Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, maio 17, 2011
Aula 70 do Curso Intensivo de Rock: U2
A história da banda U2 começou em 1976, em Dublin, capital da Irlanda.
O baterista Larry Mullen, então com 14 anos, colocou um anúncio em seu colégio procurando companheiros para montar um grupo.
Paul Hewson (Bono Vox), o guitarrista Dave Evans (The Edge) e o baixista Adam Clayton responderam ao chamado.
No início, os colegas tocavam com o nome Feedback e faziam covers de Beatles e Rolling Stones.
Após 18 meses, o grupo mudou o nome para The Hype e foi com este nome que participou de um concerto para a descoberta de novos talentos em Limerick, na Irlanda, em 1978, tendo ganho o concurso.
Jackie Haden, da CBS Records, que fazia parte do júri, ficou impressionado com a banda, tendo-lhes dado a oportunidade de gravar a sua primeira demo.
O punk rocker de Steve Averill (mais conhecido como “Steve Rapid” dos Radiators From Space, de Dublin) disse que o The Hype era uma boa merda, pelo menos no nome.
Mais tarde, devido ao fato de a família de Adam Clayton ser muito ligada à aviação, Adam sugeriu um novo nome para a banda, U2 (Lockheed U-2, nome de um avião-espião utilizado pelos EUA durante a Guerra Fria que fora abatido pela URSS poucos dias antes do nascimento de Bono) que foi aceito e se tornou o nome oficial da banda até os dias de hoje.
Há quem sugira que o nome “U2” é baseado na filosofia do grupo, que acredita que a audiência faz parte da música e dos espetáculos e como tal “you too” (“Você também”) participa ativamente do fuzuê.
A mudança para U2 ocorreu ao mesmo tempo em que os músicos faziam suas primeiras composições.
Em 1979, a banda lançou o EP “U2 Three”, apenas na Irlanda.
O U2 tocava em pequenos clubes, usava as roupas do dia-a-dia e tentava passar, em suas músicas, o que a crítica batizou, nos anos 80, de “nova honestidade”.
Era uma época de idealismo.
O grupo lançou seu primeiro disco, “Boy”, em 1980, no mesmo ano em que lan Curtis, do Joy Division, se suicidou.
O quarteto irlandês não se encaixava no modelo que a MTV estava implantando.
Não era uma banda de videoclipes cheios de efeitos especiais, nem vivia do glamour da indústria.
Mas mesmo quando ainda era formada por adolescentes mal saídos do colegial, os ecos da guitarra de Edge, a voz melodramática de Bono e os ritmos marciais de Adam Clayton e Larry Mullen já tinham vocação para se tornar o som de uma banda de estádio.
Os discos que se seguiram desenvolveram a idéia de engajamento por um “mundo melhor”, produzindo sucessos como “Sunday Bloody Sunday”, “Pride (In The Name Of Love)”, “I Still Havent’t Found What I’m Looking For” e até mesmo “One”.
Martin Luther King passou a ser citado ao lado de Jesus nas canções.
Ao contrário de grupos punks mais politizados, como The Clash, o U2 só defendeu temas do senso comum.
A paz, por exemplo, era exortada de forma vaga e messiânica.
Eram cristãos, eram puros, dizia a mídia, desculpando o populismo mais rastaquera da cena roqueira.
Só que o U2 se cansou de gravar hinos.
Bono Vox foi perdendo o tom heróico e abandonou a bandeira branca, que acenava nos momentos mais exagerados dos primeiros shows.
O gestual foi substituído por uma parafernália tecnológica.
O U2 introduziu sintetizadores e efeitos especiais no que previamente era uma banda ortodoxa de baixo-guitarra-bateria.
O velho estilo ainda é reciclado por bandas boas de venda, como Live.
Mas o próprio U2 chegou a um beco sem saída em 1988, quando o álbum “Rattle And Hum” se resumiu a imitar a música soul e o blues americano.
A banda precisou reinventar-se.
“Achtung Baby”, de 1991, possibilitou ao U2 chegar à década de 90, trocando o idealismo pela ambivalência.
Para sua turnê mundial “Zoo TV” (o nome era uma referência a uma das mais movimentadas estações de metrô de Berlim), o grupo encheu estádios com tecnologia de satélites e uma barragem de TVs, ironizando a aldeia global.
O álbum seguinte, “Zooropa”, de 93, foi uma extensão do conceito.
Na seqüência, o disco “Pop”, de 97, foi anunciado como uma conversão ao techno.
Mas só trouxe uma faixa capaz de evocar o gênero, “MoFo”, que a banda não lançou como single, preferindo “Discotheque” e uma série de baladas melosas.
O nome do disco acabou produzindo muitas explicações.
Mas a verdade é que a banda parecia estar cansada do rock.
Não havia rock em “Pop”.
Em retrospectiva, “Pop” parece ter-se tornado a melhor definição para o que a banda sempre foi.
O U2 sempre tocou no rádio, mesmo quando nenhuma banda de rock conseguia furar o implacável esquema dos programadores musicais.
