a sua elegância e estilo.

Escolha a morena. Como se sabe, depois daqueles papos furados sobre loura-burra, 80% das loiras ficaram espertas demais para este tipo de abordagem.

As morenas são mais dóceis, malemolentes, puras, ingênuas, verdadeiros frutos da terra.

Ela vai reparar logo de cara no teu defeito físico, que você tenta falsamente esconder sem muito êxito. Vá passeando pela loja com um olhar superior e crítico.

Ela virá atrás, como um cachorrinho ensinado, dando idéias, falando asneiras e sugerindo roupas.

De repente, você pára, olha bem dentro dos olhos dela, finge um embaraço qualquer e diz:

– Na verdade, senhorita, eu tenho uma dificuldade: não consigo escolher as roupas principais antes de ter conseguido me resolver pelas mais íntimas.

E ela:

– Mas, claro, não há problema algum. Vamos lá para o fundo da loja.

E vocês vão onde estão as meias e as cuecas.

Você continua:

– É uma convenção muito importante em Paris, sabe, mas eu deixei tudo pra última hora e veja você, agora essa correria...

Ela dirá que compreende, mas que vai resolver tudo da melhor maneira possível. E bem rápido.

Você acaba escolhendo um modelo de cueca tipo sunga bem apertada. E diz:

– Na verdade, senhorita, eu tenho uma outra dificuldade, você já deve ter percebido...

Ela vai olhar direto pra tua mão torta.

– Você sabe, é difícil pra mim tirar as roupas, colocar, experimentá-las. Se a senhorita pudesse me ajudar...

E a balconista, solícita, vai emendar, toda carinhosa:

– Imagina, eu compreendo, tudo bem, deixe comigo.

Vocês vão até o provador.

Antes, porém, para limpar a área, você chama a loira, lhe dá o nome de um remédio difícil de achar e pede para ela ir à drogaria do shopping, finalizando com a clássica:

– Você sabe... pro coração!

Você entra com a morena no provador e puxa a cortina. Falando consigo mesmo, você diz:

– Cacete, esqueci de ver com quem eu vou nessa viagem. Tenho duas passagens – e olhando para a menina –, você sabe, a gente tem sempre que ir acompanhado nessas convenções. Mas nem sempre...

Ela está agachada, tirando as tuas calças. Já tirou o paletó, os sapatos, as meias... Você está só de camisa, cueca e gravata. E diz:

– Você, por acaso, não estaria li...

Mas pára no meio da frase. Ela, com certeza, gostando da idéia de conhecer Paris numa dessas, vai insistir:

– O que o senhor ia perguntar? Se eu estaria livre?...

Você desconversa:

– Não, não, foi uma indiscrição minha, a senhorita deve ser comprometida. Ah, desculpe, mil perdões, nem me passou pela cabeça convidar uma garota assim, tão prendada...

Ela não vai desistir:

– Não, imagina, eu não tenho namorado, não. Sou livre e desimpedida, dona do meu próprio nariz, moro com uma amiga lá na Cidade Nova...

Nisso, ela tira tua cueca, mas continua agachada aos teus pés, com um ar de devoção.

Com a mão boa, você faz um carinho no queixo da balconista, passa carinhosamente os dedos no rosto dela e diz:

– Até que você é uma gracinha, sabia? Seria uma grande honra para mim viajar com você, te apresentar aos grandes executivos europeus, te levar para fazer compras no Quartier Latin...

Pouco a pouco, você vai fazendo carinho na nuca, alisando seus cabelos, puxando a cabeça dela para o seu colo. E continua falando:

– Iremos a bares e restaurantes famosos...

Com a outra mão, a torta, você vai entreabrindo os lábios da menina, introduzindo lentamente a flamejante Torre Eiffel na sua boquinha e aí começa discretamente o movimento de vaivém, enquanto fala coisas tipo:

– Passearemos de trem pela França, Bélgica, Itália e Alemanha, o trem entrando em túneis, saindo de túneis, entrando de novo, voltando a sair...

Só não se esqueça de deixá-la inteiramente a vontade para decidir sozinha se cospe ou engole.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bons os conselhos para carcar uma balconista !
rsrs , se você já fez e deu certo você já tem um fã !
e-mail: allanvcp2@yahoo.com.br