Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, maio 13, 2011
Aula 90 do Curso Intensivo de Rock: Rancid e Stephen Malkmus
Os amigos de infância, Tim Armstrong (vocal / guitarra) e Matt Freeman (baixo / vocal) começaram a tocar juntos quando ainda estavam no colégio, com o que mais tarde seria a banda Operation Ivy, uma das bandas punk mais influentes dos anos 80.
Em 89, o Operation Ivy se separa e os dois passam mais de um ano tentando achar um baterista competente, até que desistem e resolvem apostar num skatista, colega de quarto de Tim, chamado Brett Reed.
A aposta deu certo e em 1991, estava formado o Rancid.
Logo depois, lançam pela Lookout! Records o primeiro single da banda, “Dead Babies”, que impressionava por ser muito mais pesado e rápido do que o som o Operation Ivy.
O single também estava envolto numa história macabra: mortos de chapados, Tim Armstrong e alguns amigos foram ao cemitério da cidade, onde desenterraram o corpo de um bebê.
Alguns dias depois, a notícia vazou e todos eles foram em cana por conta da excursão macabra.
O single chamou a atenção do produtor Brett Gurewitz e não demorou muito para o trio assinar um bom contrato com a Epitaph Records.
Antes de começar a gravar o primeiro disco, Tim convida o guitarrista da banda Slip, Lars Frederiksen, para fazer parte do Rancid, mas ele recusa.
Billie Joe, do Green Day também é convidado e aceita, mas por causa de seu talento discutível, sua passagem pela banda dura apenas um show.
Então, o trio grava o álbum “Rancid” em 1993.
O disco não mostrava um som pesado como no primeiro single, mas sim um “street punk” conduzido pelo baixo e com os vocais de Tim e Matt se alternando.
A banda se torna um destaque do circuito underground americano e ainda em 93, depois de ver sua banda se separar, Lars Frederiksen volta atrás e se torna o segundo guitarrista do Rancid.
Em 1994, em apenas quatro dias de gravação, gravam o segundo disco do grupo, “Let’s Go”.
Em seu álbum de estréia, Lars não se apresenta só como um bom guitarrista, mas também como um ótimo vocalista e a banda passa a ter três vocais dividindo as 23 faixas do disco.
Com fortes influências de ska e o famoso “tag team” entre os vocais (troca de vocalista durante a música, comum no hip-hop), o som demonstra mais maturidade e originalidade.
Lançado em março, “Let’s Go” se transformou em um clássico do punk rock, com as pancadas “Nihilism”, “Salvation” e “Radio”, responsáveis por tornar a banda uma das queridinhas nas rodas de pogo.
Após o lançamento do disco, Matt e Tim começaram um projeto paralelo chamado Shaken 69.
Unindo forças com Dave Mello, ex-batera do Operation Ivy, Paul Jackson e Eric Dinn, do Uptones, e Lars Nylander e Mike Park, do Skankin’ Pickles, o Shaken 69 era uma pura banda de ska.
Eles lançaram algum material e fizeram apresentações locais, mas devido aos compromissos com as outras bandas dos integrantes, o Shaken 69 teve que encerrar suas atividades musicais sem nenhum registro oficial do combo.
O disco acaba transformando o Rancid em um alvo interessante para a indústria fonográfica.
A Epic chega a oferecer um contrato de 2 milhões de dólares, mas a banda recusa por ter que renunciar da liberdade criativa que o contrato com a Epitaph lhes dava.
Em 1995, cada vez mais influenciados por ska, eles lançam “... And Out Come The Wolves”, considerado por muitos como o melhor álbum da banda.
“Time Bomb” e “Rubi Soho” se tornam hits no mundo todo e não param de tocar nas rádios e na MTV.
“Maxwell Murder” chama a atenção por uma linha de baixo que acabou com a herança deixada por Dee Dee Ramone e Sid Vicious de que baixista de punk rock não precisa tocar bem.
Com o anunciado fim dos Ramones e a estranhíssima volta “caça-níqueis” dos Sex Pistols, o Rancid estava sendo apontado pela crítica como “a salvação do punk rock”.
Não só isso. O Rancid começava a ser considerado o primo inglês da Epitaph Records.
