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sexta-feira, maio 13, 2011

Aula 91 do Curso Intensivo de Rock: Smashing Pumpkins


Billy Corgan tinha 14 anos quando começou a tocar guitarra por influência de seu pai (um guitarrista profissional de jazz) e dos discos de rock dos anos 70.

Ele aprendeu a manejar a guitarra na casa de um amigo, usando uma Flying V emprestada pelo sujeito.

Depois de ganhar seu próprio instrumento, Corgan costumava praticar até de madrugada, cada vez mais empolgado com as bandas que ouvia.

Nomes como Beatles, Black Sabbath, Cheap Trick, David Bowie, Judas Priest e Jimi Hendrix causavam forte impressão no rapaz e foram responsáveis pelo início de sua carreira musical.

Em 1985, com 18 anos, Billy se graduou na Glenbard North High School.

A essa altura, ele já sabia o que queria: sua vida seria dedicada ao rock’n’roll.

Seus pais já eram separados, e ele trabalhava como lavador de pratos para ajudar sua mãe na renda familiar.

Já possuía sua primeira banda, o The Marked (nome devido ao sinal de nascença que Billy possui em um de seus braços, evidente no encarte do seu disco solo “TheFutureEmbrace”), que costumava se apresentar em pequenas clubes e bares de Chicago.


A certa altura, ele deixou o emprego e parou de jogar basquete em um time da região, para proteger seus dedos.

Seu ex-colega Marlo diz que ele não se concentrava em nada, só pensava em tocar e escrever canções.

Os outros membros da banda eram seus colegas de colégio, Dan Shaw e Ron Roesing.

Pouco depois da festa de formatura, eles se mudaram para a Flórida.

Depois de cerca de 20 shows em nove meses, eles decidem acabar com a banda e voltam para Chicago.

Billy consegue, então, um emprego em uma loja de discos usados.

Foi ouvindo os discos antigos e de gêneros díspares entre si, como Miles Davis, Stooges, John Coltrane e Jimi Hendrix, que ele diz ter aprendido que “a boa música vai além de qualquer concepção de gênero”.

Billy Corgan estava determinado a seguir a carreira musical, e já pensava em formar um novo conjunto.

Em 1987, na loja onde trabalhava, Billy conheceu James Iha, um americano descendente de japoneses.


James estudava Artes Gráficas na Loyola University e tocava na banda Snake Train.
Com o tempo, James e Billy perceberam ter gostos e interesses similares, e acabaram decidindo tocar juntos.

James continuou a tocar no Snake Train, enquanto Billy procurava por outras pessoas interessadas em se juntar a eles.

Certa vez, ainda em Chicago, Billy estava no bar Avalon.

Do lado de fora do bar, ele acabou entrando em uma discussão sobre os méritos de uma banda que costumava tocar frequentemente ali, chamada Dan Reed Network.

Na verdade, Billy interrompeu a conversa de um grupo de amigos pra dizer o que achava desse conjunto e uma garota não gostou nada do que Billy disse e começou a discutir com ele.

Durante a discussão, ela disse a ele que era baixista, e Billy, depois de lhe dizer que tinha uma banda e estava procurando por alguém que tocasse baixo, acabou lhe dando seu número para que ela ligasse e fizesse um teste com ele.


O nome da garota loira com quem Billy se desentendeu no Avalon era D’Arcy Wretzki.

Depois de algum tempo, ela acabou ligando para ele para fazer o teste.

No dia marcado, D’Arcy estava tão nervosa que mal conseguia segurar o baixo direito.

Mas Billy gostou de seu jeito e de sua personalidade e acabou integrando-a ao conjunto.

Nessa altura, Billy e James já tinham algum material gravado.

Em junho de 1988, junto com Ron Roesing, baterista do The Marked, eles haviam gravado uma fita demo no estúdio doméstico do produtor Bob English.

A fita foi intitulada de “Nothing Ever Changes” e a banda ganhou o estranho nome de Smashing Pumpkins (“Abóboras Esmagadas”).

