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sábado, janeiro 29, 2011

Neuber Uchoa aprendendo a ser pop


Gilvan Costa

O estilo é diferente, mas a batida é inconfundível. Em seu mais novo trabalho, o roraimense Neuber Uchôa envereda por novos caminhos musicais, “pero sin perder las orígenes jamás”.

Em “Eu preciso aprender a ser pop”, Neuber aposta numa linguagem universal, fugindo do estereótipo amazônico que sempre permeou suas letras e melodias.

O CD de linguagem universal, conta Neuber, é fruto de seu trabalho nos últimos anos vividos no Rio de Janeiro, em que se dispôs a ouvir muita música para poder também fazer MPB e entrar nesse mercado.

“Isso é resultado desse tempo, que me colocou de maneira mais universal, junto com todas as tribos, já que o Rio é uma coisa mais ou menos assim, uma esquina do mundo”, afirma.

Para ele, essa nova fase procura traduzir esse novo tempo, onde o elemento regional se funde ao beat universal, de forma a ser compreendido em Tóquio ou Paris, tanto quanto em Buritis (bairro de Boa Vista)”, explica.

Sobre o título do CD, Neuber diz que a frase surgiu no meio de uma discussão, logo que ele chegou no Rio de Janeiro, “como uma maneira de me auto-justificar que eu tenho de aprender a ouvir, que eu tenho que ser mais popular”.

Pop ai, segundo Neuber, é no sentido de ter mais atitude, ter algo mais além de talento. “Ser popular é isso também, é te colocar à disposição do público que tu queres atingir. No meu caso é fácil porque eu sou um poeta popular. Eu procuro traduzir o sentimento desse povo que eu represento. A minha maior batalha é essa, ser compreendido pelo meu povo, de uma maneira fácil, singular”.

A frase também remete a uma música famosa da MPB que é “Eu preciso aprender a ser só”, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, lembra o artista.

O trabalho de capa do CD também foi feliz. O designer Ed Andrade Júnior se inspirou num célebre trabalho de Andy Warhol, o norte-americano que criou a arte pop. E a foto de Neuber é embasada num dos quadros mais famosos dele que é a atriz Marilyn Monroe com fundo de várias cores, que dão essa tonalidade à obra.

“Pelo pouco que eu tenho visto o disco está tendo uma aceitação legal, porque está sendo visto como um trabalho popular, que se mistura às demais músicas que tocam nesse universo pop”, comemora.

Raízes regionalistas


Neuber Uchôa nasceu em Boa Vista, capital de Roraima e, ainda criança, começou a cantar em programas de auditório. Na adolescência, descobre o violão e passa a compor as primeiras canções, mas somente aos 21 anos de idade, em 1980, nasce a música que seria um dos seus maiores hits: Ave, 3º lugar no I Festival de MPB de Roraima. A canção foi gravada cinco anos depois, num compacto simples, produzido em junho daquele ano no Rio de Janeiro.

Daí em diante, shows e discos são produzidos pelo artista que, juntamente com Eliakin Rufino e Zeca Preto formam a “Regionalíssima Trindade” do movimento cultural Roraimeira, que se propõe a traduzir Roraima em sua estética artística e cultural.

Dessa fase regionalista, destaque para as músicas Cruviana, Nossa Bossa, além de Makunaimando (parceria com Zeca Preto), verdadeiros hinos de Roraima.

Outro momento marcante foi a produção do programa Roraimeira na TV, dirigido e apresentado pelo grupo em 1992, na TVE (TV Educativa) e reapresentado em rede nacional naquele mesmo ano, além dos espetáculos realizados na cidade do Rio de Janeiro, durante o projeto “Cantorias Amazônicas”, no CCBB, em janeiro e fevereiro de 2000.

Destacam-se ainda os discos e shows produzidos em parceria com Zeca Preto, entre os quais uma pequena turnê pelo Norte e Distrito Federal, além de shows na Suíça e Venezuela.

Já nessa fase pós-regionalista, vale lembrar as apresentações no Centro Cultural Carioca e na Lona Cultural de Campo Grande, ambas no Rio de Janeiro, durante o lançamento do CD Muito Prazer (2002). Na mesma época, Neuber divide o palco do Olímpia com Sandra de Sá e Elba Ramalho, entre outros, no show de 85 anos do Retiro dos Artistas. Também fez shows em Niteroi e Cabo Frio, no Rio de Janeiro.

Ouvindo e compondo muito, Neuber acumulou repertório e experiência que se somaram ao swingue forjado na mistura de ritmos afro-latinos com a brasilidade amazônica, nascendo daí uma batida própria.

Discografia

Compacto simples AVE – solo (RJ-1985)
LP Caimbé – parceria com Zeca Preto (RJ-1988)
LP Roraima – parceria com Zeca Preto e Eliakin Rufino (PA-1992)
CD Makunaimeira – parceria com Zeca Preto (PA-1994)
CD Amazon Music – parceria com Zeca Preto (PA-1997)
CD O Canto de Roraima - parceria com Zeca Preto e Eliakin Rufino (RR-2000)
CD Muito Prazer – solo (RJ-2002)
CD Eu Preciso Aprender a Ser Pop – solo (SP-2006)

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