Ao contrário de outras bandas do selo americano punk – Offspring, Bad Religion, Pennywise –, que bebem na fonte do hardcore californiano dos anos 80, eles cavavam suas influências em algum buraco da Londres de duas décadas atrás.
Cockney? Brixton? Muito além do visual moicano-armado-e-colorido, típico dos punks londrinos, o terceiro álbum do Rancid tinha riffs oi, vocais cheios de sarcasmo e ótimos skas, que remetiam a bandas como o Sham 69, Cockney Rejects e – é claro – The Clash.
Descoberto por hordas de adolescentes que nem imaginavam que um dia existiu um Joãozinho Podre no reino de Elisabeth, o Rancid estava vendendo horrores e sendo manchete de capa nas principais revistas de rock.
E, cá para nós, em suas dezenove faixas “...And Out Come The Wolves” era um irrecusável convite ao pogo. Se é que você sabe do que estou falando.
Em 96, ele participam do Lollapalooza e fazem uma turnê muito desgastante, principalmente para Tim que estava cada vez mais viciado em álcool e cocaína.
Depois de um longo período de desintoxicação e algumas participações em tributos e compilações, Tim e o Rancid vão pra Jamaica começar a gravar seu álbum mais experimental.
“Life Won’t Wait” é lançado em 98 e choca os fãs mais radicais da banda.
O problema foi que o Rancid demorou três anos para lançar um novo álbum.
Nesse meio tempo, as meninas deixaram de pintar o cabelo de verde e passaram a ilustrar seus quartos com fotos dos irmãos Hanson.
O hype em torno do ressurgimento do punk havia passado.
Mas isso não impediu a banda de abrir o CD “Life Won’t Wait” com a frase: “O fenômeno que você está prestes a testemunhar pode revolucionar a sua maneira de pensar”.
Exageros à parte, o disco esforçava-se em resgatar os valores do movimento punk.
Quem, além de Rancid, ainda cantava sobre anarquia e sandinistas em 1998?
Acostumado a ser comparado ao grupo The Clash, agora Rancid acrescentava política global à sua missão de resgatar o discurso de 1977.
Enquanto os discos anteriores falavam de brigas em shows e conduta punk, “Life Won’t Wait” preocupava-se com a destruição da Iugoslávia.
Tim Armstrong continuava a imitar o timbre vocal do ex-Clash Joe Strummer, mas desta vez o instrumental do grupo soava mais como Discharge – hardcore de segunda categoria.
Ou seja, apesar das boas intenções, o punk rock de “Life Won’t Wait” era chato.
Em compensação, no disco há várias faixas de ska e reggae, que se destacam entre as melhores da banda, graças a uma série de participações especiais.
“Life Won’t Wait” promove um encontro notável de gerações, do qual participam o cantor jamaicano Buju Banton, integrantes do grupo de ska inglês dos anos 80 The Specials e a nova turma americana, representada por músicos de Mighty Mighty Bosstones, Stuborn All-Stars, Slackers e Hepcat.
A turma do ska diminui a ênfase roqueira do disco, que também traz convidados cabeludos – Marky Ramone e Stephen Perkins (Jane’s Addiction).
Mais que isso, neutralizava qualquer tentativa de chamar Rancid de datado.
O disco também inclui as primeiras músicas românticas da banda, confirmando que, apesar da predileção pelo discurso punk, Rancid estava longe de ser unidimensional.
O ano 2000 marca a volta do Rancid à suas raízes.
Com a banda entrosada, lançam “Rancid” (também chamado de “Rancid #2” e “Rancid 2000”), que é, até agora, o álbum mais pesado da banda.
A influência de ska continua presente, mas em bem menos quantidade que no disco anterior, e as letras ficaram mais safadas.
Claro. É revolução da internet para cá, maravilhas tecnológicas do mundo neoliberal para lá, fim da história para ali...
De tanto ouvir falar em cretinices e papos-para-otário assim, um homem vai ficando revoltado, puto da vida mesmo.
E aí acaba fazendo discos como “Rancid”: furibundo, desvairado, cheio de impropérios e palavrões, com uma patética vontade de tirar as calças pela cabeça...
Mas neste quinto álbum, a marca registrada do Rancid – sua fixação pelo Clash – afunila-se numa ortodoxia rock: o ska e as jamaiquices foram postos para correr, nem pense em encontrar a participação de Buju Banton que decorava o trabalho anterior.