Reza a lenda que o nome era temporário e apenas uma brincadeira de Billy Corgan, a partir de uma velha piada que costumava contar aos colegas (aquela dos jerimuns atravessando a rua).

Pouco depois dessa primeira experiência em um estúdio, Ron deixou o grupo.

Com uma bateria eletrônica, Billy e James gravaram uma segunda fita demo, com músicas como “My Eternity”, “Screaming” e “Bleed”, todas escritas e compostas por Billy Corgan.

Essa fita foi dada a Joe Shanahan, dono do Metro Club, lugar bastante famoso em Chicago.


A primeira apresentação do Smashing Pumpkins aconteceu no dia 10 de agosto desse mesmo ano, no Avalon, com cerca de 50 pessoas assistindo.

D’Arcy já empunhava o baixo, com Billy nos vocais e guitarra, e James na segunda guitarra — a bateria ainda era eletrônica.

Joe Shanahan estava presente e gostou da performance da banda, convidando-a a tocar no Metro Club, com uma condição: que arranjassem um baterista de verdade.

A partir dessa condição, o Pumpkins começou a procurar por um quarto membro, enquanto fazia pequenos shows e começava a ficar conhecido no circuito underground americano.

Um amigo de Billy sugeriu que eles contactassem Jimmy Chamberlin, um baterista de jazz que fora integrante do JP & The Cats.

Jimmy estava desempregado nessa época e aceitou na hora o convite de Billy Corgan para integrar o Smashing Pumpkins.

Ele, inclusive, estava presente em alguns dos primeiros shows da banda, e tinha achado o conjunto uma “atrocidade”, mas com potencial e muito boas letras.


Ainda em 1988, em novembro, o Pumpkins — já com um certo prestígio no circuito alternativo — conseguiu uma bela chance de divulgar seu trabalho: foram convidados para abrir um show do Jane’s Addiction, uma das bandas de rock alternativo mais importantes dos EUA.

Em 1989, já com Jimmy efetivado na formação, a banda lança seu primeiro disco.

O compacto em vinil foi editado pelo selo independente Potencial, de Chicago, com as faixas “I Am One” e “Not Worth Asking”.

Em 1990, enquanto ferve a cena alternativa americana e uma certa banda de Seattle está prestes a estourar, o selo/loja Sub Pop, da mesma cidade, flerta descaradamente com a turma de Corgan.

Chega a ponto de chamá-los para abrir alguns shows do Nirvana.

Pela Sub Pop, os Pumpkins lançam em dezembro o segundo single, em edições limitadas com vinis em cinza e rosa.


As músicas escolhidas são “Tristessa” e “La Dolly Vita”.

Em 1991, com contrato assinado com outro selo independente, Caroline, os Pumpkins concebem um magnífico álbum de estréia.

O álbum “Gish” encanta por misturar doses homeopáticas de metal, progressivo e psicodelismo, porém, tem seu rendimento aquém do esperado.

“Nevermind” é o lançamento do ano (e da década).

Em 1992, começam a pipocar as primeiras crises internas no grupo.

Billy entra em depressão e ameaça se afastar dos outros integrantes.

Em 1993, as gravações do segundo disco, “Siamese Dream”, se dão em clima de turbulência.


São fortes os rumores de que, insatisfeito com o envolvimento de James e D’Arcy na criação dos novos arranjos, o vocalista resolve gravar sozinho todas as linhas de baixo e guitarra.

O disco é produzido por Butch Vig, futuro baterista do Garbage.

Também conhecido como mago do alternativo, Butch Vig já vinha com um currículo irrepreensível (“Dirty”, do Sonic Youth, “Nevermind”, do Nirvana e “Brick As Heavy”, do L7) e sabe captar o melhor da banda, transformando-a em sucesso de vendas.

Muitos fãs classificam esse disco como a obra-prima da banda.

“Siamese Dream” é a trilha sonora da vida de muita gente.

A banda carregou no peso dos instrumentos e as composições são inspiradíssimas.