Havia um trocadilho infame com o nome da turnê “PopMart” e a Pop Art.
Infame a ponto de o telão que distraía o público das músicas tentar traçar um paralelo entre os quadros de Roy Lichtenstein, Andy Warhol, Keith Harring e Lara Croft, a estrela do videogame Tomb Raiders.
A “PopMart” foi a maior contradição já encenada num estádio.
O U2 parecia tentar ironizar o comercialismo multinacional, esquecido de que fazia parte da própria engrenagem.
O telão mostrava pessoas comprando, sob um arco dourado que sugeria o símbolo do McDonald’s, mas o próprio grupo não tinha pudor em vender-se.
Por ironia, dizia que não admitia patrocinadores em seus shows.
Fez uma exceção, claro, para a América do Sul.
E aí virou banda de comercial de cerveja. Perfeito.
No mundo novo do U2, a tecnologia é admirável.
O grupo debruça-se sobre as confusões de uma sociedade de consumo, mas não chega a nenhuma conclusão.
Parece gostar dos brinquedos eletrônicos que seu dinheiro pode bancar, tornando qualquer intenção crítica tão superficial quanto uma bandeira branca num show de rock.
Como a turnê “The Wall”, do Pink Floyd, e “Steel Wheels”, dos Rolling Stones, “PopMart” tem mais a ver com espetáculo do que com música.
Prova disso é que “Pop” saiu da lista das dez mais da parada americana em apenas três semanas após seu lançamento.
Os shows não fizeram sucesso por causa dos novos hits, mas pela parafernália e a histeria.
Histeria é o único nome para descrever a cobertura jornalística da turnê, que ajudou a vender ingressos como nunca na história dos shows no Brasil.
Outra forma de avaliar o U2 é considerá-lo um dos grupos que melhor definiram os anos 80 – o rock consciente de estádio, a aristocracia do Live Aid, a austeridade liberal, a autenticidade chic, a hipocrisia do engajamento político a causa nenhuma, a retórica vazia, o gestual, a pompa e a circunstância dos hinos de estádio.
Não foi a dance music nem um par de óculos cool que mudou isso.
O U2 sempre foi oficialmente uma banda de pop rock.
O que, convenhamos, não é demérito algum.
Em 2000, o U2 lançou “All That You Can’t Leave Behind”, provavelmente para se livrar do fiasco musical de “Pop”.
Mas vinte, vinte e poucos anos é idade complicada.
Para bandas de rock, complicada meeesmo.
O Who preferiu morrer antes.
Led Zeppelin e os Beatles também: sozinho, Paul cruzou a linha fazendo o pálido “Tug Of War” (1982).
Os Stones soltaram o tísico “Undercover” em 1983.
Entre os companheiros de geração, o U2 é praticamente o último dos pós-moicanos, segurando a peteca com o R.E.M...
Agora, em busca da essência perdida - evaporada em trabalhos menos inspirados e manobras mercadológicas tolas -, os quatro milionários irlandeses tentam reviver os tempos em que faziam canções sinceras e idealistas.
Como aquele seu velho amigo dos tempos de ginásio, o U2 pode ser embaraçoso ou emocionante.
Para cada letra constrangedora falando em “nova mídia” e outros temas de validade descartável, há uma grande canção como “Walk On”.
Pode ser impossível acreditar neste U2 “virgem again”, novamente puro após tanto cinismo, mas ainda dá para se emocionar um pouquinho.
Os dias de hoje não permitem grandes arroubos e as trajetórias dos ídolos deixam o coração da gente arrombado demais.
Aquelas ondas de quando você tinha 16, 17 anos, pode esquecer...
É complicado, meu chapa.
Nas entrevistas que deu à imprensa inglesa para promover a coletânea “Best Of 1980-90”, do U2, o guitarrista The Edge lembrou os tempos carolas da banda.
Ele, Bono e Larry Mullen Jr. chegaram a integrar um grupo de estudos carismáticos, Shalom (saudação hebraica que significa "paz"), e quase pararam de tocar rock, por conflitos morais.
“Banda que reza unida permanece unida”, dizia na época o baixista Adam Clayton, único ateu do U2.
Edge lembrou que “Trash Trampoline And The Party Girl”, quitute-mor entre os lados B e relançado no álbum, foi motivo de conflito.
Adam vestiu a carapuça do personagem Trash (lixo, em inglês) e achou que a música era um recado para ele, em público.
Sobre “Boy”, o primeiro disco, Edge lembrou um delicioso mal-entendido despertado pela foto do garotinho na capa: "Revistas gays de São Francisco publicaram ótimas críticas e os gays americanos começaram a nos adorar".
As gravações de The Unforgettable Fire, em 1984, incluíram um dia de nudismo no estúdio. “Cobrimos as partes com uma fita adesiva que doía muito na hora de tirar”, contou Edge, divertido. “Para quebrar a monotonia do estúdio, vale tudo”, justificou ele.
E isso vale pra “você também”, homeboy!
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