São 38 minutos retos e desembestados, 22 sons com dois acordes que se atropelam o tempo todo e melodias esgoeladas.
Claro que você já ouviu isso antes (e muito melhor) e é evidente que a única coisa que um álbum assim pode mudar é o saldo bancário do grupo.
Mas o fato de roqueiros do Primeiro Mundo lembrarem da África (“Rwanda” e “Blackhawk Dawn”) num momento tão festa do caqui do capitalismo ainda sensibiliza corações anacrônicos.
Em 2001, a banda diminui a intensidade das turnês para Lars poder se dedicar ao seu projeto solo, o Lars Frederiksen & The Bastards, enquanto Tim e Matt tentam reunir o Operation Ivy para uma turnê, que acabou não acontecendo.
Em 2002, aceitam um convite para gravar um split com o NOFX e o CD se torna um item clássico para os fãs, com as bandas tocando somente versões para músicas da outra.
Gravam também uma versão do clássico, “Sheena Is A Punk Rocker” dos Ramones para o álbum tributo produzido por Rob Zombie, chamado “We’re a Happy Family”.
No final de 2002, Tim grava e lança o álbum de um antigo projeto seu, chamado The Transplants.
O disco conta com o baterista do Blink 182, Travis Barker e o som é uma grande e até interessante mistura de punk rock, ska e rap.
Em 2003, depois de três anos sem um lançamento oficial e em meio a um monte de boatos que a banda assinaria com algum grande selo, o Rancid lança “Indestructible”.
O disco apresenta um som muito próximo ao seu maior sucesso em vendas “...And Out Come The Wolves”, só que variando mais o estilo das músicas e mostrando uma clara evolução de seus músicos, mas tudo isso sem perder as características únicas da banda.
Bom, de repente você pode até não saber quem é o cidadão, mas Stephen Malkmus é um sujeito prático.
Alguns podem até acusá-lo de frio – não é todo dia que alguém resolve acabar com uma das bandas de garagem mais adoradas dos Estados Unidos.
O ex-vocalista do Pavement não alardeou aos quatro ventos que estava saindo do grupo e nem protagonizou brigas na frente das câmeras.
Enquanto os fãs se preocupavam, a gravadora dizia apenas que a banda faria uma pausa. Ledo engano. Não houve tempo para chorar pelo fim do grupo.
O CD de estréia solo de Malkmus pode ser considerado o melhor do Pavement desde “Crooked Rain, Crooked Rain” (1994).
O disco “Stephen Malkmus” contém 12 preciosidades no mesmo estilo que consagrou sua antiga banda, surgida no começo dos anos 90.
O Pavement era um dos principais expoentes do chamado “lo fi”, abreviação para “low fidelity”, termo que pressupõe uma música feita com tecnologia de baixa qualidade.
No primeiro disco da banda, “Slanted Enchanted” (1992), ficavam evidentes as influências do Fall.
Naquele ano, o Nirvana, com sua música suja e distorcida, provocava rebuliço nas estruturas da indústria musical e dava esperanças de estrelato para toda uma geração de novos grupos.
Passada a histeria grunge, o Pavement fez fama restrita no underground, onde se tornaram reis.
Suas canções eram nonsenses e muito literárias para o mercado americano.
O que ninguém poderia prever é que eles ajudariam, involuntariamente, na longevidade de bandas do britpop, como o Blur.
Após o fim da tola disputa com o Oasis pelo título de melhor grupo do mundo, Damon Albarn e seus comparsas foram inspirar-se na América, mais precisamente no som do Pavement.
O disco “Blur” (1997) e sucessos como “Song 2” mostravam um grupo revitalizado.
Originalmente, o disco de Malkmus iria se chamar “Dear Mom, Send Money” (“Querida Mamãe, Mande Dinheiro”), mas ele desistiu porque achava muito parecido com Frank Zappa.
Se não é gênio como o falecido músico, pelo menos possui o mesmo senso de humor.
“Swedish Reggae” foi a opção seguinte (porque tinha fumado muito “dirijo” em Portland), mas ele achou muito parecido com Ween e Beck.
O nome, como era de se esperar, não foi bem recebido pela gravadora (tinham medo que o CD ficasse catalogado como world music nas lojas).