Graças ao estouro de vários hits de Siamese Dream, o Smashing recebe o convite para ser uma das atrações do festival itinerante Lollapalooza (ao lado de Beastie Boys e Breeders).

O sucesso leva ao lançamento de uma compilação de lados B de singles, “Pisces Iscariotes”, e o único vídeo da carreira, “Vieuphoria”.

Tanta exposição garante também vários contras, como a inimizade de algumas bandas alternativas – o Pavement chega a ridicularizar a banda na música “Range Life”.



A música “Disarm” é protagonista de dois casos curiosos na TV.

Em Londres, os Pumpkins são banidos do programa Top Of The Pops por causa da letra da canção.

Em Nova York, o temperamental Corgan acelera o ritmo durante a apresentação no Video Music Awards e deixa a música simplesmente irreconhecível.

Em 1995, é lançado “Mellon Collie And The Infinite Sadness”.

Retomando assustadoramente a veia progressiva, Billy divide a obra em duas partes e assina vários arranjos épicos.

A grandiloqüência dá certo e a banda rapidamente ultrapassa a casa das 10 milhões de cópias vendidas, tornando este o álbum duplo mais vendido da história.

Depois disso, o grupo nunca mais foi o mesmo.

O disco contou com a produção do consagrado Flood (U2, The Killers) e emplacou uma sucessão de hits, como “Zero”, “1979” e “Tonight, Tonight”, entre outros.



Em janeiro de 1996, os Pumpkins tocam no Rio de Janeiro e em São Paulo, como uma das atrações do Hollywood Rock.

Em maio, durante um show na Irlanda, há pânico e correria na região do gargarejo. A jovem Bernadette O’Brien, de 17 anos, é pisoteada e morre.

Em 12 de julho, data de uma apresentação em Nova York, Jimmy e o tecladista convidado Jonathan Melvoin passam a tarde inteira injetando heroína no quarto do hotel.

O baterista adormece e quando acorda vê Jonathan já morto por overdose.

Todos os integrantes da banda são interrogados e Chamberlin é expulso sumariamente por Corgan.



A banda ameaça dar a volta por cima com o fantástico clipe de “Tonight, Tonight”, lançado em 1997.

Inspirado no cinema mudo do francês George Melliés, o trabalho ganha as principais categorias do Video Music Awards.

Enquanto o grupo entra na fase de despressurização para começar a criar músicas novas, Billy se diverte dando uma mãozinha à ex-namorada Courtney Love na confecção do novo disco do Hole.

Em 1998, o guitarrista James Iha estréia solo com “Let It Come Down”, enquanto Corgan concebe “Adore” seguindo seus próprios desígnios de se distanciar do barulho.

O disco recebe boas críticas, mas frustra as expectativas dos fãs e não vende tanto quanto o esperado.



A turnê pelos Estados Unidos não dura muito e o grupo acaba passando pelo Brasil apenas alguns meses depois do lançamento.

Além do afastamento de Jimmy Chamberlin, que estava em uma clínica de reabilitação para viciados em drogas, a mãe de Corgan é diagnosticada com câncer, o que afetou definitivamente o ambiente da banda, gerando este apelo depressivo.

Em 1999, Jimmy Chamberlin é readmitido por Corgan depois de três anos de tratamento contra o vício.

A “Arising! Tour” marca o retorno de Jimmy Chamberlin às baquetas, os clássicos da banda voltam a ser executados nos shows (durante a turnê do “Adore”, 90% do setlist era composto de músicas deste álbum).



As novas músicas, a serem lançadas no próximo disco eram apresentadas ao público, que aguardava ansiosamente pelo retorno da formação clássica.

Os Pumpkins entram em estúdio novamente para gravar mais um disco.

D’Arcy anuncia sua saída após as gravações, no meio do ano.

O lançamento, previsto para setembro, é adiado para fevereiro de 2000.

o período de folga do Hole, Corgan chama a amiga Melissa Auf Der Maur para assumir a função de baixista.

No dia 25 de janeiro de 2000, a baixista D’Arcy é presa, flagrada comprando crack e cocaína.