A capa, uma foto de Malkmus com os cabelos desgrenhados e uma camiseta de cachorro vira-lata em um singelo pôr-do-sol, parece ser mais uma ironia do músico.
Pose estilo “gatinho Bon Jovi”, lembra capa de discos dos anos 70.
De certa maneira, a mentalidade desleixada (que estava presente também nas esquisóides capas do Pavement) não foi abandonada.
Um “loser” (“perdedor”) com bom humor
Com esse disco, Malkmus resolveu dois problemas: parou de se chatear com o Pavement e agora tem mulheres na banda – uma coisa que sempre quis.
A nova banda, chamada Jicks, é formada por dois veteranos da cena musical de Portland: Joanna Bolme (baixo), John Moen (bateria) e a namorada de Malkmus, Heather Larimer (backing vocais e percussão).
A Matador Records logo mostrou que não é boba.
Ao saber que Malkmus lançaria disco-solo, se interessou pelo material.
O negócio foi bom para a gravadora, afinal o Pavement era uma das bandas mais importantes (senão a mais) do selo.
Este trabalho pode ser chamado de novo disco do Pavement.
Uma das características que mais marcavam a banda era o estilo narrativo de cantar de Malkmus, que continua com um pé no folk, como se fosse um Beck que não se preocupa com holofotes.
É o familiar som indie, econômico e irônico do Pavement.
O CD começa com um rock sério demais para a habitual postura desleixada de Malkmus, “Black Book”.
Algumas músicas, como a engraçada “Phantasies” (lembra o Blur tentando copiar o Pavement) e “The Hook” chegam bem perto de “clássicos” como “Cut Your Hair”.
Há a narrativa e plácida “Church On White” e “Jo Jo’s Jacket”, um suposto tributo ao ator Yul Brynner, que na verdade é um ataque a Moby.
Principal compositor do Pavement, Malkmus continua com suas letras bem-humoradas no CD de estréia.
Para o cantor, que considera sua vida muito tediosa, é muito mais interessante contar histórias que vê pelas ruas do que escrever sobre as próprias emoções.
“Jenny & Ess-Dog”, por exemplo, é sobre um homem de 31 anos que toca numa banda de covers da década de 60 e namora uma garota de 18 anos.
Se Cobain era a cara do grunge, Malkmus é o rosto da geração lo fi (que tem no Guided by Voices e Sebadoh outros grandes expoentes): irônico, boa-pinta e elegantemente desleixado.
A baixa qualidade é apenas aparente.
O som do cara sempre esteve mil decibéis à frente da concorrência.
Em abril de 2001, uma das etapas da turnê foi o Brasil.
Stephen Malkus e o Jicks fizeram quatro shows em território nacional: Londrina, Recife (como atração principal do “Abril Pro Rock”), São Paulo e Rio de Janeiro.
O repertório dos shows foi formado pelas músicas do primeiro disco-solo do cantor, com apenas uma música do Pavement sendo tocada: “In Mouth Of A Desert”.
Em junho de 2002, o quarteto voltou ao estúdio para a gravação de um novo disco.
O resultado, intitulado “Pig Lib”, foi lançado em 2003, novamente com a benção de público e de crítica.
Algumas faixas parecem não ter muito sentido, não seguem nenhuma estrutura, começam e acabam do nada, mas é só prestar um pouco mais de atenção para perceber que são permeadas de belas melodias e idéias inspiradas.
E é assim que Malkmus gosta de dar o seu recado.
Um dos grandes destaques de “Pig Lib” é o teclado, colocado de forma bastante discreta e inteligente, preenchendo todos os espaços e dando um toque de modernidade às baladas emocionais e introspectivas do grupo.
As faixas “(Do Not Feed The) Oyster”, “Vanessa From Queens” e a mais rock “Dark Wave” são as que funcionam melhor, criando uma simpatia com o ouvinte logo de cara.
O exagero fica por conta de “One Percent Of One”, que, apesar de transitar por diversos climas, acaba se tornando cansativa em seus quase 10 minutos de duração.
O álbum, no fim das contas, tem uma identidade própria bastante interessante e mantém uma certa estabilidade entre as canções, sem grandes picos de genialidade ou mesmice.
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