Um mês depois sai “Machina - The Machines of God”, agora recebido com frieza também pela crítica.



Em março, Sharon Osbourne, mulher de Ozzy, desiste de empresariar o grupo e acusa o vocalista de intolerância e estrelismo extremos.

Em maio, ele é processado por Jonathan Morrill. O diretor o acusa de ter utilizado em “Vieuphoria”, sem sua permissão, cenas do documentário Video Marked, sobre a antiga banda do vocalista.

Na saída do tribunal, Corgan declara que o Smashing Pumpkins irá se separar no final do ano.

Em 2 de dezembro de 2000, os Smashing Pumpkins fazem sua apresentação final, no mesmo local onde iniciaram sua carreira: o Cabaret Metro, em Chicago.

Como forma de agradecer aos fãs, uma última música foi lançada.

“Untitled” era dedicada a todos os que, nesses 13 anos, estiveram ao lado da banda.

Lançado apenas pela internet, “Machina II / The Friends and Enemies Of Modern Music” foi o último álbum gravado em estúdio.



O fim do Smashing Pumpkins, entretanto, não significava que o mundo do rock iria perder a criatividade e o poder das canções de um dos maiores grupos da década de 90.

Os altos e baixos da carreira do quarteto de Chicago deixam o fã com uma certeza: o líder Billy Corgan não vai abandonar a música tão cedo.

Toda banda que se preze precisa acabar até o quarto álbum de estúdio.

Caso este prazo de validade não seja respeitado, corre-se o grande risco de esgotar a criatividade e cair na repetição - e não há nada pior no mundo do rock do que se transformar em autoparódia.

Nirvana, Pixies, Smiths...

É só fazer uma rápida brainstorm para ver que algumas das últimas melhores bandas do universo souberam a hora certa de parar e ficar intocadas para sempre no coração dos fãs.



O Smashing Pumpkins acabou entrando para este seleto grupo de maiorais.

Parcela desta decisão veio da própria situação atual da música norte-americana.

Com as gravadoras não mais interessadas pelo alternativo e o amplo domínio do rap e do R&B no mercado fonográfico, o rock da terra do Tio Sam parece estar na UTI.

Há a facção infestada de anabolizantes e testosterona em estado bruto (leia-se Korn, Limp Bizkit, Rage Against The Machine e afins), pálidas fotocópias (Matchbox 20, Blink 182, Wallflowers) ou ainda nomes com gosto de chuchu (Hootie And The Blowfish, Dave Matthews Band).

Por outro lado, o mundo pop recheia a programação da MTV com grupos e artistas voltados única e exclusivamente para a libido dos adolescentes (Backstreet Boys, Christina Aguilera, Britney Spears, ‘N Sync, Five, Spice Girls, Hanson).

“Da forma que a cultura está, é difícil ficar tentando lutar contra as Britneys”, alfinetou o abóbora-mor.


A separação dos Smashing Pumpkins servirá apenas como oficialização das suspeitas de que a banda era personificada por Billy Corgan.

Se parar com todas as afetações, ele deverá se reconciliar com as boas inspirações e talvez retome a veia da barulheira desenfreada perdida no começo da década.

Também é muito provável que leve consigo o amigo e fiel escudeiro Jimmy Chamberlin, a quem não teve dúvidas de aplicar o castigo do afastamento durante o tempo de reabilitação do vício.

O japoca Iha gravará outros álbuns-solo para aliar o lado de guitarrista técnico e eficiente às facetas de compositor e vocalista, esmagadas durante as atividades do grupo.

Melissa se reintegrará ao Hole quando Courtney Love estiver com saudades dos palcos e estúdios de gravação.

E D’Arcy, casada com o baterista Kerry Brown, do Catherine, insistirá em voltar a percorrer caminhos mais alternativos e independentes.

Se tudo isso se dará conforme está escrito, só o tempo poderá dizer.

Mas este mesmo tempo, sábio senhor da razão, foi implacável em imortalizar o Smashing Pumpkins como um dos maiores nomes do rock’n’roll neste fim de século.

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